São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2008

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Zé do Caixão aterroriza em Paulínia

Escrito há 40 anos e concluído semana passada, "Encarnação do Demônio" tem primeira exibição pública em festival paulista

Público quase lotou os 1.350 lugares do teatro e, mesmo com a desistência de 74 pessoas, aplaudiu Mojica duas vezes ao fim da sessão



José Mojica Marins, como Zé do Caixão, e Guta Ruiz em cena de "Encarnação do Demônio", filme que encerra trilogia e tem estréia em circuito prevista para 8/8


SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A PAULÍNIA (SP)

José Mojica Marins, autor e intérprete do personagem Zé do Caixão, não permitiu que o tempo fizesse seu trabalho de coveiro. Escrito em 1966, o roteiro do filme "Encarnação do Demônio" permaneceu irrealizado por mais de 40 anos, mas Mojica o manteve insepulto.
Anteontem, quando o filme -que foi concluído na semana passada e tem estréia nas salas prevista para 8 de agosto- teve a primeira exibição pública, em competição no 1º Festival Paulínia de Cinema, Mojica desenterrou da saga das filmagens os episódios mais marcantes.
Vestido como Zé do Caixão, o diretor cumprimentou o público que quase lotava os 1.350 lugares do Theatro Municipal de Paulínia, com a frase: "Hoje não é dia de praga. É dia de parabéns a Paulínia. O cinemão precisa de um evento como este".
Cinemão é como Mojica, hoje considerado um mestre do horror, nomeia os filmes de inclinação popular, independentemente de seu gênero. O diretor lembrou que a popularidade alcançada por Zé do Caixão nos anos 60 conviveu com a reprovação de boa parte dos críticos, que chamou de pretensos "doutores do povo".
"Encarnação do Demônio" é dedicado a um cineasta, Rogério Sganzerla, e a um crítico, Jairo Ferreira (ambos mortos), que apontaram genialidade na obra de Mojica.
O cineasta disse que, "na sociedade vítima da aculturação", foi "perseguido por todos". Citou que "as igrejas" encararam Zé do Caixão não como um personagem, mas como "o próprio demônio" e disse ter pago "muito caro" por suas escolhas.
Mojica lembrou as duas tentativas anteriores de filmar "Encarnação do Demônio", frustradas pela morte repentina dos produtores, e agradeceu especialmente o empenho de Paulo Sacramento (Olhos de Cão) e Caio e Fabiano Gullane (Gullane Filmes), seus atuais produtores. Em referência ao prêmio de R$ 1 milhão que recebeu do Ministério da Cultura, Mojica disse que "o próprio Lula acabou dando grana" para o filme, feito com R$ 1,8 milhão.
Antes de deixar o palco, o diretor advertiu: "A continuação vem no seu pesadelo". Nem todos quiseram ver até o fim. A Folha contou 74 espectadores que abandonaram a sessão.
Os que ficaram aplaudiram duas vezes em cena aberta a performance de Mojica como Zé do Caixão. Em "Encarnação do Demônio", Josefel Zanatas (Zé do Caixão) deixa a prisão, após 40 anos, e reinicia sua obsessiva e horripilante busca para gerar um herdeiro perfeito com a "mulher superior".
Assombrado pelos crimes do passado, Zé do Caixão vê fantasmas por todos os lados, expediente que permitiu a inclusão de cenas dos longas "À Meia-noite Levarei sua Alma" (1964) e "Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver" (1967).
Com "Encarnação do Demônio", a trilogia de Zé do Caixão finalmente se completa.


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