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Pesquisa revela verdadeira
história do mito Almeida Jr.
HAROLDO CERAVOLO SEREZA
de Paris
Homem pobre, venceu com o
próprio esforço. Seu pai era um
pintor de parede, ele, um dos
maiores artistas do Brasil no final
do século 19. Muito bonito, galanteador e libertino, conquistava todas as mulheres que desejava
-inclusive a prima, por quem
acabou morrendo. De quem estamos falando? De José Ferraz de
Almeida Jr. (1850-1899) -ou melhor, do mito Almeida Jr.
Um grupo de pesquisadores
brasileiros quer aproveitar o centenário da morte do pintor para
derrubar alguns dos mitos em
torno dele. O primeiro é que sua
família tinha poucos recursos.
Embora não fosse filho de um
barão do café, Almeida Jr. não
nasceu numa família carente. A
principal atividade de seu pai era
a de fiscal da Câmara Municipal
de Itu, o que garantia prestígio e
salário suficiente na época.
Integrado pelo coordenador do
Museu Republicano da USP, Jonas Soares de Souza, pelo pesquisador Jean-Baptiste Duvet e pelo
fotógrafo Luiz Arthur Gaspareto,
o grupo de pesquisadores prepara
um banco de dados digital, este
coordenado por Maria Cecília
França Lourenço (FAU-USP), e
uma série de atividades para recuperar a história de Almeida Jr. Estão, por exemplo, sugerindo aos
Correios que lancem uma série de
selos para marcar o centenário.
Outro pesquisador do grupo, o
jornalista e editor Oséas Singh Jr.,
prepara uma biografia romanceada de Almeida Jr, que receberá o
nome de uma das telas do pintor:
"O Tempo Cobrindo a Beleza".
Singh Jr. esteve em Paris, em busca de documentos para sua pesquisa, quando falou à Folha. Encontrou informações sobre a passagem de Almeida Jr. por Paris,
onde estudou na Escola de Belas-Artes. Entre elas, humilhações
por que passavam os calouros da
instituição.
"Esse era um período que os
biógrafos de Almeida Jr. evitavam. A passagem por Paris, fundamental para o desenvolvimento do artista, era sempre deixada
de lado", afirma Singh Jr.
O pintor partiu para Paris em
1876, financiado pelo imperador
d. Pedro 2º, com uma bolsa de estudos de 300 francos.
Passou a trabalhar no ateliê do
pintor Alexandre Cabanel, um
dos pintores tradicionalistas do
período, que se opunham à tendência impressionista de pintores
como Claude Monet.
Em Paris, onde ficou de 1876 a
1882, viveu no número 22 da rua
Turgot, numa casa hoje substituída por um prédio moderno. Antes de 1878, viveu no 30 da rua
Motholon. A fachada desse prédio continua preservada, mas o
interior foi alterado. Pode-se ter
uma idéia do ateliê em que Almeida Jr. trabalhava no quadro "Ateliê em Paris", de 1880.
Os dois endereços ficavam em
Montmartre, na região em que os
quartos -e o vinho- eram baratos. A igreja do Sacré-Coeur estava começando a ser construída
-as obras terminaram em 1914.
Em 1878, Almeida Jr. passou no
teste para a Escola de Belas-Artes,
onde estudou por três anos. Cabanel continuou sendo seu professor lá. De 1879 a 1882, o brasileiro
expôs no Salão Oficial dos Artistas Franceses.
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