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Milhares de registros de MPB chegam à internet
Acervo do produtor Hermínio Bello de Carvalho estará disponível hoje à noite
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Com o propósito de preservar -mesmo que a princípio só
para ele e os amigos chegados-
um pouco da história cultural
do Brasil, o compositor, escritor, produtor, diretor de espetáculos e pesquisador Hermínio Bello de Carvalho guardou
em armários e gavetas um acervo de preciosidades que, agora,
para espanto do próprio colecionador, estará disponível na
internet.
O site www.acervohbc.com.br. entra na rede hoje à
noite. Traz mais de 10 mil itens
armazenados por Hermínio
nas seis últimas décadas. Com
recursos do Programa Petrobras Cultural, o arquivo do
múltiplo artista foi organizado,
catalogado e digitalizado.
Hermínio, 73, conta que, para poder consultar seu próprio
acervo, terá que se adestrar na
internet, ferramenta que afirma não dominar com precisão.
"Estou aprendendo com eles
[os produtores do site]. Estão
sendo colocadas em circulação
coisas que eu, sinceramente, já
não pensava que pudessem ser
mostradas", diz Hermínio.
Uma das jóias do acervo é a
reprodução, no original datilografado, da letra de Hermínio
para uma melodia de Tom Jobim (1927-1994). Composta na
casa em que o maestro morava
em agosto de 1964, ambos estimulados por muito uísque, como lembra o letrista, a canção é
absolutamente desconhecida.
Não foi gravada e Hermínio
não memorizou a melodia, não
localizada até hoje nos arquivos de Tom.
"Essa melodia se perdeu. Mas
isso já se passou comigo e com
Cartola. Quando ele morreu
[em 1980], tinha dado a letra de
"Camarim". Tempos depois, numa fita deixada por Cartola, foi
encontrada a música. Estava
prontinha."
Da noitada de música e pileque
participou até o poeta Carlos
Drummond de Andrade (1902-1987), possivelmente desperto
pelo telefonema na madrugada.
"Liguei para o Drummond a
fim de apresentar o Tom a ele.
Tom começou a dizer poemas
de Drummond. Foi nessa noite
que fizemos a canção, na euforia do uísque. E houve essa inconveniência de ligar para o
Drummond", conta Hermínio.
O site
O site é dividido em itens de
áudio, iconografia e texto. As
gravações trazem registros caseiros de música e conversa, interpretações inéditas, shows e
concertos que nunca viraram
disco. São centenas de canções,
com intérpretes de primeira linha, muitos já mortos -Elizeth
Cardoso, Jacob do Bandolim,
Donga, Dalva de Oliveira, Aracy
de Almeida, João Nogueira. Entre os vivos, Paulinho da Viola,
Elton Medeiros e João Bosco.
As fotografias servem como
referência ao trajeto de Hermínio na cultura nacional. São
centenas delas, que o mostram
na companhia de dezenas de
brasileiros e também da norte-americana Sarah Vaughan
(1924-1990), que se tornou sua
amiga quando visitou o Brasil.
O acervo reproduz desenhos,
caricaturas e quadros pertencentes a Hermínio e assinados
por artistas plásticos de destaque, como Di Cavalcanti, Heitor dos Prazeres, Nássara, Cássio Loredano, Chico e Paulo
Caruso e Hermenegildo Sábat.
A área de texto divide-se em
quatro: poesia, com trabalhos
de Hermínio publicados em livros, inéditos e manuscritos
originais; cancioneiro, com
parte da obra musical em parceria com compositores como
Cartola, Pixinguinha, Nelson
Cavaquinho, Paulinho, Elton,
Sueli Costa, Ivone Lara, Martinho da Vila, Roberto Frejat, Ismael Silva e Ataulfo Alves; crônicas, ensaios e material jornalístico editados e inéditos escritos nos últimos 50 anos; e correspondência trocada com personagens como Drummond,
Oscar Niemeyer, Isaurinha
Garcia e Carlos Cachaça.
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