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[+] entrevista
"Livros são um refúgio contra a violência"
DA REPORTAGEM LOCAL
A professora de literatura
e cinema latino-americanos
Ángela Pérez Mejía, que foi
professora da Universidade
Brandeis, em Boston, dirige a
Biblioteca Luis Ángel Arango, a mais freqüentada da
América Latina. Dependem
da BLAA outras 16 bibliotecas pela Colômbia, mais uma
sala de concertos, um museu
numismático e a Coleção Botero, doada pelo famoso pintor colombiano, com quadros de Picasso, Klee, Bacon
e Miró, entre outros, colecionados pelo mestre dos gordinhos nas últimas quatro décadas. Em entrevista à Folha, Pérez fala dos porquês
de Bogotá se tornar um símbolo da democratização da
leitura.
(RJL)
FOLHA - A senhora sente que as
bibliotecas podem mudar a imagem da Colômbia, tão associada
à violência?
ÁNGELA PÉREZ MEJÍA - Não tenho provas científicas, mas
não tenho dúvidas de que as
bibliotecas ajudaram a mudar Bogotá. Nós, colombianos, temos vergonha de ser
olhados no mundo como um
país violento. Onde o futuro
é tão incerto, a literatura vira
um refúgio contra a violência, ela te oferece espaços para pensar que você pode mudar seu país. Nós nascemos
na escassez, somos um país
pobre. E nos surpreendemos
em como a cultura pode mudar nossa realidade.
FOLHA - Em São Paulo, os grandes centros de convivência são os
shoppings. A senhora falou que,
em Bogotá, os shoppings não
conseguem tirar público das bibliotecas. Como é possível?
PÉREZ - O espaço público em
Bogotá é precário. As bibliotecas foram pensadas como
espaço público comunitário.
A arquitetura não é apenas
para ler, é para se encontrar.
Há muita luz, muito lugar
confortável para ler. Pensamos em comunidades, não
em indivíduos. É diferente
das bibliotecas americanas.
Claro que temos espaços silenciosos para estudar, mas
queremos espaços que promovam encontros.
Investimos em arquitetura de qualidade, prédios que
dão status ao ato de ler. Não
são de portas fechadas. Elas
são cercadas por espaços culturais, com que dialogam.
FOLHA - No Brasil, bibliotecas
públicas são mais usadas para
trabalhos escolares. Como transformá-las em centros culturais?
PÉREZ - Nosso objetivo tem
sido de desescolarizá-las. Ler
não porque é obrigação, mas
pelo prazer, porque ler é divertido. Há programação de
arte, de música. Bibliotecas
sem orçamento para renovar
suas coleções ou que respondem às necessidades de seus
leitores perdem público.
Quando há espaços públicos
bons, as pessoas vão. Visitei o
Centro Cultural São Paulo e
estava cheio.
FOLHA - A BLAA foi fundada em
1958. Mas só nos últimos anos
houve essa febre pelos livros.
Quando houve a mudança?
PÉREZ - O país passou por
programas de alfabetização
muito bem-sucedidos nas últimas décadas. Temos 5% de
analfabetos, um dos menores índices da região. Mas a
resposta à mudança se chama continuidade. Não há políticas culturais que funcionem a curto prazo. O Banco
de la República, que mantém
a BLAA, é constante em seus
investimentos e criou um
público fiel. Sou a quarta diretora da BLAA, que tem 48
anos de existência. Meus antecessores ficaram, em média, mais de 15 anos no cargo.
Os governos municipais
mantiveram a prioridade das
bibliotecas nos últimos 12
anos, mesmo com prefeitos
de partidos diferentes.
A BLAA, que não é municipal, colaborou para essa mudança, dando consultoria aos
diferentes governos. Forças
politicas distintas têm se
unido em torno das bibliotecas do país.
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