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"Dama" teima em sobreviver
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Para quem viu o espetáculo em
suas muitas versões ao longo da
década, no Brasil e fora, mas sobretudo de dois anos para cá, o
curta "Dama da Noite", à primeira vista, parece não romper a superfície. O personagem do travesti Dana Avalon fala rápido demais, salta de uma idéia para outra sem dar tempo para que sejam
assimiladas.
Sobretudo, não chega a deixar
compor-se inteiramente a empatia do personagem com o público,
como acontecia no palco. É tudo
rápido como um clipe, nos seus 15
minutos; tudo cortado, editado.
Mas há ganhos. A imagem do
rosto do travesti, com seu sorriso
entre sarcástico e triste, fixa-se na
memória, não sai mais. Se o filme
perde um pouco das palavras e,
mais importante, do estofo emocional com que Gilberto Gawronski preenchia o vazio entre
as palavras, ele ganha os olhos do
ator e de Dana Avalon.
Aliás, não é possível distinguir
bem um do outro, já que o travesti
imaginado pelo escritor Caio Fernando Abreu não chega a se definir completamente como personagem, mesmo no filme, de
maior definição cenográfica. Pode ser uma "drag queen", uma
prostituta ou, ainda, qualquer ser
exilado da "roda-gigante", como
Dana Avalon chama a sociedade
das pessoas normais.
Vale registrar um pouco da história de "Dama". O texto é adaptado de um conto de Abreu. Suas
primeiras performances foram
ainda no Espaço Off, sala alternativa que marcou uma geração de
atores. Dois anos atrás, o espetáculo voltou inteiramente amadurecido. Amontoou prêmios - já
começa a acontecer com o curta- enquanto arriscava temporadas bem-sucedidas no exterior.
Não tem um enredo nem se pode falar em monólogo, propriamente. A "dama da noite" brinca,
questiona, desabafa, num diálogo
com um "boy", imaginário ou
não, com o público, consigo mesma ou com outros personagens, o
que é novidade do filme, que recorre a outros contos de Abreu.
O curta desnuda muito das aparentes fraquezas de "Dama", como dramaturgia. Mas mostra os
olhares fixos de fascínio, outros
de medo, os corpos suados e cansados, a solidão, o amor na zona
portuária, em imagens que demoram a desaparecer. O filme, como
a peça, teima em ser muito mais
do que aparenta.
Avaliação:
Filme: Dama da Noite
Roteiro e direção: Mário Diamante
Únicas sessões: hoje, às 21h, no
Cinearte 1 (tel. 0/xx/11/285-3696). Dias
17 e 21, às 19h, no MIS (0/xx/11/280-0896). Dia 18, às 15h, no Centro Cultural
São Paulo (0/xx/11/3277-3611)
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