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Curta do pintor Aguilar revela poeta
Documentário do artista sobre Julieta Bárbara, que morreu em 2005, abre ciclo "Retratos Brasileiros" na Cinemateca
Pouco conhecida do grande público, Julieta foi casada com Oswald de Andrade e o deixou para ficar com o crítico Mário Schenberg
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
Nas mãos enrugadas, uma taça de vinho. As costas estão arqueadas pela idade. Aos 95 anos
e com um olhar muito vivo, dona Julieta Bárbara conta como
atravessou quase um século de
vida observando figuras importantes da cultura brasileira.
Praticamente desconhecida do
grande público, a ex-mulher do
escritor Oswald de Andrade e
do físico e crítico de arte Mário
Schenberg, morreu em 2005
aos 97 anos.
Antes, porém, deixou um relato sobre o que viu e ouviu durante sua larga passagem pelo
mundo. Ele está no documentário "Julieta É Bárbara", curta-metragem feito pelo artista
plástico José Roberto Aguilar,
em parceria com Piche Martirani e Lucilla Meirelles, em
2003, mas inédito até aqui.
O filme será exibido hoje, a
partir das 20h30, na Cinemateca, dentro do ciclo "Retratos
Brasileiros" (veja programação
à esquerda). Na seqüência, haverá um debate com os realizadores, Rudá de Andrade, Ana
Clara Schenberg e Dulce Maia.
Olhar quase banal
Ao lado dos homens ilustres
com quem viveu, dona Julieta
conheceu artistas, cineastas,
escritores e revolucionários.
Entre eles Orson Welles, Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira e Luiz Carlos Prestes.
Também pintou e fez poesia
-reunida no livro "Dia Garimpo", publicado nos anos 30.
Numa narrativa simples, mas
ao mesmo tempo emotiva, ela
conta de forma quase banal
acontecimentos importantes
de sua vida.
Por exemplo, sobre o relacionamento com Oswald: "Quando eu o encontrei, ele estava
triste, a Pagu tinha ido embora,
e então ficamos juntos".
Ou como, anos depois, abandonou o autor modernista para
ficar com Schenberg: "Pensei:
Se eu gosto do Mário, não posso
ficar com o Oswald. Então, eu
fui com o Mário", diz.
Depois, ainda, sobre o ímpeto
revolucionário das companhias
de seu segundo marido, ligado
ao Partido Comunista e perseguido por sua militância política. "Eles faziam reuniões para
aprender a cozinhar, umas coisas meio bestas, eu sabia que
eles não iam nunca conseguir
fazer uma revolução."
Senso de humor
Aguilar conta que o que o impressionou durante as entrevistas para a produção do documentário foi o seu "senso de
humor e a capacidade de dialogar com a tragédia".
E menciona como exemplos
as passagens em que fala de
perdas de pessoas queridas ou
de como enfrentou o período
em que Schenberg ficou preso.
Durante o filme, Julieta declama seus poemas e mostra
seus desenhos, influenciados
pela convivência com os artistas modernistas. Até hoje, eles
jamais foram expostos. Segundo Aguilar, porém, está em estudo a possível realização de
uma mostra dos mesmos na Pinacoteca do Estado.
Entre os entrevistados após a
exibição do curta, estão Rudá
de Andrade, filho de Oswald
com Pagu, mas que passou boa
parte da infância com dona Julieta, e Ana Clara Schenberg, filha dela com o físico.
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