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ENTREVISTA
Vocalista da banda californiana que se apresenta hoje em São Paulo diz que não pretende ser fácil
Offspring quer fazer as pessoas pensarem
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
A banda californiana Offspring
faz hoje, em São Paulo, seu primeiro show no Brasil. No cardápio, o
punk rock rápido dos discos "Ixnay on the Hombre", o mais recente da banda, e "Smash", que
inclui os hits "Come Out and
Play" e "Self Esteem".
E, de brinde, mais uma música
do Nirvana, adiantou o vocalista
Dexter Holland, 31, em entrevista
à Folha por telefone, dos EUA.
Para os shows no Olympia (hoje
e amanhã) e no Metropolitan, no
Rio (dia 14), a banda promete
energia. "Nossa música é enérgica, tocamos rápido e alto. Não
queremos que as pessoas fiquem
sentadas, bem-comportadas",
afirmou.
Mas não é só com guitarras que o
Offspring tenta instigar seu público. Basta entrar no site oficial da
banda na Internet (www.offspring.com) para ter uma surpresa: no lugar de biografias e discografia, dados sobre grupos de
direita dos EUA e o Anarchist
Cookbook, um livro anarquista
com receitas das mais diferentes
bombas (leia texto nesta página).
Segundo Holland, tudo isso tem
a ver com rebeldia punk, liberdade
de expressão e uma tentativa de
não ser fácil ou direto, mas "fazer
as pessoas pensarem". Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha - O que levou vocês a fazerem a página na Internet?
Dexter Holland - Queríamos
que a página fosse original, única,
e escolhemos o tema porque combina com a banda. No geral, música punk é rebelde. Nós só tentamos
juntar idéias e estilo. Não sabíamos onde ia dar. Mas essa é a ironia de tudo: se você não concordar
com os termos que aparecem logo
de cara, é jogado imediatamente à
página da Coalizão Cristã, o que é
uma espécie de piada com as pessoas de direita.
Já o Anarchist Cookbook é considerado radical e perigoso por algumas pessoas. Mas leia a introdução: diz apenas que as pessoas não
podem ter negado seu direito de
acesso às informações. Ninguém
pode impedir as pessoas de conhecerem o livro com a desculpa de
que esse conhecimento será usado
de forma errada. É o último estágio
da liberdade de expressão.
Folha - Como isso se liga ao disco
"Ixnay on the Hombre"?
Holland - Queria que o disco se
parecesse com um show, uma experiência que tivesse começo,
meio e fim. O site tem essa mesma
preocupação. Quis ironizar o que
acontece nos EUA, onde todo
mundo processa todo mundo por
coisas tolas. E também falar de
censura. Recebemos várias cartas
iradas com nossas letras, de pessoas que não nos entenderam.
Folha - Mas uma música como
"Cool to Hate" (legal odiar) não é
facilmente mal entendida?
Holland - Se você olhar o contexto, nossas outras letras, o tipo
de banda que somos, saberá que
não deve levar essa música a sério.
Apesar de cantar em primeira pessoa, falo de algo que vejo cada vez
mais ao meu redor. As pessoas
acham bacana dizer que odeiam
coisas, como se elas não fossem
boas o suficiente. E quase se sentem melhor por isso. Sei que posso
ser mal interpretado, mas não
quero ser muito fácil. O fato de as
coisas terem várias interpretações
faz as pessoas pensarem.
Folha - O que você pretende com
sua música?
Holland - Tento escrever sobre
a individualidade -um dos grandes temas na nossa música-, sobre não levar as coisas muito a sério e talvez expressar coisas que as
pessoas sentem mas ainda não disseram.
Antes de escrever "Self Esteem",
por exemplo, não conhecia nenhuma música onde um cara dissesse que tem baixa estima. Isso
era coisa de garotas.
Folha - O que é ser uma banda
punk nos anos 90?
Holland - Não tenho muita certeza de como responder a essa pergunta, depende de como você define uma banda punk. Nós fazemos
muitas coisas que normalmente
não são associadas a bandas punk,
como vender muitos discos. Ao
mesmo tempo, somos orgulhosos
de nossas raízes, bandas como
Dead Kennedys, Ramones, TSOL.
Folha - Vocês foram criticados
por terem assinado com uma gravadora multinacional, a Sony.
Holland - Eu preferiria ter ficado num selo independente. O fato
é que não me dava bem com o proprietário do Epitaph. Somos muito
amigos das outras bandas do selo,
NoFX, Rancid, mas tivemos que
sair. Escolhemos o selo Columbia,
da Sony, porque gostamos das
bandas que eles têm, como o Rage
Against the Machine e Pearl Jam.
São grupos que precisam de liberdade para fazer suas músicas.
Folha - Vocês estão fazendo
shows beneficentes com Jello Biafra, ex-Dead Kennedys.
Holland - Sempre fui um grande fã do Dead Kennedys, escrevia
cartas de fã para Biafra quando era
mais jovem. E ele sempre respondia. Ele tem esse projeto de uma
fundação beneficente onde várias
bandas podem contribuir e a renda vai para diversas causas, mas teve uma certa dificuldade em encontrar grupos. Nós resolvemos
participar. Doamos quatro shows
nossos para a fundação, com renda para a Anistia Internacional,
uma organização que trata de pessoas com Aids em Los Angeles e
dois grupos menores.
Show: Offspring
Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, Lapa, tel.
011/252-6255)
Quando: hoje e amanhã, às 21h30
Quanto: R$ 28 (pista), R$ 40 (setor C) e R$
50 (camarote)
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