São Paulo, sábado, 11 de setembro de 2010

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67º FESTIVAL DE CINEMA DE VENEZA

Atriz cubana dribla Portman e Deneuve

Atuação da estreante Yahima Torrès em "Vênus Noire", de Kechiche, arrebata Veneza e ofusca as concorrentes

Filha de marinheiro, atriz se mudou para a França em 2003 e foi descoberta pelo diretor quando andava pela rua

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

Dirigida por Daren Aronofsky, que devolveu Mickey Rourke à cena em "O Lutador", Natalie Portman apresentou, em Veneza, seu melhor papel no cinema.
Assim como sua personagem, a atriz de rosto perfeito e angelical revelava em "Cisne Negro" ser capaz de pisar no lado obscuro da vida.
Durante vários dias, o único nome que parecia capaz de tirar dela o prêmio de melhor atriz não era nem um nome, era um mito: Catherine Deneuve, impagável em "Potiche", de François Ozon.
Mas como mitos são maiores que Leões de Ouro, Portman era aposta quase certa entre quem gosta de apostar.
E eis que, quase no fim da competição, uma anônima roubou parte das luzes de Portman. A cubana Yahima Torrès, 30, cujo nome não está sequer creditado no Internet Movie Data Base, principal banco de dados de cinema do mundo, magnetizou os flashes após ser vista em "Vênus Noire" (vênus negra), de Abdellatif Kechiche.
Triste, contida e de cabelos curtíssimos no filme, ela provocou um "Oh!" quando, sorriso largo, olhos radiantes, apareceu para o encontro com jornalistas pós-sessão.
Ficava claro que ela não tinha nada a ver com Saartjie Baartman, a africana explorada como objeto científico e sexual na Europa do século 19, que interpreta. Ficava claro o valor de sua atuação.

AULAS DE ESPANHOL
Desembarcada em Veneza sem que ninguém a notasse, Torrès, ontem, era fotografada até quando almoçava com o namorado num pequeno restaurante do Lido.
"Ainda não sei o que estou sentindo. No primeiro dia, estava nervosa. Agora, acho que estou só feliz", disse à Folha. Nascida em Cuba, filha de um marinheiro que, por ofício, foi muitas vezes à França e lá fez amigos, Torrès chegou à tela do cinema por uma peça do acaso.
Nutrida com o sonho paterno da vida na França, a atriz deixou Havana, rumo a Paris, em 2003. Dava aulas de espanhol quando Kechiche a viu passar na rua e enxergou, em sua imagem, a estátua de Baartman, que existe na França.
Torrès, até hoje, empolga-se quando lembra do convite. "Parecia mentira", diz ela. "Em Cuba, todos nós temos que fazer alguma coisa ligada à cultura na escola. Fiz teatro e dança, mas nunca acreditei que pudesse fazer isso de verdade."
Como se fosse confundida com Baartman, Torrès foi questionada por jornalistas se não se sentiu exposta pelo papel e se não sofre racismo.
"Por que perguntam tanto isso?", questiona, com a gargalhada que a personagem não dá. "Sou capaz de me defender. Sinto-me orgulhosa de ter contado uma história tão importante e forte."


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