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SOM DAS GERAIS
Pop de Minas renega o clube da esquina
ALEXANDRE LOURES
enviado a especial Belo Horizonte
Depois de ganhar notoriedade
com o clube da esquina -movimento musical dos anos 70 que
notabilizou artistas como Milton
Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges e Flávio Venturini- e de passar os anos 80 quase em branco,
Minas Gerais volta a projetar sua
música nacionalmente.
Quem pensa que o responsável
pela retomada é o revival de Milton
Nascimento e cia., a exemplo do
que acontece com outros músicos
como Zé Ramalho, está enganado.
Pelo menos para as novas caras
da música mineira, o clube da esquina está sepultado. E faz tempo.
Bandas como J. Quest, Virna Lisi, Pato Fu e Tianastácia que, juntamente com o pioneiro Skank,
formam o novo panorama do pop
das Alterosas, tiveram nos amigos
de Santa Tereza -bairro onde o
famoso clube se reunia- uma verdadeira "antiinfluência" musical.
"Se eles falavam em roupa no
varal e em janela lateral, nós queríamos falar de Ferrari", afirma
John, guitarrista do Pato Fu.
Segundo ele, as músicas do clube
da esquina se tornaram uma trilha
sonora do Estado e acabaram por
estigmatizar toda a criação musical mineira.
Para Samuel Rosa, vocalista do
Skank, esse rótulo prejudicou as
bandas de Minas nos anos 80,
quando houve o estouro do rock
pop brasileiro liderado por Blitz,
Lobão e Paralamas do Sucesso.
"Todo grupo que surgia em Belo
Horizonte tinha que carregar esse
preconceito nas costas", afirma.
E, nessa época, todas as pessoas
que hoje compõem o cenário pop
mineiro já estavam na estrada.
John, do Pato Fu, tinha uma banda chamada Sexo Explícito; César
e Ronaldo Gino, do Virna Lisi,
eram do conjunto O Saída; Samuel
Rosa e Henrique Portugal, do
Skank, tocavam no Pouso Alto.
"Existia por aqui uma cena underground muito maior do que
agora, mas acontece que ninguém
estourou", afirma César Maurício,
vocalista e letrista do Virna Lisi.
Parte dessa realidade teria sido
causada pela incapacidade de a indústria fonográfica assimilar estilos diferentes vindos da terra do
"Coração de Estudante".
"É algo como acontece hoje com
o axé na Bahia", lembra Igor Rockford, guitarrista do grupo Os Baratas Tontas (leia texto abaixo).
Binômio
Mas, se por um lado os mineiros
tentam esquecer o que chamam de
década perdida, por outro parte da
força das novas bandas é creditada
ao fracasso dos anos 80.
Segundo John, que por dez anos
foi da banda Sexo Explícito, a experiência que adquiriu nos 80 foi
fundamental para o sucesso atual.
Marco Túlio, do J. Quest, diz que
a "estrada" o ajudou a amadurecer e a criar estrutura técnica e pessoal para atingir o nível atual.
Juntando em um caldeirão fatores como o estigma criado pela velha guarda e a experiência adquirida na década passada, pode-se entender a música mineira de hoje.
"Existia em Minas uma concentração muito grande de músicos
experientes, mas faltava alguém
fazer sucesso para as pessoas perceberem", diz Samuel.
O pontapé inicial coube ao próprio Skank, que lançou, em 92, um
disco independente pelo selo
Chaos, da Sony, com 3.000 cópias
de tiragem inicial. Relançado um
ano depois vendeu 150 mil.
É opinião comum que o "fator
Skank" abriu os olhos do Brasil para Belo Horizonte e proporcionou
o aparecimento de outros grupos
musicais vindos de lá.
O Pato Fu, por exemplo, já lançou três discos, com 50 mil cópias
vendidas cada. Já emplacou hits
dos três CDs e tem quase uma dezena de fãs-clubes no país.
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