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Romancista Imre Kertész é primeiro húngaro a ganhar o prêmio de literatura
Nobel premia memória do Holocausto
CASSIANO ELEK MACHADO
ENVIADO ESPECIAL A FRANKFURT
Um sobrevivente dos campos
de concentração de Auschwitz e
Buchenwald, Imre Kertész, se tornou ontem o primeiro húngaro a
vencer o Nobel de Literatura.
Aos 72 anos, este romancista
que calcou sua obra literária na
experiência traumática entre os
nazistas em 1944 e 1945 recebeu a
notícia da premiação justamente
na antiga sede do Reich Alemão.
"É um momento de surpresa e
alegria", disse o escritor em Berlim, onde vive há um ano.
Foi dessa forma, com surpresa e
alegria, que o triunfo do escritor
de Budapeste chegou ao epicentro mundial do mercado de livros.
Um minuto após as 8h (horário
de Brasília), quando a Academia
Sueca de Letras anunciou o prêmio em Estocolmo, o nome de
Kertész já ressoava em um alto-falante da Feira de Frankfurt.
Surpresos ficaram editores e
jornalistas da maior parte dos 110
países que estão na 54ª edição do
evento, quase todas nações nas
quais o escritor é inédito ou pouco editado. Alegria foi o que se viu
na pequena representação húngara e no amplo pavilhão alemão.
Inicialmente pouco prestigiado
em seu país, onde levou mais de
dez anos para conseguir publicar
seu primeiro romance (algo como
"Sem Destino"), em 75, foi na Alemanha que ele foi reconhecido
como um grande escritor.
"Ele era famoso na Hungria como tradutor de pensadores como
Nietszche, Freud e Wittgenstein,
mas não era levado muito a sério
como escritor", disse à Folha o
editor Csordás Gábor, amigo do
Nobel. "Foi a partir de seu sucesso
na Alemanha que ele se consagrou na Hungria."
Autor de 12 livros, um deles lançado no Brasil (com outras quatro
obras a caminho),
Kertész teve vitória justificada pela Academia Sueca por "sua escrita que leva adiante a frágil experiência do indivíduo contra a bárbara arbitrariedade da história".
É exatamente o que ressalta de
sua literatura o diretor do Festival
Internacional do Livro de Budapeste, Peter Laszlo Zent, que bradava no singelo estande húngaro:
"Esperamos 200 anos por isso".
Para ele, o que faz de Kertész
"genial" é que "ele contribuiu
com uma obra toda muito marcada pela sua experiência em
Auschwitz, mas não do ponto de
vista da vítima". "Sua literatura é
a da procura do humano no que
há de mais desumano", resume
Zent, em meio à balbúrdia instantânea que tomou conta do antes
desértico pavilhão da Europa
Oriental. Kertész, que ganhou o
equivalente a US$ 1 milhão pelo
Nobel, receberá o prêmio no dia
10 de dezembro, em Estocolmo.
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