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Vergara explora Carnaval como protesto
Obra gráfica e fotos de artista que despontou na nova figuração ganha retrospectiva no MAM do Rio
SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Carlos Vergara não gosta de
estilo nem de entregar composições prontas para consumo.
Sua retrospectiva no Museu
de Arte Moderna do Rio dá a dimensão fragmentária dessa
obra. São paisagens quebradiças, gravuras que se completam
nos poros do papel fotográfico.
"Estilo é uma armadilha mais
do que tudo", diz Vergara, 67.
"Meu trabalho tem uma espinha dorsal, uma coerência interna, mas não um estilo, o que
me deixa mudar o que quiser."
E muda. Artista que despontou nos anos 60 entre os nomes
da nova figuração, a pop art engajada feita no Brasil, Vergara
assumiu depois fotografia e
gravura como suportes complementares, juntos no mesmo
discurso poético-político.
Em "Texto em Branco", um
dos primeiros livros de artista
produzidos em massa no país,
Vergara deixava quase toda a
página vazia, para que o público
completasse suas formas. No
canto de cada folha, mandou
imprimir uma marca vermelha
-a gota de sangue como símbolo daqueles anos de chumbo.
No espírito da época, que via
surgir a estética relacional de
Lygia Clark e Hélio Oiticica,
Vergara também buscava na
participação do público um
desfecho para suas proposições. Cada exemplar do livro
teria um destino diferente, embora sejam as originais, em
branco, as folhas nesta mostra.
Do mesmo jeito que seus negativos atacados por fungos foram ampliados com os sinais
coloridos da deterioração.
Grãos estourados demais serviram de matriz para suas gravuras, uma geometria construída
de sinais e marcas do tempo.
"A ação do tempo é incorporada", diz Vergara. "O acaso é
um dos grandes assistentes do
artista. Se ele não está aberto a
esse tipo de coisa, tem uma
operação muito restrita."
Cacique de Ramos
Sem restrições, a grade que
separa o público dos passistas
no Carnaval orienta a composição dos flagrantes fotográficos
da festa e depois ressurge como
traço definidor dos campos
cromáticos em suas gravuras.
Nos anos 70, Vergara estudou o Carnaval como se fosse
performance. No meio da festa,
que ele chama de ritual, descobriu o bloco Cacique de Ramos,
em que todos os integrantes se
vestiam da mesma maneira.
"A fantasia era recortada sobre o corpo, um pedaço de plástico e vinil cortado sobre a pele", lembra. "Body art é o caralho, body art é o Carnaval."
Nas fotografias da época, o
protesto político aparece aliado
à agitação feérica dos blocos.
Vergara acentua a harmonia
possível desse descompasso
montando imagens díspares lado a lado, como se fossem peça
única. "Me interessou mais
truncar a leitura", explica. "É
obrigar uma procura de nexo,
mesmo que o nexo não exista."
CARLOS VERGARA
Quando: abertura amanhã, às 19h;
ter. a sex., das 12h às 18h; sáb. e
dom., até as 19h; até 14/3
Onde: MAM-Rio (av. Infante Dom
Henrique, 85, Rio, tel. 0/xx/ 21/
2240-4944)
Quanto: R$ 8
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