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LITERATURA
Paulo Coelho diz que será candidato à ABL em quatro anos; autor lança novo livro e diz que é de "vanguarda"
"Nunca cogitei a vaga de Jorge Amado"
RODRIGO MOURA
DA REDAÇÃO
"Independente de quem seja
candidato, eu nunca cogitei entrar
na vaga de Jorge Amado", diz o
escritor carioca Paulo Coelho, sobre os rumores que surgiram em
torno de sua candidatura à Academia Brasileira de Letras desde a
morte, nesta semana, do escritor
baiano -ocupante da cadeira 23
da casa por 40 anos.
"Isso é coisa para daqui a quatro
anos", diz Coelho, que está lançando o livro "Histórias para Pais,
Filhos e Netos". Marketing pesado envolve o lançamento do novo
livro, 15 anos depois do boom editorial que seu nome iniciou com
"Diário de um Mago".
Tomando o Dia dos Pais como
mote, "Histórias para Pais, Filhos
e Netos" chega às livrarias com R$
1 milhão investidos em promoção
-segundo a editora Globo, o
maior montante gasto para divulgar uma obra do escritor.
Como seu autor define, é uma
"coletânea" que reúne narrativas
de tradições religiosas e culturais
-persa, hindu, chinesa, zen-,
no que chama de "resgate".
Sempre acossado pela crítica,
Coelho devolve as acusações de
que faz literatura antiquada ou
restrita ao estereótipo da auto-ajuda. "É a coisa mais moderna
que existe, é a vanguarda."
Leia abaixo a entrevista com
Paulo Coelho, feita por telefone.
Folha - O sr. é candidato à vaga de
Jorge Amado na ABL?
Paulo Coelho - Em momento nenhum eu cogitei entrar para a vaga de Jorge Amado, independente
de quem seja candidato. Isso é
coisa para daqui a quatro anos.
Folha - Por que o sr. resolveu quebrar o silêncio sobre o assunto?
Coelho - Comecei a ver especulações e fiquei calado, mas elas chegaram a um ponto impossível. Dizem que os acadêmicos estão
alarmados. Não estão, porque
não há candidatura. Eles sabiam
internamente que nunca fui e
não serei candidato a essa vaga.
Folha - O sr. costuma usar esse tipo de história do seu novo livro nos
romances; aqui elas aparecem espalhadas em vários contos pequenos. O que leva a essa mudança?
Coelho - Não é uma mudança.
Na verdade, são duas coisas diferentes. O romance pode até ser
afetado por pequenas histórias,
mas ele tem uma história central,
e tudo se desenvolve a partir dali.
Folha - Você acha que esse tipo de
operação é um resgate, uma reciclagem ou uma releitura?
Coelho - É apenas um resgate. O
que você tem que fazer é o que fizeram com você, contar histórias.
E ponto final, no meu caso.
Folha - Você adapta essas histórias ou só se apropria?
Coelho - A maior parte é das tradições, 80%. E tem 20% de experiências minhas. Mas não adapto.
Folha - Como você acha que a sua
literatura se relaciona com o tempo em que ela é produzida?
Coelho - É a coisa mais moderna
que existe, é a vanguarda.
Folha - Vanguarda em que sentido?
Coelho - Tenho um estilo novo e,
por isso, bastante rejeitado. É um
estilo ainda não muito bem digerido por um sistema que manipula a dificuldade como instrumento de dominação.
Folha - Quais são suas maiores influências literárias?
Coelho - Henry Miller, Borges,
Jorge Amado e William Blake.
Folha - Você considera que faz literatura de auto-ajuda?
Coelho - Evidente que não. Os
críticos falam o que quiserem, o
negócio é que eles falem.
HISTÓRIAS PARA PAIS, FILHOS E
NETOS - De: Paulo Coelho. Ilustrações:
Christina Oiticica. Editora: Globo (tel. 0/
xx/11/3767-7486). 304 págs. R$ 35.
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