|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ISTO É MÚSICA?/!
Evento expande limites da arte pelo país
Festival no Rio junta as pontas da nova música eletrônica brasileira
DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem só no eixo Rio-São Paulo
circula a música eletrônica nacional. Com a internet como ponte e
a tecnologia (mais) barata como
ferramenta, João Pessoa, Salvador, Belo Horizonte e Brasília,
entre outras, já reivindicam seu
lugar como celeiro de novos DJs,
produtores e artistas multimídia.
Mapear esse circuito, por muitas vezes não-mapeável no sentido geográfico do termo, é a proposta do projeto Isto É Música?/!,
que acontece a partir de hoje no
Centro Cultural Banco do Brasil
carioca e lá fica até o dia 5/12.
O hibridismo implícito no título
do evento, que tem curadoria do
antropólogo Hermano Vianna,
tem lá seu propósito: apesar dos
hermetos e tom zés da vida, há
quem ainda ofereça resistência
em considerar um laptop instrumento -para não falar das máquinas de costura do grupo Chelpa Ferro, que aproveita o show
neste domingo para lançar seu segundo disco, "Chelpa Ferro II".
"Encaramos a música como
qualquer evento sonoro", explica
Sergio Mekler, 41, cujo instrumento mais "tradicional" no grupo multimídia, que já coleciona
apresentações em bienais de São
Paulo e Havana, é o teclado. "É a
nossa forma de incorporar o cotidiano, de se apropriar de todos os
sons que estão por aí."
Também adepto do casamento
entre o orgânico e o digital, o paraibano Esmeraldo Marques, 27,
foi escolhido para abrir o festival,
hoje, com uma versão reduzida de
seu Chico Correa Electronic
Band. Ficam em João Pessoa os
tambores e cinco de seus nove integrantes; descem ao Rio sintetizadores, pick-ups e samplers.
"Não quer dizer que o show é só
eletrônico. Às vezes tem um pouco de acústico, de jazz de afro-brasileiro", avisa o músico, de formação erudita e popular, mas de
convicção tecnológica. "Hoje, tudo passa pelo processo [de produção] digital, mesmo a música
acústica. E algumas sonoridades
dependem do equipamento que
você está usando. Dá para criar
ritmos que não são tocáveis. Isso é
o legal da eletrônica", destaca.
Parte da vertente mais politizada também vai dar as caras no Isto
É Música?/!. Entre os grupos que
defendem a tecnologia como instrumento de democratização da
arte estão os paulistas do Satã Bárbara, o mineiro Esquadrão Atari e
o coletivo reficense Re:combo.
"Costumo dizer que usamos
computadores porque somos pobres. Se tivéssemos dinheiro infinito, contrataríamos músicos,
compraríamos instrumentos, faríamos tiragens enormes de discos de vinil", conta Daniel Werneck, o Danelectro do Esquadrão
Atari. "Tem também a maravilha
que é o compartilhamento de arquivos. Você faz uma música
aqui, depois conhece um húngaro
no Soulseek, pega uma música
dele, ele pega uma sua e toca em
um night club da cidade dele...
Tudo isso ainda é muito louco,
muito novo, a revolução está só
começando."
Texto Anterior: Teatro: Bia Lessa remonta "Orlando" no Rio Próximo Texto: Incentivo: Lula anuncia isenção de impostos para livros Índice
|