São Paulo, sábado, 11 de setembro de 2010 |
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Walsh chega em ficção e jornalismo
Livro-reportagem "Operação Massacre" e uma coletânea de contos são lançados no Brasil no final de setembro
SYLVIA COLOMBO EDITORA DA ILUSTRADA O argentino Rodolfo Walsh (1927-1977) era um jovem autor de 29 anos que aspirava se tornar escritor de histórias policiais. Pouco se importava pela política, assunto que trocava fácil por uma boa partida de xadrez. Isso até a "sufocante noite de verão" em que, tomando uma cerveja, ouviu uma frase que o deixou perturbado: "Um fuzilado está vivo". O homem que a proferira falava do assassinato, pela polícia, de um grupo de civis ocorrido alguns meses antes, em junho de 1956. Os homens tinham sido tomados como militantes peronistas que estariam a ponto de deflagrar um levante contra o governo do general Pedro Eugenio Aramburu. Este chegara ao poder por meio do golpe militar que derrubara Juan Domingo Perón no ano anterior. Na operação, os policiais prenderam doze homens que estavam reunidos numa casa suburbana, levaram-nos para uma unidade policial e dali para um lixão, onde foram fuzilados sob a vigência da lei marcial que passara a valer naquela madrugada. Só que a história era muito mais intrincada do que aparentava. E a existência de um sobrevivente deixava isso mais claro. Walsh ficou obcecado pela trama. Deixou o emprego, mudou-se para o local dos fatos e passou a investigá-los minuciosamente. Descobriu que mais seis homens estavam vivos e que aquele não se tratava de um grupo armado. Mas, sim, de um bando de amigos ou conhecidos que escutavam juntos uma luta pelo rádio. E, principalmente, que haviam sido presos pouco antes de a lei marcial entrar em vigor, o que transformava o fuzilamento "justificado" pela situação de exceção em crime comum. Os escritos de Walsh fizeram barulho. Saíram como série de reportagens em uma pequena publicação. Em 1957, foram reunidos no livro "Operação Massacre", que sai no fim deste mês pela coleção jornalismo literário da Companhia das Letras. Com riqueza de detalhes, Walsh reconstrói a trágica noite. Primeiro monta o perfil dos envolvidos. Depois, relata como se deu a reunião e a chegada dos policiais. Segue-se a descrição de como foram levados ao lixão e da operação desastrosa. Os presos foram obrigados a caminhar iluminados apenas pela luz de uma caminhonete. Só que alguns saíram do raio de visão dos policiais e correram; outros, ainda, fingiram-se de mortos. A polícia passou os dias seguintes tentando recapturar os fugitivos, mas já era tarde. Um dera entrada num hospital, fora preso novamente e seu pai tornara o assunto público. Outros se asilaram na embaixada boliviana. CONTOS Também no fim do mês, a editora 34 começa a lançar por aqui os contos do autor. O primeiro volume é "Essa Mulher e Outras Histórias", editado por Sérgio Molina. O livro traz as famosas histórias irlandesas de Walsh, que, apesar de não serem propriamente autobiográficas, surgiram a partir de evocações de sua infância -Walsh era descendente de irlandeses, nascido na Patagônia argentina. Para Molina, há uma revisão da obra de Walsh. "Obviamente "Operação Massacre" é seu grande livro, mas o trabalho de ficção, que por tempos foi relacionado à sua atividade política, vem ganhando vida própria." OPERAÇÃO MASSACRE AUTOR Rodolfo Walsh TRADUÇÃO Hugo Mader EDITORA Companhia das Letras QUANTO R$ 46 (288 págs.) ESSA MULHER E OUTROS CONTOS AUTOR Rodolfo Walsh TRADUÇÃO Sérgio Molina e Rubia Prates Goldoni EDITORA 34 QUANTO R$ 39 (256 págs.) Texto Anterior: Ficção/Não ficção Próximo Texto: "Carta Aberta" revelou antes o que história confirmou Índice | Comunicar Erros |
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