São Paulo, domingo, 11 de outubro de 2009

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"Eu tinha de provar alguma coisa a meu pai"

DO ENVIADO A BRUMADINHO

A seguir, declarações do empresário Bernardo Paz sobre temas levantados na entrevista que concedeu à Folha.

 


PAI E MÃE
Não podemos falar sobre nós mesmos sem voltarmos aos nossos antepassados, ao nosso DNA. Sou filho de um engenheiro que me ninou até os sete anos de idade com o Hino Nacional, da Bandeira, da Independência e de escoteiros...
Meu avô foi o general Manoel Paz, lugar-tenente do marechal Rondon, homem fundamental para fixar as fronteiras do país. Isso explica o patriotismo de meu pai. Já minha mãe era uma pessoa mais frágil, sensível, poeta, que também pintava. Dela eu herdei o gosto pela agudez da beleza.
Uma pessoa criada por esses dois polos antagônicos perde a noção de uma vida cartesiana. Eu fui transformado numa pessoa extremamente inquieta e ansiosa. A ponto de chegar aos 18 anos de idade em desespero. Eu não entendia como poderia ser alguém na vida, dentro das expectativas que foram criadas na minha cabeça. E é claro que isso te obriga a avançar sinais, a subir montanhas com mais rapidez, sem se aperceber que é uma coisa fora do normal.

CASAMENTO
Estou no quinto casamento. O primeiro foi em 1973. Fomos passar a lua de mel em Acapulco e nos puseram num hotel horrível. Peguei um jipe e fui procurar outro lugar. De repente, passei por um muro grande com luzes atrás. Parei, subi no jipe e vi, por cima do muro, um grande jardim, que era a coisa mais linda do mundo. Tinha uma orquestra e gente dançando. Aquele era o mundo que eu queria para todas as pessoas. Era o Acapulco Princess, que estava sendo inaugurado.

ESTILO
Eu nunca me preocupei com isso, sempre usei cabelo grande, desde os 16 anos. Meu estilo veio de um desligamento total... Ou pode ter sido alguma coisa da minha geração. Eu assisti ao festival de Woodstock e achei aquele movimento fantástico.
Eu era um rapaz muito bonito. Mas tinha vergonha da minha beleza. Havia um ditado de que pessoas bonitas não precisavam fazer muito esforço, em especial para conquistar pessoas do outro sexo. E que pessoas bonitas são burras...
Eu me via, então, não como um homem bonito mas como alguém inferior, que tinha de provar que era uma pessoa normal. Essa luta foi tão avassaladora que eu constituí 39 empresas e coloquei 9 mil pessoas para trabalhar. Fui um pioneiro em fazer negócios com a China e viajei pelo mundo todo.
Tinha que provar alguma coisa, provavelmente para meu pai. Mas isso passou com o tempo. Perdi a inibição, comecei a ter facilidade de locomoção nos países aonde ia, era admirado pelas pessoas e me transformei numa pessoa treinada.

EFICIENTE
Eu fui trabalhar com 15 anos de idade num posto de gasolina, depois numa butique de roupa, depois na Bolsa de Valores. Em todos esses lugares fui extremamente eficiente.
Cresci depressa como industrial, tornei-me um dos maiores do Brasil no final dos anos 70 e início dos 80, na área de minério. Mas enfrentei muitas dificuldades com todos esses planos que valorizaram o câmbio para segurar a inflação. Isso é uma tragédia para a economia do país e para quem exporta.

FUTURO
Inhotim não é uma coisa para ficar pronta, eu nunca vou ver isso ficar pronto, é uma das tristezas que eu tenho na vida. Isso aqui não tem fim.

POR QUE INHOTIM?
Lembra-se do jardim de Acapulco? Da beleza? Dos hinos? Da glória? Tudo para mim tinha que ter um sentido.


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