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Ultraviolência italiana, 32, ainda dói
Personagem punk Ranxerox, criado em 1978 por Tamburini e Liberatore, chega completo em edição de luxo
História em quadrinhos "amoral" e cheia de sangue foi umas das criações mais influentes do gênero
IVAN FINOTTI
DE SÃO PAULO
Já em 1978 Ranxerox causava polêmica. Batia em bebês, fazia sexo com uma menina de 12 anos e se drogava
cheirando cascolar. As críticas vieram de todos os lados,
considerando o personagem
amoral, violento, alienado,
alienante. Mais ou menos o
mesmo que se falava dos Sex
Pistols.
Mas em vez de alfinetes na
camiseta (como Johnny Rotten) e cortes no próprio peito
(como Sid Vicious), Ranxerox tinha uma tampa de panela na cabeça que lhe escondia os circuitos cerebrais
e distribuía porradas a torto e
a direito. Era um robô ultraviolento, montado a partir de
uma máquina fotocopiadora
destruída por "estudelinquentes" e apaixonado por
uma ninfeta mal-humorada
que o fazia de escravo, seja
sexual, seja para mandá-lo
conseguir heroína.
Defensores do robô evocam uma profunda crítica
aos valores sociais de uma
sociedade doente, blablablá.
O fato é que Ranxerox foi
uma das criações mais influentes, mais amadas e mais
odiadas no último período
realmente revolucionário
das HQs, a década de 80.
TONS PASTEIS
Trinta anos depois, finalmente publicado completo
no Brasil, Ranxerox choca
menos. Mas só um pouquinho menos, o leitor vai perceber. A ultraviolência, mesmo
depois de levada às telas em
movimento liderado por Tarantino, ainda dói no papel.
Muito do choque se deve a
Tanino Liberatore, que criou
uma arte ultrarrealista, cheia
de sombras e tons pasteis,
inédita para a época. Mas o
cérebro positrônico vem
mesmo de Stefano Tamburini, o criador do personagem.
Figura do movimento estudantil italiano dos anos 70,
foi o líder da geração de quadrinistas que criou revistas
fundamentais e cultuadas,
como a "Cannibale" (na qual
Ranxerox estreou, em preto e
branco, em 1978) e a "Frigidaire" (na qual o personagem ganhou cor, em 1980).
O fato de Tamburini ter
morrido de overdose em 1986
não é detalhe. Em primeiro
lugar, contribuiu para elevá-lo ao panteão dos incompreendidos que povoam o
céu pop. Em segundo, deixou Ranxerox interminado.
Foi só em 1997 que Liberatore se uniu ao roteirista francês Alain Chabat para dar um
fim à trajetória infame do
anárquico personagem. Essa
história está no álbum publicado agora no Brasil, em capa dura, assim como as aventuras iniciais em preto e
branco. Parte desse pesadelo
foi publicado aqui pela "Animal", a partir de 1988.
E agora, um parágrafo para uma das mais carismáticas
personagens da série, que
aparece em poucos, mas
inesquecíveis, quadrinhos: a
minifilha da puta Carmencita. Com três anos e meio e
problemas fonéticos semelhantes aos do Cebolinha, ela
já encanta em sua primeira
aparição, quando exclama:
"Cai fola, calalho!". É a pura
arte italiana.
RANXEROX
AUTORES Stefano Tamburini,
Tanino Liberatore e Alain Chabat
EDITORA Conrad
QUANTO R$ 49,90 (192 págs.)
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