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Livros
Obra conta tragédia de príncipe louco
Historiadora reconstrói vida de d. Pedro Augusto, que sonhou com o trono, mas acabou num manicômio austríaco
"O Príncipe Maldito", que chega às livrarias no dia 20, é parte de projeto de Mary del Priore de revisitar membros da família real
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os fantasmas estão saindo
para a festa. Limpando paletós
puídos ou velhos vestidos empoeirados, os protagonistas da
história imperial brasileira estão largando a pose fixada nas
fotografias amareladas da época e se jogando na disputa por
um lugar nas concorridas bancadas das grandes livrarias.
Escrito com ambições de se
tornar um "best-seller histórico", "O Príncipe Maldito", da
historiadora Mary del Priore,
faz uso dos mesmos ingredientes da fórmula do sucesso do
gaúcho Eduardo Bueno -rigor
detalhista nas descrições, narrativa folhetinesca e apelo para
aspectos "picantes" de biografias, escândalos e intrigas.
O fato é que o protagonista
desse estudo de Priore, o tal
"príncipe maldito" do título,
presta-se perfeitamente a esse
tipo de tratamento. Dom Pedro
Augusto de Saxe e Coburgo é
um herói trágico. Filho primogênito da filha mais nova de D.
Pedro 2º -a princesa Leopoldina-, durante toda a infância o
garoto foi tratado como provável sucessor da coroa do avô.
Isso porque a irmã mais velha de sua mãe, a princesa Isabel, demorou muitos anos para
ter o primeiro filho homem.
Pedro Augusto nasceu no
Brasil, mas morou na Áustria,
terra de seu pai, até os cinco
anos. Quando sua mãe morreu,
d. Pedro 2º mandou trazer o
menino de volta ao Rio de Janeiro para que fosse educado
aqui e servisse de alternativa
para garantir a sucessão e aplacar ímpetos gananciosos.
Afinal, por um lado crescia a
desconfiança de que Isabel não
pudesse gerar o legítimo herdeiro do trono. Por outro, havia
um certo incômodo com a presença cada vez mais influente
do Conde D'Eu, marido de Isabel, junto ao imperador.
Refinado, culto, viajado e bonito, d. Pedro Augusto era
aplaudido pelas ruas. Mas seu
sonho durou pouco. Em 1875,
aos nove anos, viu sua tia Isabel
finalmente dar à luz um menino, o príncipe de Grão-Pará.
"Pedro Augusto teve de lidar
com várias perdas, primeiro a
mãe, depois a Europa. A única
coisa que o animava para viver
aqui era a perspectiva do trono.
Quando nasce o odiado primo,
tudo isso se esvai", diz Priore.
O príncipe torna-se, então,
um instrumento político na
mão de grupos republicanos
que queriam usar sua imagem
para legitimar uma transição
de sistema ainda centrada na figura de um rei. Ao mesmo tempo, a predileção de d. Pedro 2º
pelo garoto continuava alimentando suas esperanças de que
pudesse abdicar a favor dele.
"Quando d. Pedro 2º viaja à
Europa com Pedro Augusto e o
menino encanta as cortes estrangeiras, o ciúme de Isabel
cresce. Pode-se dizer que o modo como se engajou na causa
abolicionista tem a ver com o
medo de que o sobrinho lhe
usurpasse o trono", diz Priore.
Tudo foi por água abaixo depois da proclamação da República, em 1889. A família é banida e vai para o exílio. D. Pedro
Augusto ainda tenta, à distância, armar conchavos para disputar a coroa, mas sucessivos
fracassos vão minando suas esperanças e sua saúde mental.
Após uma tentativa de suicídio,
é internado num hospital psiquiátrico, onde vive mais de 40
anos. Ali morre, em 1934, aos
68 e ainda dizendo a amigos
que mantinha esperanças de virar rei do Brasil.
Priore acha que, caso houvesse um Terceiro Reinado, Pedro
Augusto daria um melhor rei
do que a tia, Isabel. "Ela seria
certamente um retrocesso, era
uma beata, enquanto ele era
moderno, culto. Certamente
defenderia valores republicanos, como a laicidade."
Documentação
"O Príncipe Maldito" é construído a partir de correspondência entre os membros da família real, grande parte dela
guardada nos arquivos do Museu Imperial, em Petrópolis.
Não se trata, porém, de um livro acadêmico. Discussões
contextuais, como o fim do Antigo Regime ou as releituras
ideológicas e historiográficas
dos acontecimentos durante o
século 19 brasileiro, não têm lugar. Privilegia-se o tratamento
literário, com várias liberdades
poéticas, do objeto em questão.
A autora, ex-professora da
USP e da PUC-Rio, afastou-se
da academia para escrever livros "para o grande público".
Morando em Teresópolis, dedica-se agora a um pacote de biografias sobre figuras monárquicas. Depois de Pedro Augusto,
será a vez da Condessa de Barral, amante de d. Pedro 2º.
O PRÍNCIPE MALDITO
Autora: Mary del Priore
Lançamento: Objetiva
Quanto: a definir (291 págs.)
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