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Paulo Martins, do Lá em Casa, morre aos 64
Chef, que era grande divulgador da culinária amazônica, foi vítima de parada cardíaca
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Quando o mais famoso
chef de cozinha da atualidade, Ferran Adrià, esteve no
Brasil em 2008, incluiu em
sua programação (que acontecia em São Paulo) uma esticadinha até Belém do Pará.
Ele queria conhecer a
Amazônia, mas também visitar o chef de cozinha que se
tornou o grande divulgador
da gastronomia local, Paulo
Martins, que morreu anteontem, às 4h50, aos 64 anos, vítima de parada cardíaca.
Martins era um símbolo da
paixão e da erudição quando
se tratava de cozinha regional da Amazônia, especialmente do Pará.
Arquiteto de formação,
desde 1978 tocava o restaurante criado pela mãe, o Lá
em Casa, o melhor do Estado,
dedicado à cozinha regional.
Mas não se limitava ao trabalho de restaurateur. Convencido da importância cultural (e não apenas no paladar) da cozinha de sua terra,
tornou-se incansável divulgador de produtos e receitas.
Esses mesmos que, vinte
anos depois, passaram a deslumbrar chefs brasileiros, como Alex Atala, além de grandes chefs de outros países,
como o próprio Adrià, que
em seu restaurante El Bulli
introduziu uma receita de
maracujá com uma versão
própria do tucupi.
No trabalho de divulgação, Martins conseguia envolver chefs de todo o país e,
o mais difícil, autoridades e
instituições governamentais.
Todo ano ele realizava em
Belém o evento Ver-o-Peso
da Cozinha Paraense, no
qual reunia profissionais de
cozinha, estudantes, jornalistas de todo lado para mostrar as riquezas regionais.
Mas com o mesmo vigor
com que recebia autoridades
nos palanques, ele também
viajava o Brasil e o mundo
carregado de folhagens, raízes e ervas para dar aulas de
culinárias para plateias às
vezes minúsculas.
Fazia-o com a mesma alegria com que recebia amigos
no restaurante para comer
pato no tucupi ou casquinho
de muçuã (pequena tartaruga, de pesca legalizada).
Em 2008, Paulo Martins
sofreu uma cirurgia na coluna, que deflagrou uma série
de outros problemas, em especial o diabetes, que foram
se agravando rapidamente.
Quando recebeu Adrià, já
não falava ou se locomovia.
Neste período fechou a sede
original do restaurante, que
hoje funciona somente onde
era antes a filial, nas Docas.
O Lá em Casa hoje é tocado
por sua ex-mulher e suas filhas desde que, em 2008, sua
saúde se complicou. Sua história, com elas, continua.
JOSÉ SIMÃO
O colunista é publicado no
caderno Eleições 2010
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