São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 2008 |
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Crítica/"Pequenas Histórias" Diretor honra tradição do cinema "rural" JOSÉ GERALDO COUTO COLUNISTA DA FOLHA
Depois de trafegar pela
"grande história" (ditadura militar, guerrilha, tortura) em "Batismo de
Sangue", o diretor Helvécio
Ratton volta seu foco para um
punhado de "causos" populares, saborosas narrativas típicas da tradição oral.
Em "Pequenas Histórias",
Ratton acerta contas, por um
lado, com suas origens de garoto do interior (ele é mineiro de
Divinópolis).
Além disso, revisita e homenageia toda uma linhagem "rural" do cinema brasileiro, que
vem do pioneiro Humberto
Mauro e passa pelo Rodolfo
Nanni de "O Saci"; pelas comédias de Mazzaropi, por "A Marvada Carne", de André Klotzel;
por um par de filmes de Walter
Lima Jr. etc.
Uma bordadeira (Marieta
Severo, urbana e carioca demais para o papel) alinhava -literalmente- as histórias que
vão surgindo na tela.
Numa delas, um pescador
(Mauricio Tizumba) se casa
com a fabulosa Iara (Patrícia
Pillar). Noutra, um coroinha
(Constantin de Tugny) se vê às
voltas com uma procissão de
mortos. Na terceira, um Papai
Noel de loja (Paulo José) passa
a noite de Natal entre moradores de rua.
Mas o episódio mais bem-sucedido é o último, que narra as
peripécias do obtuso Zé Burraldo (Gero Camilo), uma espécie
de pícaro às avessas, tapeado
por todo mundo.
O filme parece atingir a medida exata de lirismo e humor
buscada por Ratton na passagem em que Zé Burraldo, chamado para fazer uma ponta numa peça mambembe, subverte
todo o espetáculo com toda a
sua parvoíce.
A cena em que a peça transcorre em primeiro plano e vemos Zé Burraldo ao fundo, nos
bastidores, é um momento luminoso, graças ao uso eficaz da
profundidade de campo e à inspiração desse esplêndido ator
que é Gero Camilo.
No mais, "Pequenas Histórias" é um filme que busca, e geralmente encontra, a sinceridade e a transparência condizentes com a tradição a que se filia.
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