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"ESTORVO"
Longa-metragem baseado em romance de Chico Buarque, vencedor de dois prêmios em Gramado, estréia em SP
"Filme é para o público pensar", diz Guerra
FERNANDA CIRENZA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ruy Guerra, diretor de "Estorvo", que estréia hoje em São Paulo, define seu mais recente filme
como um cult que não serve para
pessoas desapercebidas.
"Estorvo", baseado no livro homônimo de Chico Buarque, foi
um dos representantes brasileiros
na mostra do 53º Festival de Cinema de Cannes. Mas, para o diretor, o filme não "servia" para participar da competição francesa.
Vencedor de dois prêmios no
Festival de Gramado (trilha sonora e fotografia), custou cerca de
R$ 3 milhões e seu roteiro estava
pronto desde 1994. Leia os principais trechos da entrevista que Ruy
Guerra concedeu à Folha.
Folha - Como definir "Estorvo"?
Ruy Guerra - É um filme cult, que
não serve para pessoas desapercebidas. É para um público que sabe
o que vai ver, que o filme tem propostas e que vai ter de pensar e se
despojar de certas idéias para se
integrar à história. Não é um filme
para público de fim-de-semana.
Folha - Qual é a sua expectativa
com relação à entrada do filme no
circuito comercial?
Guerra - Não tenho expectativas
de números, até porque os filmes
brasileiros que têm vocação para
o público têm desastres terríveis
de bilheteria. Espero que, a médio
prazo, "Estorvo" encontre seu público. Estou surpreso por receber
elogios do público jovem. Pensava que o filme agradaria a quem
tivesse cultura cinematográfica,
uma certa reflexão da atualidade.
Folha - Você é veterano em Cannes. "Estorvo" é seu terceiro filme
a participar do festival francês.
Guerra - Os outros filmes tinham
mais possibilidades de concorrer
do que "Estorvo". "Erendira"
(1983) é um filme de realismo mágico, tem o nome de Gabriel García Márquez, tem humor e é bonito. Cabia bem em Cannes. "Kuarup" (1988) entrou porque é uma
história meio épica. Eu sempre
achei que "Estorvo" não servia
para Cannes.
Folha - Por que "Estorvo" não é
um filme para Cannes?
Guerra - Cannes está voltado para as grandes produções, com algumas pequenas atenções para as
cinematografias nacionais, mas o
interesse dos franceses é pela
questão do exótico. Foi assim
com o cinema novo, que era uma
novidade. O Brasil não é mais novidade no cinema mundial. "Estorvo" era um estranho no ninho.
Folha - Mas o que você esperava?
Guerra - Esperava uma possibilidade de aceitação crítica ou algum interesse despertado pelo filme. E, ao contrário do que noticiaram, o filme, na exibição oficial, foi calorosamente aplaudido.
As pessoas não abandonaram a
sala. O filme foi muito bem recebido, mas não foi ovacionado como "Eu Tu Eles", de Andrucha
Waddington, que recebeu aplausos de minutos e minutos.
Folha - E em Gramado?
Guerra - "Estorvo" recebeu dois
prêmios, de trilha sonora e fotografia.
Folha - O livro do Chico Buarque
foi lançado em 1991. Por que o filme só aconteceu agora?
Guerra - Porque levou todo esse
tempo para eu poder reunir dinheiro. O roteiro estava pronto
desde 1994.
Folha - Quanto tempo levou a filmagem?
Guerra - A filmagem foi feita em
três tempos, mas, no total, foram
umas dez semanas.
Folha - Quanto custou o filme?
Guerra - Pelos dados oficiais,
perto de R$ 3 milhões.
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