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67º FESTIVAL DE CINEMA DE VENEZA
Atriz cubana dribla Portman e Deneuve
Atuação da estreante Yahima Torrès em "Vênus Noire", de Kechiche, arrebata Veneza e ofusca as concorrentes
Filha de marinheiro, atriz se mudou para a França em 2003 e foi descoberta pelo diretor quando andava pela rua
ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA
Dirigida por Daren Aronofsky, que devolveu Mickey
Rourke à cena em "O Lutador", Natalie Portman apresentou, em Veneza, seu melhor papel no cinema.
Assim como sua personagem, a atriz de rosto perfeito
e angelical revelava em "Cisne Negro" ser capaz de pisar
no lado obscuro da vida.
Durante vários dias, o único nome que parecia capaz
de tirar dela o prêmio de melhor atriz não era nem um nome, era um mito: Catherine
Deneuve, impagável em "Potiche", de François Ozon.
Mas como mitos são maiores que Leões de Ouro, Portman era aposta quase certa
entre quem gosta de apostar.
E eis que, quase no fim da
competição, uma anônima
roubou parte das luzes de
Portman. A cubana Yahima
Torrès, 30, cujo nome não está sequer creditado no Internet Movie Data Base, principal banco de dados de cinema do mundo, magnetizou
os flashes após ser vista em
"Vênus Noire" (vênus negra), de Abdellatif Kechiche.
Triste, contida e de cabelos
curtíssimos no filme, ela provocou um "Oh!" quando, sorriso largo, olhos radiantes,
apareceu para o encontro
com jornalistas pós-sessão.
Ficava claro que ela não tinha nada a ver com Saartjie
Baartman, a africana explorada como objeto científico e
sexual na Europa do século
19, que interpreta. Ficava claro o valor de sua atuação.
AULAS DE ESPANHOL
Desembarcada em Veneza
sem que ninguém a notasse,
Torrès, ontem, era fotografada até quando almoçava com
o namorado num pequeno
restaurante do Lido.
"Ainda não sei o que estou
sentindo. No primeiro dia,
estava nervosa. Agora, acho
que estou só feliz", disse à
Folha. Nascida em Cuba, filha de um marinheiro que,
por ofício, foi muitas vezes à
França e lá fez amigos, Torrès chegou à tela do cinema
por uma peça do acaso.
Nutrida com o sonho paterno da vida na França, a
atriz deixou Havana, rumo a
Paris, em 2003. Dava aulas
de espanhol quando Kechiche a viu passar na rua e enxergou, em sua imagem, a
estátua de Baartman, que
existe na França.
Torrès, até hoje, empolga-se quando lembra do convite. "Parecia mentira", diz
ela. "Em Cuba, todos nós temos que fazer alguma coisa
ligada à cultura na escola.
Fiz teatro e dança, mas nunca acreditei que pudesse fazer isso de verdade."
Como se fosse confundida
com Baartman, Torrès foi
questionada por jornalistas
se não se sentiu exposta pelo
papel e se não sofre racismo.
"Por que perguntam tanto
isso?", questiona, com a gargalhada que a personagem
não dá. "Sou capaz de me
defender. Sinto-me orgulhosa de ter contado uma história tão importante e forte."
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