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GRAMADO
Diretor fala sobre novos projetos e afirma que conseguir boas histórias é mais difícil que obter financiamento
Jorge Furtado apresenta seu oitavo longa
AMIR LABAKI
enviado especial a Gramado
O diretor e roteirista Jorge Furtado é uma das revelações desses 25
anos de Festival de Gramado. Seus
oito curtas foram aqui lançados.
Dois marcaram época.
"O Dia Em Que Dorival Encarou
a Guarda", co-dirigido por José
Pedro Goulart, foi um dos vencedores da safra de 1986 que marcou
o início da "primavera" dos curtas brasileiros. Nada que se compare ao impacto de "Ilha das Flores". Estrondosamente aplaudido
em 1989, colecionou prêmios e se
tornou em 1995 um dos cem curtas
do século no festival francês de
Clermont-Ferrand.
Inserido dentro do núcleo Guel
Arraes da Rede Globo, Furtado
apresentou em Gramado seu oitavo curta, "Angelo Anda Sumido". O cineasta concedeu à Folha
a entrevista abaixo.
Folha - A apresentação do
CD-ROM "Trajetória do Curta-Metragem Brasileiro: Filmografia
1986-1996", dentro do próximo
Festival Internacional de Curtas de
São Paulo, convida ao balanço da
chamada "primavera dos curtas".
Como você vê hoje o conjunto daquela produção?
Jorge Furtado - Acho muito boa
por sua ousadia, inventividade
narrativa, agilidade, variação temática. Há muitos bons curtas, de
vários gêneros, de vários pontos
do país. Novos diretores, atores,
roteiristas. Novos cenários! Parece
que isso tudo começa a acontecer
com os longas. O retorno financeiro é pequeno, mas fazer curtas ainda é divertido.
Folha - Vários colegas de geração
estão estreando no longa (Beto
Brant, Carla Camuratti). E você?
Furtado - Fazer um longa deve
ser um trabalho duríssimo, e não
tão bem remunerado assim. Mostrar e manter os filmes nos cinemas é um trabalho maior ainda.
Conseguir dinheiro para fazer um
longa parece estar ficando cada vez
mais fácil. Conseguir boas histórias continua difícil.
Folha - O último episódio do
"Comédia da Vida Privada", "Anchietanos", lembra o seu antigo
projeto de longa "A Classe de
1959". Você o adaptou para a TV?
Furtado - Eu, o Carlos Gerbase e
o Giba Assis Brasil adaptamos um
roteiro que escrevemos em 1994.
As diferenças são muitas. Um programa de televisão como o "Comédia" é produzido em um mês,
gravado em quinze dias, editado
em oitenta horas e vai ao ar três
dias depois. Poucos longas levam
menos de um ano entre o início da
produção e a estréia na tela. Um
longa brasileiro de extraordinário
sucesso comercial atinge um milhão de espectadores nos cinemas.
O programa foi assistido por mais
de 20 milhões de pessoas. Um filme é um produto durável. O programa já passou. O diretor, muitas
vezes, é dono do filme. O "Comédia" é da Globo.
Folha - Surgiram notícias de que
o "Comédia" não emplaca 1998.
Você já foi informado?
Furtado - Formalmente, não.
Acho que os três anos da "Comédia" deram oportunidade para
ótimos atores e ajudaram a ampliar ainda mais o público do (Luiz
Fernando) Veríssimo. Só isso já
justifica a série.
Folha - Seu próximo projeto é rodar com o Giba Assis Brasil o documentário "O Povo e o Em Nome do
Povo". Em que a experiência com
as campanhas do PT de Porto Alegre contribuiu para o enfoque?
Furtado - Só o que está definido é
o tema, as imagens do povo na televisão. Nossas campanhas para o
PT nos deram algumas idéias. Há
um parecer de um juiz, na campanha de 1994, em que proíbe "as
pessoas do povo" de participarem
do programa eleitoral. É um material bem interessante.
Folha - E o seu novo projeto de
longa é mesmo "O Homem Que
Copiava"?
Furtado - O roteiro ainda não está pronto. É a história de um garoto que opera uma máquina xerox
numa banca de revistas de subúrbio. Sua única diversão é ler os textos que copia. Ele desenvolveu
uma estranha cultura geral: sabe
muito pouco sobre muitas coisas.
O crítico Amir Labaki viajou a convite da organização do festival
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