São Paulo, segunda-feira, 11 de setembro de 2000

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ERUDITO
Apresentação hoje no MIS marca lançamento de CD e dois vídeos sobre o compositor alemão

Aos 85, Koellreuter ganha homenagem em SP

Divulgação
O pianista Sérgio Villafranca e o compositor alemão Hans-Joachim Koellreuter lêem partitura musical em esfera transparente


IRINEU FRANCO PERPETUO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Um evento raro -concerto formado exclusivamente por obras do homenageado- marca hoje, em São Paulo, as comemorações do 85º aniversário de nascimento de Hans-Joachim Koellreuter.
Às 20h, no MIS, o pianista Sérgio Villafranca faz um recital com as nove peças do compositor alemão que integram o CD "Acronon", a ser lançado hoje.
Além disso, a apresentação marca o lançamento de dois vídeos sobre Koellreuter: "Concertos Comentados", que registra um recital de Villafranca no ano passado com participação do compositor, e "Koellreuter - A Música Transparente", documentário dirigido por Cacá Vicalvi. Os vídeos e o disco são iniciativa da Documenta Vídeo Brasil.
Muito se fala das idéias e pouco se executa, hoje em dia, a música de Koellreuter, nascido na cidade de Freiburg im Breisgau em 2 de setembro de 1915. Flautista de formação, radicou-se no Brasil em 1937, quando suas atividades didáticas começaram a exercer impacto no meio musical.
Tendo sido introduzido por seu aluno Cláudio Santoro à principal técnica de composição vanguardista da época, o dodecafonismo, tornou-se líder da emergente vanguarda musical brasileira, criando, em 1939, o movimento Música Viva. Foi o início de incansáveis atividades didáticas e musicais nos quatro cantos do país, incluindo a fundação da Escola de Música da Bahia, em 1954.
Hoje, Koellreuter é mais lembrado como o polemista de carregado sotaque alemão, sobrancelhas grossas e vestes exóticas que, com uma prosa rebuscada, defende posições polêmicas, pedindo empréstimos à física e à filosofia oriental para explanar a estética.
Esse estilo conquistou inúmeros discípulos. Vai de Isaac Karabtchevsky a Tom Jobim a plêiade de musicistas brasileiros influenciados pelo pensamento de Koellreuter, passando por nomes tão díspares como Edino Krieger, Marcelo Bratke e Tom Zé.
Também ganhou desafetos. No texto "Que Ismo É Esse, Koellreuter?", Guerra-Peixe acusou o autor alemão de plagiar o compositor e musicólogo português Fernão Lopes Graça.
Mas a polêmica mais célebre data de 1950, quando outro ex-aluno, o compositor de linha nacionalista Camargo Guarnieri, publicou sua "Carta Aberta aos Músicos e Críticos do Brasil", na qual chamava o dodecafonismo de "contorcionismo cerebral antiartístico, crime de lesa-pátria". A ampla repercussão da discussão na imprensa contribuiu para transformar Koellreuter em uma espécie de herói das vanguardas estéticas brasileiras.
Na apresentação de Villafranca, o item que mais deve chamar a atenção é "Acronon", peça na qual a tradicional notação musical no pentagrama é substituída por uma esfera transparente.
Na esfera, Koellreuter escreve a música, utilizando cores diferentes para as diversas possibilidades de velocidade de execução musical. Dado o caráter diáfano da esfera, que pode ser girada no decorrer da execução, o intérprete tem a possibilidade de ler (e executar) a música em qualquer ponto dela, na ordem que achar mais conveniente. Tudo isso, segundo o autor, possibilita exprimir um conceito de tempo "emocional", e não "racionalmente contado", como no pentagrama.


Concerto: Sérgio Villafranca (piano) Quando: hoje, às 20h Onde: Museu da Imagem e do Som (av. Europa, 158, SP, tel. 0/xx/11/852-9197) Quanto: entrada franca


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