São Paulo, segunda-feira, 11 de setembro de 2000

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CINEMA
Com um custo de US$ 500 mil, as filmagens de "Fuckland" foram feitas em segredo com duas câmeras camufladas

Filme é primeiro Dogma latino-americano

Divulgação
Gravação do filme "Fuckland", do argentino José Luis Marquez, feito em segredo nas Malvinas


GUSTAVO CHACRA
DE BUENOS AIRES

Um argentino viaja para as Ilhas Malvinas 18 anos depois da derrota na guerra para o Reino Unido e tenta engravidar o maior número possível de kelpers (habitantes das ilhas de origem britânica). Dessa maneira, imagina, dará origem a uma legião de descendentes de argentinos que lutarão no futuro para as Malvinas passarem para as mãos da Argentina.
Esse é o enredo de "Fuckland" -um trocadilho com Falkland, o nome britânico para as ilhas.
Gravado, em segredo, em apenas uma semana, por um diretor estreante, um ator e uma atriz que nunca haviam feito cinema e três integrantes da equipe técnica, "Fuckland", que estréia ainda em setembro em 40 salas de cinema na Argentina, recebeu certificado Dogma -movimento dinamarquês que prega a simplicidade no cinema em oposição aos efeitos hollywoodianos, a exemplo de "Os Idiotas", de Lars von Trier.
"Avaliaram que o filme possui todos os atributos para ser o primeiro latino-americano a receber a certificação", disse José Luis Marquez, diretor de "Fuckland".
O filme, que teve um custo total de US$ 500 mil, foi feito com duas câmeras profissionais camufladas de turísticas por fora para evitar que fossem descobertas pelos habitantes.
Segundo Marquez, o filme é uma mistura de ficção e realidade. "É real porque o ator Fabian Stratas tenta se aproximar de verdade das kelpers, que não sabem que estão participando de um filme. Mas também é ficção, pois a história é totalmente inverídica, e a única mulher com quem Stratas mantém relação é a atriz britânica Camila Chatney."
Em outros momentos, mistura ficção e realidade, como nas intervenções de Stratas em um desfile militar que estava ocorrendo durante a semana de gravação do filme. Visitas a pubs locais e conversas com os kelpers dão um ar de documentário, que mostra a relação entre os argentinos e os ilhéus, de acordo com Marquez.
O tempo curto das gravações e o segredo sobre a realização do filme fizeram com que o diretor se internasse por três dias para superar o stress no seu retorno a Buenos Aires, capital da Argentina.
"Não podiam nos descobrir e, ao mesmo tempo, precisávamos gravar o mais rápido possível, sem muita margem para errar. Mas, no final, deu tudo certo, ninguém se deu conta de que estava participando de um filme", afirma Marquez.
De qualquer modo, explica, os kelpers sempre enxergavam o grupo de argentinos como algo diferente. E, além disso, ainda há um forte preconceito dos kelpers em relação aos argentinos. No período em que estiveram nas ilhas, os integrantes da equipe de filmagem eram as únicas pessoas da Argentina por lá.
Sobre o risco de processos por parte de pessoas que participaram do filme sem ter conhecimento, Marquez afirma estar tranquilo. "As leis britânicas são uma das mais liberais nesse sentido e, além disso, há o caráter documental do filme", diz o diretor de "Fuckland".
Aos 41 anos e produtor de propagandas para a televisão, Marquez não participou da Guerra das Malvinas e tampouco perdeu algum amigo ou parente no conflito com os britânicos, apesar de possuir 23 anos na época. "Não tive uma relação especial com a guerra, mas, do mesmo modo que a maior parte dos argentinos, tenho certeza de que as Malvinas são argentinas", afirma.

Festival do Rio
O filme, de acordo com o diretor, irá passar no Festival de Cinema do Rio de Janeiro em outubro, mas ainda não há previsão se entrará em cartaz no Brasil.
O único país em que já está certa a exibição é a Inglaterra, curiosamente o inimigo da Argentina na Guerra das Malvinas.



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