São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2005

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A ESCULTORA DO MOVIMENTO

Brasil vê repertório de Martha Graham, ícone da dança moderna, com peças criadas a partir de 1916

Graham Dance resume o século 20 em 7 coreografias

Divulgação
Martha Graham (1894-1991), expoente da dança moderna


INÊS BOGÉA
CRÍTICA DA FOLHA

A Graham Dance Company, uma das mais antigas e celebradas companhias de dança das Américas, fará uma turnê no Brasil, apresentando-se no Rio, em São Paulo, Brasília, Salvador e Belo Horizonte. Martha Graham (1894-1991) foi uma das principais figuras da dança moderna. A técnica que desenvolveu, uma espécie de antítese do estilo clássico, revolucionou nossa maneira de dançar e ver a dança.
Durante sua carreira, teve colaboradores de grande renome, como o escultor Isamu Noguchi, estilistas como Donna Karan e Calvin Klein e compositores como Aaron Copland e Samuel Barber.
Um dos pontos principais de seu trabalho é que ela "combina o físico com o emocional, e cada movimento tem um significado", explica Janet Eilber, 54, recém-nomeada diretora artística da companhia. De Los Angeles, em entrevista por telefone, Eilber conta que os brasileiros poderão ver sete peças, apresentadas em dois programas. Juntas, compõem "um mapa da dança de Graham" -a primeira peça é de 1916, e a mais recente, de 1981.

Sequência de solos
Os programas começam com quatro solos: "Serenta Morisca" (1916), "Lamentation" (1930), "Satyric Festival Song" (1932) e "Deep Song" (1937). Procuram mostrar "como Graham mudou o mundo da dança". O primeiro foi coreografado por Ted Shawn (1891-1972), seu professor.
Ali se vê "de onde Martha veio e com que tipo de dança rompeu e rejeitou. Porque é uma dança muito exótica, de reis e rainhas, quase um entretenimento. E Martha queria expressar os problemas e as questões humanas".
Já "Lamentation" é um solo emblemático de Graham, em que a bailarina desliza num tubo de jérsei, construindo o espaço. Como ela dizia, "o espaço é nosso parceiro invisível". Eilber completa: "É pura emoção, expressa em movimentos viscerais".
Em "Satyric...", por contraste, "ela ri da sua própria imagem demasiadamente séria a respeito da arte". E o quarto solo, "Deep Song", é um lamento com conotações políticas, em reação à Guerra Civil Espanhola.
As outras peças a serem vistas por aqui são "Diversion of Angels" (1948), que mostra "infinitos aspectos do amor"; "Chronicle-Sketches" (1936) e "Acts of Light" (1981), que "traz lembranças dos quatro primeiros solos, é um olhar sobre toda sua carreira".

Fases de Graham
Segundo Eilber, as obras de Graham podem ser divididas em períodos. Nos anos 30, eram somente mulheres na companhia e o foco estava nas questões sociais e políticas do entreguerras. Já nos anos 40, o elenco tinha homens e mulheres e o maior interesse era o poder do indivíduo. Nos anos 60 e 70, amplia sua arte, com peças mais abstratas. Por fim, nos anos 80, apresenta uma arte "onde as experiências humanas e suas tragédias pessoais [Graham viveu anos deprimida e teve problemas de alcoolismo] foram incorporadas à sua dança".
Desde os anos 70 até sua morte, em 1991, Graham manteve uma relação com o fotógrafo Ron Protas, 50 anos mais jovem do que ela, para quem deixou sua herança. Por um período de dez anos, Protas assumiu o controle da companhia, começando enquanto Graham ainda era viva.
Naqueles anos, a companhia sobreviveu, em boa medida, pelo apoio de fãs como Jackie Onassis, Liza Minnelli, Donna Karan e Madonna. Apesar disso, em 1999, a companhia foi obrigada a vender seu espaço na rua 63 East, em Nova York.
Em 2000, Protas entrou em litígio com os diretores da companhia, impedindo que o repertório de Graham fosse dançado. A briga na Justiça se estende desde então. Até 2002, a companhia ficou sem poder dançar. Só em 2005 ganhou o direito de mostrar peças de Graham.

"Coleção de arte"
A diretora ressalta que "pela primeira vez na América ou, quem sabe, no mundo, uma companhia de dança é como um museu ou uma coleção de arte: uma coleção de grandes peças, que emocionam a platéia até hoje".
Martha, quando era viva, "mudava tudo para tornar uma peça mais forte para a nova geração, e nós continuamos nesse espírito". Como dizia ela, "nenhuma arte pode viver e passar intocável através de um período tão vital como esse. O homem agora se descobre a si mesmo como um mundo".

Graham Dance Company
Quando:
de 4 a 16 de novembro
Onde: Teatro Municipal do Rio (dias 4 e 5); Teatro Municipal de SP (dias 8 e 10); Teatro Nacional, em Brasília (dia 11); Teatro Castro Alves, em Salvador (dia 13); Palácio das Artes, em BH (dia 16)
Quanto: de R$ 20 a R$ 140


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