São Paulo, quinta-feira, 11 de novembro de 2004

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CINEMA

Aos 55 anos, atriz interpreta a mãe de um político que pretende se candidatar à vice-presidência dos Estados Unidos

Streep está em personagem "intimidante"

DO "INDEPENDENT"

Conhecer Meryl Streep é algo sentido como momentoso e especial. Não apenas porque suas atuações são algumas das mais hábeis do cinema moderno. Ela manifesta um misto de tenacidade e consciência de si que lhe garante uma longevidade milagrosa, o que, por sua vez, a transforma naquilo que o cinema tem de mais próximo da realeza.
Em carne e osso, a atriz de 55 anos pode ser brincalhona e indócil, mas está longe de agir como rainha. Ela representa Eleanor Shaw, uma senadora americana mordaz, no remake dirigido por Jonathan Demme do thriller "Sob o Domínio do Mal". O filme é povoado em grande parte por homens inseguros, desagradáveis, e Streep passa no meio deles como se estivesse munida da foice do Grande Ceifeiro (a Morte); em sua presença, todos murcham. "Nunca consigo papéis como esse!", ela afirma. "Eu passo por cima de tudo na primeira metade do filme."
Esse exibicionismo e o prazer infantil que Streep manifesta nele se evidenciam na cena em que ela convoca uma sala repleta de políticos hesitantes a unir-se em defesa da carreira política de seu filho. Ao final de seu monólogo, seu personagem já encantou ou intimidou cada um dos presentes na tela, sem falar na platéia. "Essa cena me lembrou das reuniões de roteiro nas quais os roteiristas apresentam suas idéias aos executivos que vão entrar com milhões de dólares. Já estive em algumas reuniões do tipo, para dar apoio moral a um amigo ou algo assim. São fascinantes. A adrenalina corre a mil, a sala é repleta de defensores da pessoa que faz a proposta. Do outro lado estão empresários e advogados, impassíveis."
Percebendo que entrou no clima de alguém que está tentando "vender" uma idéia, exatamente como a situação que está descrevendo, Streep relaxa e se reclina para trás na cadeira. "É uma questão de conseguir o que se quer. Todo mundo entende isso; todo mundo que tem família e que já se sentou à mesa e tentou fazer sua proposta vencer." Penso em como Streep deve ter presidido sobre sua família, os quatro filhos com seu marido, o escultor Don Gummer. É difícil imaginá-la perdendo uma discussão.
Talvez o papel em "Sob o Domínio..." pareça cair tão bem em Streep porque tem tudo a ver com performance, como já tiveram tantos de seus outros papéis mais complexos. A senadora Eleanor Shaw nos traz à mente a mãe resoluta representada por Streep em "Kramer vs. Kramer" (79). Também esteve ótima como a dona-de-casa relegada ao segundo plano, mas com anseios profundos, em "As Pontes de Madison" (95).
Streep gosta de diretores que compartilham sua abordagem despreocupada. "A chave é a tranqüilidade, ou a ilusão dela. Os atores não passam de crianças na hora do recreio. Quero me divertir. Quero rodar uma cena realmente boa, sair para almoçar, voltar e fazer outra cena realmente boa."


Tradução de Clara Allain


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