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CINEMA - ESTRÉIA
"Lolita', o original, é mais Kubrick que Nabokov
AMIR LABAKI
enviado especial a Veneza
Depois da "Lolita" de Adrian
Lyne, volta às telas hoje a de Stanley Kubrick. A comparação é inevitável e pende quase unanimemente para a versão de 1962.
Vladimir Nabokov participou da
adaptação de seu livro por Kubrick. Convidado, inicialmente recusou. Acabou por escrever um roteiro de 400 páginas. Incluiu situações que cortara do próprio romance. Topou reduzir tudo e chegou à metade.
Os créditos levam seu nome, mas
Kubrick foi o verdadeiro responsável pela versão final. Nabokov jamais se rendeu e terminou por publicar, ainda em vida, seu roteiro
para "Lolita" no cinema. É infilmável, assim como o que Jean-Paul
Sartre preparou sobre Freud para
o filme de John Huston.
Kubrick é um especialista em
adaptar obras literárias que não
acredita na necessária fidelidade
na tradução das páginas para a tela. Seus filmes nascem dos livros,
mas não buscam a justa versão.
Filme e livro devem se manter
obras autônomas. Foi assim com
"Lolita", como posteriormente
com "Laranja Mecânica" (1972),
"Barry Lyndon" (1976) e "O Iluminado" (1980).
Há de saída uma diferença de
tom entre a "Lolita" de Kubrick e a
de Nabokov. O filme é grotesco e
pesado; o livro, mais irreverente e
sarcástico. Apesar do recurso a
flash-backs, a obra de Kubrick parece formalmente menos inventiva
que a do autor russo, embora esteja longe dos textos mais experimentais de Nabokov, como, por
exemplo, "Fogo Pálido" (Imago).
O essencial da trama se mantém.
Um professor de literatura se apaixona por uma ninfeta e se casa com
a mãe dela para facilitar a convivência. Morta a senhora, consuma-se a relação. Mudam de cidade,
viajam pelos EUA, sempre em busca do equilíbrio impossível. A ruptura é inevitável, assim como o
choque entre o sedutor, Humbert,
e seu maior rival, Quilty.
Na "Lolita" de Kubrick, os cuidados com a censura deslocaram o
foco. Há mais obsessão e culpa no
Humbert fílmico. Tanto que o torturado James Mason foi uma escolha certeira para vivê-lo.
Se Humbert é outro na tela, Clare
Quilty é praticamente uma criação
kubrickiana. Pouco mais que um
vulto no livro, agiganta-se no cinema com a presença explosivamente grotesca de Peter Sellers.
Sellers, aliás, está a merecer a devida revisão, restrito que está seu
conhecimento pelas novas gerações como o Clouseau da série "A
Pantera Cor-de-Rosa". Sellers é
dos poucos cômicos da era sonora
que se equipara aos gênios do humor mudo. Basta ver este "Lolita".
Vale tudo para esperar a estréia
do novo Kubrick, "Eyes Wide
Shut" (Olhos Bem Fechados), agora prevista para meados de 99. O
trailer estaria ficando pronto, com
Nicole Kidman exibindo os seios.
Em um, estaria seu nome; em outro, o de seu marido e co-protagonista, Tom Cruise. Só Hitchcock
entendia tanto de lançamentos
quanto Kubrick.
²
Filme: Lolita
Direção: Stanley Kubrick
Produção: Inglaterra, 1962, 152 min
Quando: a partir de hoje, no Espaço
Unibanco
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