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CINEMA
Aos 55 anos, atriz interpreta a mãe de um político que pretende se candidatar à vice-presidência dos Estados Unidos
Streep está em personagem "intimidante"
DO "INDEPENDENT"
Conhecer Meryl Streep é algo
sentido como momentoso e especial. Não apenas porque suas
atuações são algumas das mais
hábeis do cinema moderno. Ela
manifesta um misto de tenacidade e consciência de si que lhe garante uma longevidade milagrosa, o que, por sua vez, a transforma naquilo que o cinema tem de
mais próximo da realeza.
Em carne e osso, a atriz de 55
anos pode ser brincalhona e indócil, mas está longe de agir como
rainha. Ela representa Eleanor
Shaw, uma senadora americana
mordaz, no remake dirigido por
Jonathan Demme do thriller "Sob
o Domínio do Mal". O filme é povoado em grande parte por homens inseguros, desagradáveis, e
Streep passa no meio deles como
se estivesse munida da foice do
Grande Ceifeiro (a Morte); em sua
presença, todos murcham. "Nunca consigo papéis como esse!", ela
afirma. "Eu passo por cima de tudo na primeira metade do filme."
Esse exibicionismo e o prazer
infantil que Streep manifesta nele
se evidenciam na cena em que ela
convoca uma sala repleta de políticos hesitantes a unir-se em defesa da carreira política de seu filho.
Ao final de seu monólogo, seu
personagem já encantou ou intimidou cada um dos presentes na
tela, sem falar na platéia. "Essa cena me lembrou das reuniões de
roteiro nas quais os roteiristas
apresentam suas idéias aos executivos que vão entrar com milhões
de dólares. Já estive em algumas
reuniões do tipo, para dar apoio
moral a um amigo ou algo assim.
São fascinantes. A adrenalina corre a mil, a sala é repleta de defensores da pessoa que faz a proposta. Do outro lado estão empresários e advogados, impassíveis."
Percebendo que entrou no clima de alguém que está tentando
"vender" uma idéia, exatamente
como a situação que está descrevendo, Streep relaxa e se reclina
para trás na cadeira. "É uma questão de conseguir o que se quer.
Todo mundo entende isso; todo
mundo que tem família e que já se
sentou à mesa e tentou fazer sua
proposta vencer." Penso em como Streep deve ter presidido sobre sua família, os quatro filhos
com seu marido, o escultor Don
Gummer. É difícil imaginá-la perdendo uma discussão.
Talvez o papel em "Sob o Domínio..." pareça cair tão bem em
Streep porque tem tudo a ver com
performance, como já tiveram
tantos de seus outros papéis mais
complexos. A senadora Eleanor
Shaw nos traz à mente a mãe resoluta representada por Streep em
"Kramer vs. Kramer" (79). Também esteve ótima como a dona-de-casa relegada ao segundo plano, mas com anseios profundos,
em "As Pontes de Madison" (95).
Streep gosta de diretores que
compartilham sua abordagem
despreocupada. "A chave é a tranqüilidade, ou a ilusão dela. Os atores não passam de crianças na hora do recreio. Quero me divertir.
Quero rodar uma cena realmente
boa, sair para almoçar, voltar e fazer outra cena realmente boa."
Tradução de Clara Allain
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