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OLHAR PRÉ-HISTÓRICO
Mostra tem réplica de preguiça de três metros e meio
"Megafauna" determinava cotidiano dos antepassados
DA SUCURSAL DO RIO
Todas as peças da pré-história
brasileira da exposição "Antes
-°Histórias da Pré-História" foram emprestadas por instituições
nacionais. A exceção são as réplicas e os esqueletos de animais.
Eles vêm do Museu de Ciências
Naturais de Valencia (Espanha),
sendo que os ossos foram recolhidos por um pesquisador chamado Botet, em 1906, na Argentina.
"Mas a megafauna era a mesma.
Essa coleção [do museu espanhol] é a melhor que existe para
representar os animais que viviam no continente", explica a curadora Anne-Marie Pessis.
A expressão "megafauna" se deve ao tamanho dos animais. A
preguiça gigante chegava a ter
quatro metros de altura e pesar
cinco toneladas. Uma réplica da
preguiça (com três metros e meio
e 300 kg) pende da rotunda e fica
pairando sobre o hall do CCBB.
Na mesma área, o público poderá ver os esqueletos do maior tigre-de-dente-de-sabre do mundo
e do tatu "Fusca", assim chamado
por ter 1,40 m de altura. Uma tela
holográfica mostra a imagem real
do animal. Não há como precisar
a época em que viveram os animais, mas são milhares de anos
que os distanciam de nós.
O gigantismo da fauna determinava muito a forma de viver dos
povos de então. Eles precisavam
buscar formas de proteção e se organizar coletivamente, para aumentar suas chances de sobrevivência. "Era uma sociedade desprovida de cultura tecnológica de
guerra. Sobreviver já era um sucesso", conta Pessis.
Não se vivia mais do que 45
anos e os grupos sociais eram formados por cerca de 50 pessoas.
Segundo Pessis, quando os grupos aumentavam, subdividiam-se em outros. "As estruturas se
mantinham análogas, embora
houvesse a procura da diversificação. Cada grupo queria sua identidade", diz, ressaltando que a diversidade cultural é um dos aspectos principais da mostra.
Uma das salas mais marcantes é
a de urnas funerárias. De formatos e estilos diversos, variando de
acordo com os povos -marajoaras (PA), tapajós (PA), maracás
(AP)-, algumas têm formas humanas, nas quais fica identificado
o sexo de quem morreu.
"É como se a pessoa ganhasse
uma nova pele, mas preservando-se sua identidade", explica Pessis,
também chamando a atenção para detalhes, como o rosto de alguém que chora a perda, feito na
parte de baixo de uma das urnas.
A arqueóloga afirma que, nos
primeiros povos, não havia hierarquia entre homens e mulheres
nem os sentidos de religião e poder que temos hoje. "As crenças
eram estruturadas na sobrevivência. A religião já é algo histórico,
uma forma de poder que não é a
pré-histórica. As funções sociais
eram cumpridas pelos mais aptos. Se um deixasse de ser, outro
passava a cumprir", diz ela.
Todas essas descobertas têm como núcleo principal as escavações que há três décadas são feitas
no Parque Nacional Serra da Capivara, considerado patrimônio
da humanidade pela Unesco. No
momento, segundo Niéde Guidon, as pesquisas priorizam "a
evolução das condições climáticas nos últimos 50 mil anos".
Graças ao trabalho feito no
Piauí, está surgindo a primeira faculdade pública de arqueologia
do país. Será na recém-criada
Universidade do Vale de São
Francisco, que fica nas vizinhas
Juazeiro (BA) e Petrolina (PE).
ANTES - HISTÓRIAS DA PRÉ-HISTÓRIA. Quando: de amanhã a 9/1
(ter. a dom., das 10h às 21h). Onde:
Centro Cultural Banco do Brasil (r.
Primeiro de Março, 66, Rio, tel. 0/xx/21/
3808-2020). Quanto: entrada franca.
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