São Paulo, segunda-feira, 11 de outubro de 2004

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OLHAR PRÉ-HISTÓRICO

Mostra tem réplica de preguiça de três metros e meio
"Megafauna" determinava cotidiano dos antepassados

DA SUCURSAL DO RIO

Todas as peças da pré-história brasileira da exposição "Antes -°Histórias da Pré-História" foram emprestadas por instituições nacionais. A exceção são as réplicas e os esqueletos de animais. Eles vêm do Museu de Ciências Naturais de Valencia (Espanha), sendo que os ossos foram recolhidos por um pesquisador chamado Botet, em 1906, na Argentina.
"Mas a megafauna era a mesma. Essa coleção [do museu espanhol] é a melhor que existe para representar os animais que viviam no continente", explica a curadora Anne-Marie Pessis.
A expressão "megafauna" se deve ao tamanho dos animais. A preguiça gigante chegava a ter quatro metros de altura e pesar cinco toneladas. Uma réplica da preguiça (com três metros e meio e 300 kg) pende da rotunda e fica pairando sobre o hall do CCBB.
Na mesma área, o público poderá ver os esqueletos do maior tigre-de-dente-de-sabre do mundo e do tatu "Fusca", assim chamado por ter 1,40 m de altura. Uma tela holográfica mostra a imagem real do animal. Não há como precisar a época em que viveram os animais, mas são milhares de anos que os distanciam de nós.
O gigantismo da fauna determinava muito a forma de viver dos povos de então. Eles precisavam buscar formas de proteção e se organizar coletivamente, para aumentar suas chances de sobrevivência. "Era uma sociedade desprovida de cultura tecnológica de guerra. Sobreviver já era um sucesso", conta Pessis.
Não se vivia mais do que 45 anos e os grupos sociais eram formados por cerca de 50 pessoas. Segundo Pessis, quando os grupos aumentavam, subdividiam-se em outros. "As estruturas se mantinham análogas, embora houvesse a procura da diversificação. Cada grupo queria sua identidade", diz, ressaltando que a diversidade cultural é um dos aspectos principais da mostra.
Uma das salas mais marcantes é a de urnas funerárias. De formatos e estilos diversos, variando de acordo com os povos -marajoaras (PA), tapajós (PA), maracás (AP)-, algumas têm formas humanas, nas quais fica identificado o sexo de quem morreu.
"É como se a pessoa ganhasse uma nova pele, mas preservando-se sua identidade", explica Pessis, também chamando a atenção para detalhes, como o rosto de alguém que chora a perda, feito na parte de baixo de uma das urnas.
A arqueóloga afirma que, nos primeiros povos, não havia hierarquia entre homens e mulheres nem os sentidos de religião e poder que temos hoje. "As crenças eram estruturadas na sobrevivência. A religião já é algo histórico, uma forma de poder que não é a pré-histórica. As funções sociais eram cumpridas pelos mais aptos. Se um deixasse de ser, outro passava a cumprir", diz ela.
Todas essas descobertas têm como núcleo principal as escavações que há três décadas são feitas no Parque Nacional Serra da Capivara, considerado patrimônio da humanidade pela Unesco. No momento, segundo Niéde Guidon, as pesquisas priorizam "a evolução das condições climáticas nos últimos 50 mil anos".
Graças ao trabalho feito no Piauí, está surgindo a primeira faculdade pública de arqueologia do país. Será na recém-criada Universidade do Vale de São Francisco, que fica nas vizinhas Juazeiro (BA) e Petrolina (PE).


ANTES - HISTÓRIAS DA PRÉ-HISTÓRIA. Quando: de amanhã a 9/1 (ter. a dom., das 10h às 21h). Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (r. Primeiro de Março, 66, Rio, tel. 0/xx/21/ 3808-2020). Quanto: entrada franca.


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