São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2000


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"ESTORVO"
Longa-metragem baseado em romance de Chico Buarque, vencedor de dois prêmios em Gramado, estréia em SP
"Filme é para o público pensar", diz Guerra

FERNANDA CIRENZA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ruy Guerra, diretor de "Estorvo", que estréia hoje em São Paulo, define seu mais recente filme como um cult que não serve para pessoas desapercebidas.
"Estorvo", baseado no livro homônimo de Chico Buarque, foi um dos representantes brasileiros na mostra do 53º Festival de Cinema de Cannes. Mas, para o diretor, o filme não "servia" para participar da competição francesa.
Vencedor de dois prêmios no Festival de Gramado (trilha sonora e fotografia), custou cerca de R$ 3 milhões e seu roteiro estava pronto desde 1994. Leia os principais trechos da entrevista que Ruy Guerra concedeu à Folha.

Folha - Como definir "Estorvo"?
Ruy Guerra -
É um filme cult, que não serve para pessoas desapercebidas. É para um público que sabe o que vai ver, que o filme tem propostas e que vai ter de pensar e se despojar de certas idéias para se integrar à história. Não é um filme para público de fim-de-semana.

Folha - Qual é a sua expectativa com relação à entrada do filme no circuito comercial?
Guerra -
Não tenho expectativas de números, até porque os filmes brasileiros que têm vocação para o público têm desastres terríveis de bilheteria. Espero que, a médio prazo, "Estorvo" encontre seu público. Estou surpreso por receber elogios do público jovem. Pensava que o filme agradaria a quem tivesse cultura cinematográfica, uma certa reflexão da atualidade.

Folha - Você é veterano em Cannes. "Estorvo" é seu terceiro filme a participar do festival francês.
Guerra -
Os outros filmes tinham mais possibilidades de concorrer do que "Estorvo". "Erendira" (1983) é um filme de realismo mágico, tem o nome de Gabriel García Márquez, tem humor e é bonito. Cabia bem em Cannes. "Kuarup" (1988) entrou porque é uma história meio épica. Eu sempre achei que "Estorvo" não servia para Cannes.

Folha - Por que "Estorvo" não é um filme para Cannes?
Guerra -
Cannes está voltado para as grandes produções, com algumas pequenas atenções para as cinematografias nacionais, mas o interesse dos franceses é pela questão do exótico. Foi assim com o cinema novo, que era uma novidade. O Brasil não é mais novidade no cinema mundial. "Estorvo" era um estranho no ninho.

Folha - Mas o que você esperava?
Guerra -
Esperava uma possibilidade de aceitação crítica ou algum interesse despertado pelo filme. E, ao contrário do que noticiaram, o filme, na exibição oficial, foi calorosamente aplaudido. As pessoas não abandonaram a sala. O filme foi muito bem recebido, mas não foi ovacionado como "Eu Tu Eles", de Andrucha Waddington, que recebeu aplausos de minutos e minutos.

Folha - E em Gramado?
Guerra -
"Estorvo" recebeu dois prêmios, de trilha sonora e fotografia.

Folha - O livro do Chico Buarque foi lançado em 1991. Por que o filme só aconteceu agora?
Guerra -
Porque levou todo esse tempo para eu poder reunir dinheiro. O roteiro estava pronto desde 1994.

Folha - Quanto tempo levou a filmagem?
Guerra -
A filmagem foi feita em três tempos, mas, no total, foram umas dez semanas.

Folha - Quanto custou o filme?
Guerra -
Pelos dados oficiais, perto de R$ 3 milhões.

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