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LITERATURA NO CINEMA
Divulgado por conta do documentário de Miguel Faria Jr., que estréia hoje, texto aborda a amizade
Poema inédito vem à luz com "Vinicius"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Avesso a elucubrações teóricas,
"Vinicius", o documentário de
Miguel Faria Jr. que estréia hoje,
tem o afeto e a amizade como dois
de seus protagonistas. Não por
acaso, as duas palavras estão em
"For Fred", singelo poema inédito
que Vinicius de Moraes escreveu
em 1974 para Fred Sill.
Panamenho de cidadania norte-americana, Sill trabalhou por 40
anos na multinacional do cinema
Paramount, hoje UIP. Enviado
pela empresa, morou no Rio entre
1963 e 67, quando se tornou amigo de Vinicius.
Transferido para Buenos Aires
entre 68 e 71, recebeu o poeta e seu
parceiro Toquinho várias vezes
em sua casa. "Vinicius dizia que
preferia dormir no chão do meu
apartamento do que na suíte de
um hotel, pois não gostava de ficar sozinho", conta Sill, 70, que se
radicou em Copacabana depois
de se aposentar nos EUA.
Em Londres, sua parada em 74,
Sill voltou a abrigar Vinicius. Durante uma noite, o poeta bebeu
uísque, ouviu música, viu um livro de fotos de Marilyn Monroe e,
ao amanhecer, saiu deixando o
agradecido bilhete em versos, em
que se refere às coisas que fez e
chama o alto e magro amigo de
"caniço pensante".
"Quando Vinicius morreu, escrevi uma carta para a família dizendo que imaginava que muita
gente tivesse poemas dele, mas
que, se quisessem, eu tinha mais
um. Não tive resposta, mas agora,
depois de ver o filme, resolvi entregar o poema, que é mais uma
lembrança pessoal", diz Sill, que
por anos teve o manuscrito emoldurado ao lado de sua mesa de
trabalho.
A pedido de Vinicius, Sill traduziu "Orfeu da Conceição" para o
inglês, mas a peça nunca chegou à
Broadway, como se cogitava nos
anos 60. Ele, que acompanhou o
amigo em várias noitadas boêmias ("Ele às vezes brincava: "Você é o único gringo que presta'",
conta), diz que gostou do filme,
mas que Vinicius talvez não gostasse de uma coisa. "No fundo, era
um tímido, não gostava que todas
as atenções estivessem voltadas
para ele", diz, com humor.
Mas, no filme, Vinicius é alvo da
atenção afetuosa de amigos, que
dão depoimentos em um clima de
informalidade, "um clima de
bar", segundo Miguel Faria Jr..
"Fiz o filme pensando em que
ele gostasse. Acho que ele não vai
puxar meu pé", satisfaz-se Faria
Jr., 60, que entrevistou Chico
Buarque, Edu Lobo, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Ferreira Gullar, Antonio Candido e outros.
Segundo ele, a idéia inicial era
fazer um filme de ficção, mas não
lhe soava bem atores interpretando pessoas que estão vivas ou que
morreram recentemente. Optou
por um documentário entremeado por números musicais e poemas recitados pelos atores Camila
Morgado e Ricardo Blat.
"Ao reler Vinicius agora, tomei
um susto ao ver camadas e camadas que eu nunca tinha percebido.
É uma obra que oferece muitas
possibilidades diferentes", diz Faria, que foi casado com Susana de
Moraes, filha do poeta, produtora
e entrevistada do filme. A trilha de
"Vinicius" já foi lançada em CD.
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