São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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Curta do pintor Aguilar revela poeta

Documentário do artista sobre Julieta Bárbara, que morreu em 2005, abre ciclo "Retratos Brasileiros" na Cinemateca

Pouco conhecida do grande público, Julieta foi casada com Oswald de Andrade e o deixou para ficar com o crítico Mário Schenberg


SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nas mãos enrugadas, uma taça de vinho. As costas estão arqueadas pela idade. Aos 95 anos e com um olhar muito vivo, dona Julieta Bárbara conta como atravessou quase um século de vida observando figuras importantes da cultura brasileira.
Praticamente desconhecida do grande público, a ex-mulher do escritor Oswald de Andrade e do físico e crítico de arte Mário Schenberg, morreu em 2005 aos 97 anos.
Antes, porém, deixou um relato sobre o que viu e ouviu durante sua larga passagem pelo mundo. Ele está no documentário "Julieta É Bárbara", curta-metragem feito pelo artista plástico José Roberto Aguilar, em parceria com Piche Martirani e Lucilla Meirelles, em 2003, mas inédito até aqui.
O filme será exibido hoje, a partir das 20h30, na Cinemateca, dentro do ciclo "Retratos Brasileiros" (veja programação à esquerda). Na seqüência, haverá um debate com os realizadores, Rudá de Andrade, Ana Clara Schenberg e Dulce Maia.

Olhar quase banal
Ao lado dos homens ilustres com quem viveu, dona Julieta conheceu artistas, cineastas, escritores e revolucionários. Entre eles Orson Welles, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira e Luiz Carlos Prestes. Também pintou e fez poesia -reunida no livro "Dia Garimpo", publicado nos anos 30.
Numa narrativa simples, mas ao mesmo tempo emotiva, ela conta de forma quase banal acontecimentos importantes de sua vida.
Por exemplo, sobre o relacionamento com Oswald: "Quando eu o encontrei, ele estava triste, a Pagu tinha ido embora, e então ficamos juntos".
Ou como, anos depois, abandonou o autor modernista para ficar com Schenberg: "Pensei: Se eu gosto do Mário, não posso ficar com o Oswald. Então, eu fui com o Mário", diz.
Depois, ainda, sobre o ímpeto revolucionário das companhias de seu segundo marido, ligado ao Partido Comunista e perseguido por sua militância política. "Eles faziam reuniões para aprender a cozinhar, umas coisas meio bestas, eu sabia que eles não iam nunca conseguir fazer uma revolução."

Senso de humor
Aguilar conta que o que o impressionou durante as entrevistas para a produção do documentário foi o seu "senso de humor e a capacidade de dialogar com a tragédia".
E menciona como exemplos as passagens em que fala de perdas de pessoas queridas ou de como enfrentou o período em que Schenberg ficou preso.
Durante o filme, Julieta declama seus poemas e mostra seus desenhos, influenciados pela convivência com os artistas modernistas. Até hoje, eles jamais foram expostos. Segundo Aguilar, porém, está em estudo a possível realização de uma mostra dos mesmos na Pinacoteca do Estado.
Entre os entrevistados após a exibição do curta, estão Rudá de Andrade, filho de Oswald com Pagu, mas que passou boa parte da infância com dona Julieta, e Ana Clara Schenberg, filha dela com o físico.


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