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CRÍTICA
Filme só tem um sentido
DO CRÍTICO DA FOLHA
"Estrada para Perdição" é
um título com duplo sentido, diz o "release" para a imprensa do novo filme de Sam Mendes.
Perdição é a cidade para onde Michael Sullivan (Tom Hanks) viaja
com seu filho, também Michael,
único remanescente de um massacre que vitimou sua família.
O segundo sentido de perdição
é esse mesmo: o caminho seguido
pelo matador Sullivan por fidelidade ao gângster John Rooney
(Paul Newman) e por conforto.
Estamos em 1931 e sua vida corre
razoavelmente bem até que Michael Jr. decide descobrir o que o
pai faz da vida e testemunha um
assassinato cometido por Connor, o filho de John Rooney.
Connor, um completo psicopata, toma as providências para que
a família Sullivan suma do mapa.
Seu êxito é parcial: massacra a
mulher e o filho menor. Sullivan
parte, então, para a vingança.
Também o êxito de Mendes
aqui é apenas parcial. O argumento trabalhado pelo produtor Dean
Zanuck é daqueles que ajudaram
a fazer a glória de seu avô, Darryl,
há uns 70 anos. É verdade que, em
1930, Sullivan não seria tão solitário: teria juntado-se à polícia e
ajudado a desbaratar a gangue.
Mas estamos em 2002 e Sullivan é
condenado à mais plena solidão.
A diferença é significativa: nos
anos 30, acreditava-se no Estado e
em suas instituições; hoje, não
existe mais instituição que ampare os indivíduos, que nos dê a impressão de um mundo regido pelo
Estado. Essa atualização do universo clássico é o ponto forte de
"Estrada para Perdição".
A contrapartida é o aspecto "artístico" da empreitada. Tudo se
organiza em torno de uma mensagem. A fuga/vingança de Sullivan e seu filho serve para que o pai
possa dizer ao menino: não siga o
meu exemplo, evite essa vida.
Moralismo tolo e redutor. Em
primeiro lugar porque nega as
premissas lançadas na introdução
(Sullivan faz o que faz porque não
tem escolha). E em segundo lugar
porque sugere, desde a opção pelo
filme de gângster, que a experiência do homem moderno é feita de
imperfeição, de provisório (nada
a ver com o mundo patriarcal em
que se movem os gângsteres), para num segundo momento estreitar bruscamente o caminho e nos
lembrar que, nesse mundo incerto, resta uma certeza: a família.
Com isso, temos com "Estrada
para Perdição" um título com duplo sentido, mas um filme com
um sentido só (apesar de Paul
Newman, cada vez mais notável,
e, em menor escala, Tom Hanks).
(INÁCIO ARAUJO)
Estrada para Perdição
Road to Perdition
Direção: Sam Mendes
Produção: EUA, 2002
Com: Paul Newman, Tom Hanks
Quando: a partir de hoje nos cines
Butantã, Eldorado, Ibirapuera, Metrô
Santa Cruz, Shopping D e circuito
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