São Paulo, sábado, 11 de agosto de 2007

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Livros

Obra conta tragédia de príncipe louco

Historiadora reconstrói vida de d. Pedro Augusto, que sonhou com o trono, mas acabou num manicômio austríaco

"O Príncipe Maldito", que chega às livrarias no dia 20, é parte de projeto de Mary del Priore de revisitar membros da família real

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os fantasmas estão saindo para a festa. Limpando paletós puídos ou velhos vestidos empoeirados, os protagonistas da história imperial brasileira estão largando a pose fixada nas fotografias amareladas da época e se jogando na disputa por um lugar nas concorridas bancadas das grandes livrarias.
Escrito com ambições de se tornar um "best-seller histórico", "O Príncipe Maldito", da historiadora Mary del Priore, faz uso dos mesmos ingredientes da fórmula do sucesso do gaúcho Eduardo Bueno -rigor detalhista nas descrições, narrativa folhetinesca e apelo para aspectos "picantes" de biografias, escândalos e intrigas.
O fato é que o protagonista desse estudo de Priore, o tal "príncipe maldito" do título, presta-se perfeitamente a esse tipo de tratamento. Dom Pedro Augusto de Saxe e Coburgo é um herói trágico. Filho primogênito da filha mais nova de D. Pedro 2º -a princesa Leopoldina-, durante toda a infância o garoto foi tratado como provável sucessor da coroa do avô.
Isso porque a irmã mais velha de sua mãe, a princesa Isabel, demorou muitos anos para ter o primeiro filho homem.
Pedro Augusto nasceu no Brasil, mas morou na Áustria, terra de seu pai, até os cinco anos. Quando sua mãe morreu, d. Pedro 2º mandou trazer o menino de volta ao Rio de Janeiro para que fosse educado aqui e servisse de alternativa para garantir a sucessão e aplacar ímpetos gananciosos.
Afinal, por um lado crescia a desconfiança de que Isabel não pudesse gerar o legítimo herdeiro do trono. Por outro, havia um certo incômodo com a presença cada vez mais influente do Conde D'Eu, marido de Isabel, junto ao imperador.
Refinado, culto, viajado e bonito, d. Pedro Augusto era aplaudido pelas ruas. Mas seu sonho durou pouco. Em 1875, aos nove anos, viu sua tia Isabel finalmente dar à luz um menino, o príncipe de Grão-Pará.
"Pedro Augusto teve de lidar com várias perdas, primeiro a mãe, depois a Europa. A única coisa que o animava para viver aqui era a perspectiva do trono.
Quando nasce o odiado primo, tudo isso se esvai", diz Priore.
O príncipe torna-se, então, um instrumento político na mão de grupos republicanos que queriam usar sua imagem para legitimar uma transição de sistema ainda centrada na figura de um rei. Ao mesmo tempo, a predileção de d. Pedro 2º pelo garoto continuava alimentando suas esperanças de que pudesse abdicar a favor dele.
"Quando d. Pedro 2º viaja à Europa com Pedro Augusto e o menino encanta as cortes estrangeiras, o ciúme de Isabel cresce. Pode-se dizer que o modo como se engajou na causa abolicionista tem a ver com o medo de que o sobrinho lhe usurpasse o trono", diz Priore.
Tudo foi por água abaixo depois da proclamação da República, em 1889. A família é banida e vai para o exílio. D. Pedro Augusto ainda tenta, à distância, armar conchavos para disputar a coroa, mas sucessivos fracassos vão minando suas esperanças e sua saúde mental.
Após uma tentativa de suicídio, é internado num hospital psiquiátrico, onde vive mais de 40 anos. Ali morre, em 1934, aos 68 e ainda dizendo a amigos que mantinha esperanças de virar rei do Brasil.
Priore acha que, caso houvesse um Terceiro Reinado, Pedro Augusto daria um melhor rei do que a tia, Isabel. "Ela seria certamente um retrocesso, era uma beata, enquanto ele era moderno, culto. Certamente defenderia valores republicanos, como a laicidade."

Documentação
"O Príncipe Maldito" é construído a partir de correspondência entre os membros da família real, grande parte dela guardada nos arquivos do Museu Imperial, em Petrópolis.
Não se trata, porém, de um livro acadêmico. Discussões contextuais, como o fim do Antigo Regime ou as releituras ideológicas e historiográficas dos acontecimentos durante o século 19 brasileiro, não têm lugar. Privilegia-se o tratamento literário, com várias liberdades poéticas, do objeto em questão.
A autora, ex-professora da USP e da PUC-Rio, afastou-se da academia para escrever livros "para o grande público". Morando em Teresópolis, dedica-se agora a um pacote de biografias sobre figuras monárquicas. Depois de Pedro Augusto, será a vez da Condessa de Barral, amante de d. Pedro 2º.


O PRÍNCIPE MALDITO
Autora:
Mary del Priore
Lançamento: Objetiva
Quanto: a definir (291 págs.)


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