São Paulo, Quinta-feira, 11 de Novembro de 1999
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"Dama" teima em sobreviver

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

Para quem viu o espetáculo em suas muitas versões ao longo da década, no Brasil e fora, mas sobretudo de dois anos para cá, o curta "Dama da Noite", à primeira vista, parece não romper a superfície. O personagem do travesti Dana Avalon fala rápido demais, salta de uma idéia para outra sem dar tempo para que sejam assimiladas.
Sobretudo, não chega a deixar compor-se inteiramente a empatia do personagem com o público, como acontecia no palco. É tudo rápido como um clipe, nos seus 15 minutos; tudo cortado, editado.
Mas há ganhos. A imagem do rosto do travesti, com seu sorriso entre sarcástico e triste, fixa-se na memória, não sai mais. Se o filme perde um pouco das palavras e, mais importante, do estofo emocional com que Gilberto Gawronski preenchia o vazio entre as palavras, ele ganha os olhos do ator e de Dana Avalon.
Aliás, não é possível distinguir bem um do outro, já que o travesti imaginado pelo escritor Caio Fernando Abreu não chega a se definir completamente como personagem, mesmo no filme, de maior definição cenográfica. Pode ser uma "drag queen", uma prostituta ou, ainda, qualquer ser exilado da "roda-gigante", como Dana Avalon chama a sociedade das pessoas normais.
Vale registrar um pouco da história de "Dama". O texto é adaptado de um conto de Abreu. Suas primeiras performances foram ainda no Espaço Off, sala alternativa que marcou uma geração de atores. Dois anos atrás, o espetáculo voltou inteiramente amadurecido. Amontoou prêmios - já começa a acontecer com o curta- enquanto arriscava temporadas bem-sucedidas no exterior.
Não tem um enredo nem se pode falar em monólogo, propriamente. A "dama da noite" brinca, questiona, desabafa, num diálogo com um "boy", imaginário ou não, com o público, consigo mesma ou com outros personagens, o que é novidade do filme, que recorre a outros contos de Abreu.
O curta desnuda muito das aparentes fraquezas de "Dama", como dramaturgia. Mas mostra os olhares fixos de fascínio, outros de medo, os corpos suados e cansados, a solidão, o amor na zona portuária, em imagens que demoram a desaparecer. O filme, como a peça, teima em ser muito mais do que aparenta.


Avaliação:    


Filme: Dama da Noite Roteiro e direção: Mário Diamante Únicas sessões: hoje, às 21h, no Cinearte 1 (tel. 0/xx/11/285-3696). Dias 17 e 21, às 19h, no MIS (0/xx/11/280-0896). Dia 18, às 15h, no Centro Cultural São Paulo (0/xx/11/3277-3611)

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