São Paulo, quinta-feira, 11 de novembro de 2004

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ISTO É MÚSICA?/!

Evento expande limites da arte pelo país

Festival no Rio junta as pontas da nova música eletrônica brasileira

DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem só no eixo Rio-São Paulo circula a música eletrônica nacional. Com a internet como ponte e a tecnologia (mais) barata como ferramenta, João Pessoa, Salvador, Belo Horizonte e Brasília, entre outras, já reivindicam seu lugar como celeiro de novos DJs, produtores e artistas multimídia.
Mapear esse circuito, por muitas vezes não-mapeável no sentido geográfico do termo, é a proposta do projeto Isto É Música?/!, que acontece a partir de hoje no Centro Cultural Banco do Brasil carioca e lá fica até o dia 5/12.
O hibridismo implícito no título do evento, que tem curadoria do antropólogo Hermano Vianna, tem lá seu propósito: apesar dos hermetos e tom zés da vida, há quem ainda ofereça resistência em considerar um laptop instrumento -para não falar das máquinas de costura do grupo Chelpa Ferro, que aproveita o show neste domingo para lançar seu segundo disco, "Chelpa Ferro II".
"Encaramos a música como qualquer evento sonoro", explica Sergio Mekler, 41, cujo instrumento mais "tradicional" no grupo multimídia, que já coleciona apresentações em bienais de São Paulo e Havana, é o teclado. "É a nossa forma de incorporar o cotidiano, de se apropriar de todos os sons que estão por aí."
Também adepto do casamento entre o orgânico e o digital, o paraibano Esmeraldo Marques, 27, foi escolhido para abrir o festival, hoje, com uma versão reduzida de seu Chico Correa Electronic Band. Ficam em João Pessoa os tambores e cinco de seus nove integrantes; descem ao Rio sintetizadores, pick-ups e samplers.
"Não quer dizer que o show é só eletrônico. Às vezes tem um pouco de acústico, de jazz de afro-brasileiro", avisa o músico, de formação erudita e popular, mas de convicção tecnológica. "Hoje, tudo passa pelo processo [de produção] digital, mesmo a música acústica. E algumas sonoridades dependem do equipamento que você está usando. Dá para criar ritmos que não são tocáveis. Isso é o legal da eletrônica", destaca.
Parte da vertente mais politizada também vai dar as caras no Isto É Música?/!. Entre os grupos que defendem a tecnologia como instrumento de democratização da arte estão os paulistas do Satã Bárbara, o mineiro Esquadrão Atari e o coletivo reficense Re:combo.
"Costumo dizer que usamos computadores porque somos pobres. Se tivéssemos dinheiro infinito, contrataríamos músicos, compraríamos instrumentos, faríamos tiragens enormes de discos de vinil", conta Daniel Werneck, o Danelectro do Esquadrão Atari. "Tem também a maravilha que é o compartilhamento de arquivos. Você faz uma música aqui, depois conhece um húngaro no Soulseek, pega uma música dele, ele pega uma sua e toca em um night club da cidade dele... Tudo isso ainda é muito louco, muito novo, a revolução está só começando."


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