São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2000


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Autor morto em 99 ganha mostra e tem três peças montadas
Excluídos inventariam legado de Plínio Marcos

Lalo de Almeida/Folha Imagem
À esquerda, o ator Cláudio Mamberti, que é dirigido pelo irmão Sérgio (à dir.) em "O Homem do Caminho", monólogo inédito que é a última peça e testamento artístico do dramaturgo Plínio Marcos


FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Prostitutas, imigrantes, drogados e outros excluídos lotam os palcos de São Paulo neste segundo semestre. São os personagens de Plínio Marcos (1935-1999) que retornam com três encenações e uma grande exposição retrospectiva sobre a vida do dramaturgo.
"O movimento teatral anda muito careta, voltado ao mercado, e Plínio representa a grande fantasia do teatro", disse à Folha o ator e diretor Sérgio Mamberti, justificando as remontagens.
Ele dirige "O Homem do Caminho", um monólogo inédito interpretado por seu irmão Cláudio. A peça, último texto de Plínio Marcos para teatro, celebra os 40 anos de carreira dos Mamberti e inclui também a participação do filho de Sérgio, Carlos, como produtor.
Os irmãos, também santistas, eram amigos de Plínio desde a adolescência. "Temos uma identificação total com o texto, que é também uma espécie de testamento do Plínio", dizem.
Outra encenação para este semestre é "O Abajur Lilás", peça censurada e considerada pelo diretor Sérgio Ferrara uma "metáfora da ditadura". "Vou transformar a montagem numa bandeira da marginalidade que os artistas vivem", diz Ferrara. Ester Góes, Walter Breda, Iara Jamra e Magali Biff estão na montagem.
Em 99, Ferrara montou "Barrela", outra obra de Plínio, e, junto ao dramaturgo, já havia programado a remontagem de "O Abajur" para este ano. "O texto representa bem o fascínio pelo poder. Mesmo os mais marginais acabam pisando em quem está abaixo", diz Ester Góes.
A terceira montagem é "Dois Perdidos numa Noite Suja", que será dirigida por Tanah Corrêa.
Desde 99, Corrêa acertava com seu filho Alexandre Borges, Plínio e Vera Artaxo, viúva do dramaturgo, a organização de uma trilogia com "Dois Perdidos", "O Homem do Caminho" e "O Bote da Loba". Com a morte de Plínio, o projeto foi adiado. Este ano, Corrêa inaugurou o teatro Plínio Marcos em São Paulo e agora viabiliza a primeira encenação. Ela estréia a peça no Rio, em novembro, vem a São Paulo em dezembro e será encenada no Porto (Portugal) em 2001.
Corrêa é também o curador da exposição "Plínio Marcos: Um Grito de Liberdade", que acontece em novembro no Memorial da América Latina.
"O governador Mário Covas liberou a verba com entusiasmo para organizar a exposição, os dois eram amigos desde Santos", disse Lulu Librandi, assessora da presidência do Memorial.
Corrêa convidou J.C. Serroni para realizar a cenografia da mostra. "Vamos contar a vida inteira do Plínio, desde suas atividades de palhaço em Santos até sua fase esotérica", conta. Também serão exibidos os filmes "Navalha na Carne" e "Dois Perdidos".
"Plínio sempre mostrou o que todo mundo tem medo de encarar: a cara feia do país e, neste momento, precisamos falar disso urgentemente", diz Ester Góes. Haja palco para tanto.


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