São Paulo, Quarta-feira, 11 de Agosto de 1999
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Pesquisa revela verdadeira história do mito Almeida Jr.

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
de Paris


Homem pobre, venceu com o próprio esforço. Seu pai era um pintor de parede, ele, um dos maiores artistas do Brasil no final do século 19. Muito bonito, galanteador e libertino, conquistava todas as mulheres que desejava -inclusive a prima, por quem acabou morrendo. De quem estamos falando? De José Ferraz de Almeida Jr. (1850-1899) -ou melhor, do mito Almeida Jr.
Um grupo de pesquisadores brasileiros quer aproveitar o centenário da morte do pintor para derrubar alguns dos mitos em torno dele. O primeiro é que sua família tinha poucos recursos.
Embora não fosse filho de um barão do café, Almeida Jr. não nasceu numa família carente. A principal atividade de seu pai era a de fiscal da Câmara Municipal de Itu, o que garantia prestígio e salário suficiente na época.
Integrado pelo coordenador do Museu Republicano da USP, Jonas Soares de Souza, pelo pesquisador Jean-Baptiste Duvet e pelo fotógrafo Luiz Arthur Gaspareto, o grupo de pesquisadores prepara um banco de dados digital, este coordenado por Maria Cecília França Lourenço (FAU-USP), e uma série de atividades para recuperar a história de Almeida Jr. Estão, por exemplo, sugerindo aos Correios que lancem uma série de selos para marcar o centenário.
Outro pesquisador do grupo, o jornalista e editor Oséas Singh Jr., prepara uma biografia romanceada de Almeida Jr, que receberá o nome de uma das telas do pintor: "O Tempo Cobrindo a Beleza". Singh Jr. esteve em Paris, em busca de documentos para sua pesquisa, quando falou à Folha. Encontrou informações sobre a passagem de Almeida Jr. por Paris, onde estudou na Escola de Belas-Artes. Entre elas, humilhações por que passavam os calouros da instituição.
"Esse era um período que os biógrafos de Almeida Jr. evitavam. A passagem por Paris, fundamental para o desenvolvimento do artista, era sempre deixada de lado", afirma Singh Jr.
O pintor partiu para Paris em 1876, financiado pelo imperador d. Pedro 2º, com uma bolsa de estudos de 300 francos.
Passou a trabalhar no ateliê do pintor Alexandre Cabanel, um dos pintores tradicionalistas do período, que se opunham à tendência impressionista de pintores como Claude Monet.
Em Paris, onde ficou de 1876 a 1882, viveu no número 22 da rua Turgot, numa casa hoje substituída por um prédio moderno. Antes de 1878, viveu no 30 da rua Motholon. A fachada desse prédio continua preservada, mas o interior foi alterado. Pode-se ter uma idéia do ateliê em que Almeida Jr. trabalhava no quadro "Ateliê em Paris", de 1880.
Os dois endereços ficavam em Montmartre, na região em que os quartos -e o vinho- eram baratos. A igreja do Sacré-Coeur estava começando a ser construída -as obras terminaram em 1914.
Em 1878, Almeida Jr. passou no teste para a Escola de Belas-Artes, onde estudou por três anos. Cabanel continuou sendo seu professor lá. De 1879 a 1882, o brasileiro expôs no Salão Oficial dos Artistas Franceses.


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