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Crítica/dvd/"Apocalypse Now"
Obra mítica de Coppola é melhor na versão "curta"
MARCOS STRECKER
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem sempre o "director's cut", a remontagem feita pelo próprio
cineasta de seus filmes, melhora o produto original. Um dos
maiores exemplos é "Apocalypse Now", filme emblemático e
brilhante que fechou a psicodélica década de 70 nos EUA.
Por isso, é uma ótima notícia
que seja relançado em sua versão original, de 1979, esse título
que Francis Ford Coppola havia "renovado" como "Apocalypse Now Redux" em 2001,
afastando o espectador de uma
obra original e pulsante.
Para lembrar: a novela "Coração das Trevas", de Joseph
Conrad, uma metáfora para o
fracasso da civilização europeia, transformada em barbárie na África primeva, já era um
título perseguido nos EUA desde os anos 30. Seria o primeiro
projeto revolucionário de Orson Welles em Hollywood -até
ser cancelado e virar um ícone.
Essa obra mítica, que impunha desafios para a adaptação
ao padrão vigente por sua estrutura narrativa, foi resgatado
por outro "enfant terrible" do
cinema, Coppola, que tentava
nos anos 70 reconstruir a
Hollywood dos grandes estúdios -mas em versão "autoral".
Coube a John Milius a tarefa
de verter a história do empreendimento colonial em xeque para a convulsionada
Guerra do Vietnã, que corroía
os valores da sociedade americana. As filmagens foram um
desastre. De um tufão que destruiu o set nas Filipinas, às
idiossincrasias geniais e megalomaníacas de Coppola, passando por um ataque cardíaco
do ator principal (Martin
Sheen) no meio das filmagens e
orçamentos estourados de forma espetacular, uma série catastrófica de eventos marcou
definitivamente o filme.
Mas esse sentido de urgência, as imperfeições, o sentido
quixotesco e romântico da
aventura também fizeram a beleza da obra, que foi amaldiçoada nos EUA antes de ser apresentada (ainda incompleta) de
forma triunfal em Cannes, onde ganhou a Palma de Ouro.
É todo esse patrimônio que
foi colocado a perder na versão
"remasterizada". Os 49 minutos adicionais incluíram digressões supérfluas e trouxeram
justificativas desnecessárias
para personagens que emergiam como figuras bíblicas e
mitológicas em meio à névoa.
O mistério, a inquietação, a
loucura da guerra e a aventura
lisérgica foram substituídos pela contemplação enfadonha.
Músicas adicionais "inéditas"
de Carmine Coppola, pai do diretor, não faziam falta no original. Além disso, a temerária remarcação de luz "plastificou" a
fotografia de Vittorio Storaro.
No cinema, assim como na
música, muitas vezes os pequenos ruídos da versão "vinil" reproduzem uma obra mais real.
APOCALYPSE NOW
Distribuidora: Universal
Quanto: R$ 19,90 (16 anos)
Avaliação: ótimo
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