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MÚSICA
Para líder da Legião Urbana, banda tentou fazer canções mais "pra cima porque era natural, mas não ficava bom"
"Entrei num beco sem saída", disse Russo
ESPECIAL PARA A FOLHA
Leia a continuação da entrevista
feita em maio de 1994 com o líder
da Legião Urbana, Renato Russo.
(ALEXANDRE MATIAS)
Folha - Como foi sair dessa fase?
Renato Russo - Eu estava me destruindo e, em vez de me matar
com um tiro na cabeça, preferi
procurar ajuda. Isso vem desde os
17 anos, mas no "V" foi a primeira
vez que coloquei na música essas
questões. "Montanha Mágica" é
sobre isso. Eu era jovem e acabei
entrando num beco sem saída.
Isso foi me consumindo, eu ficava deprimido e não sabia o porquê. Achava que o mundo era
horrível, igualzinho ao Kurt Cobain, nada mais valia a pena. E isso é estranho porque, se eu achar
um dia que as coisas não valham a
pena, quero estar com a cabeça no
lugar, e não com o corpo cheio de
toxinas. Parei com todo tipo de
droga e vi que as coisas não eram
tão ruins.
Folha - Isso se refletia na sonoridade da banda?
Russo - Isso a gente decide. Todo
disco a gente tenta fazer uma coisa diferente, até porque é mais divertido. E para não ficar na obrigação de repetir o mesmo trabalho. Não achávamos que o "Quatro Estações" fosse estourar, porque é um disco bem difícil, mas
todo mundo gostou. As letras são
complicadíssimas e não é tão pra
cima quanto acham. É tão depressivo quanto o "V".
Tentamos fazer músicas mais
pra cima porque era natural, mas
não ficava bom. "O Descobrimento do Brasil" não é um disco
pra cima, é como o "Power, Corruption and Lies", do New Order.
É a coisa mais gloriosa do mundo,
mas, se prestar atenção, é pesado.
Folha - Como o "Quatro Estações"...
Russo - No geral, as pessoas
acharam que aquilo foi a coisa
mais alegre que já foi feita. Enquanto o "V", não. A gente tentou
fazer uma música alegre pelo menos, de tudo quanto foi jeito, e não
saía. "Vento no Litoral" só tocou
porque tem uma melodia bonita.
Acho "Metal contra as Nuvens"
uma música superacessível. O
problema é que o disco falava de
coisas que as pessoas não estavam
querendo ouvir na hora. Foi
quando estourou a axé music, a
gente veio na contramão. Mas o
disco tem as melhores letras, de
longe. Consegui falar tudo o que
eu queria. Mas as pessoas não
queriam ouvir aquilo. Por exemplo, "Metal contra as Nuvens" é
uma música sobre o Collor, mas
nunca ninguém falou sobre isso.
Folha - Como você vê a crítica?
Russo - Eles usam os motivos errados. Eu não sou o dono da verdade, mas, para mim, o que motiva esses caras é um rancor e uma
incompreensão do que é o nosso
país e de como as coisas funcionam. Existem iniciativas maravilhosas no Brasil e a gente não sabe. Aí a gente fica oprimido,
achando que tudo não presta, que
tudo é horrível. Gostaria de poder
apresentar um bom trabalho para
as pessoas que gostam da gente.
Acho sacanagem, na posição que
a gente está, não tentar se esforçar
o máximo para apresentar o melhor que a gente pode fazer.
Folha - E o futuro da Legião?
Russo - Não tenho idéia. Eu não
vejo como a gente vai seguir o que
está fazendo sem se repetir. Depois de "Perfeição", eu vou escrever o quê? Depois que você fala
"vamos celebrar a estupidez humana", o que você vai falar? Então
talvez a gente faça uma coisa parecida com o que o The Cure faz, para depois, com o tempo, a gente
fazer uma mescla. Ou virar uma
banda de trabalho, como o New
Order. Eu não quero ficar falando
como eu acho tudo horrível como
está. Se a gente cansar, a gente pára. Se a gente achar que ainda vale
a pena fazer alguma coisa, a gente
continua.
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