São Paulo, Sábado, 11 de Setembro de 1999
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MÚSICA
"OK" é dedicado à avó do músico e derrotou CDs de Chemical Brothers, Blur e Manic Street Preachers
Talvin Singh vence o Mercury Music

SYLVIA COLOMBO
de Londres

"Este disco é dedicado à minha avó, cujos joelhos foram as minhas primeiras tablas", agradece de forma singela o anglo-indiano Talvin Singh no livreto que acompanha o CD "OK" (Island).
O músico, até agora um desconhecido no cenário pop, recebeu na última quarta-feira o tradicional prêmio inglês Mercury Music, de melhor CD do ano, derrotando estrelas como Chemical Brothers, Blur e Manic Street Preachers.
"OK", o trabalho premiado de Singh, é uma mistura de música eletrônica com flautas, percussão, cordas e vocais indianos. Gravado em Londres, Madras e Nova York, o disco conta com a participação de uma orquestra tradicional da Índia e um grupo feminino de voz e sopros do Japão.
Talvin Singh tem 28 anos e toca tablas (instrumento de percussão indiano, composto de dois tambores) desde os 15. Nascido no leste de Londres, onde vive a maior parte dos imigrantes asiáticos, Singh é filho de indianos.
Interessado pela cultura ancestral, viajou à Índia na adolescência para aprender a tocar instrumentos típicos com um conhecido mestre local, Pandit Lashaman.
"Quando voltei para a Inglaterra comecei a tocar música clássica indiana, mas aquilo não era eu. Como eu sou o resultado de uma fusão de culturas, a minha música também deveria ser uma fusão de elementos culturais", diz Singh.
Pensando assim, o anglo-indiano começou a fazer as primeiras experimentações de mistura de tablas com o drum'n'bass. No começo dos anos 90, Singh virou DJ, no clube Anokha, em Londres.
Seu trabalho repercutiu e ele passou a tocar com alguns nomes importantes do trip hop, como o Massive Attack, e do tecno, como o Future Sound of London. Em 1996, Singh lançou a coletânea "Anokha: Soundz Of The Asian Underground", com outros artistas anglo-indianos.
"OK" é seu primeiro trabalho solo. Diferentemente de outros artistas que trabalham a fusão de estilos variados com música eletrônica, submetendo o folclórico aos computadores, o som de Singh faz o contrário. Não há uma submissão dos instrumentos e sonoridades indianas à tecnologia. É a melodia clássica indiana que carrega a linha musical das faixas e são as tablas que encaminham o ritmo.
O disco não é hegemônico. Há faixas dançantes, momentos introspectivos, experimentações progressivas. Nada comercial para ser explorado em FMs, mas, pelo visto, muito o que se agradecer à avó de Singh, por ter emprestado os joelhos para suas primeiras brincadeiras musicais.


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