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MÚSICA
Dupla Air volta em clima "paz e amor"
Em "Love 2", franceses usam imaginário tropical, em faixas como "African Velvet"
Jean-Benoît Dunckel diz, em entrevista à Folha, que duo pode vir ao país em outubro de 2010 -mas não se empolga muito com a ideia
BRUNO YUTAKA SAITO
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA
Já fazia dois dias do anúncio
da morte de Claude Lévi-Strauss, um dos mais importantes pensadores franceses do
século 20, e Jean-Benoît Dunckel, do Air, nome central da
música pop francesa atual, não
sabia de nada.
"Ele morreu?", perguntou
espantado o músico de 40 anos
de idade, que falou à Folha por
telefone, de Paris. "Não sabia
que ele estava vivo. É que, para
mim, ele tem sido parte tão sólida e fundamental da história
da humanidade..."
Dunckel vive no mundo da
lua, sem nenhum remorso.
Em
1998, ao lado de Nicolas Godin,
ajudou a fazer da sempre desacreditada música francesa um
item de exportação, com um álbum intitulado justamente
"Moon Safari" (safári na Lua).
Se a sonoridade retrô, propositalmente kitsch, é característica essencial do Air, eles acrescentam um tom "paz e amor"
ao sexto álbum, "Love 2".
É um disco "quente", como
diz Dunckel, em oposição a trabalhos anteriores, mais sombrios, como "10,000 Hz Legend" e "Pocket Symphony".
Para quem imediatamente
associa a sonoridade do Air a
uma versão moderninha do
muzak, do lounge ou, mais simplesmente, da música de elevador, vai levar um chacoalhão.
A melhor faixa, a instrumental "Be a Bee", por exemplo,
tem uma batida rápida que remete tanto às melhores bandas
do pós-punk (no estilo Joy Division) quanto ao famoso tema
de James Bond. "Adoraríamos
gravar uma música para algum
filme da série. Mas, você sabe,
não é fácil ser convidado", diz.
Cinema, aliás, é um campo
constantemente visitado pelo
Air. Fizeram a trilha de "Virgens Suicidas" (1999), de Sofia
Coppola, e atualmente trabalham no novo longa de Sam
Garbaski (de "Irina Palm"),
"Quartier Lointain" (área distante). Um bom jeito para entender o universo do Air é dizer
que fazem trilhas sonoras para
filmes imaginários.
Se "Love 2" fosse um filme,
qual seria? "Amor à Flor da Pele" [a climática história de
amor sofrido do chinês Wong
Kar-wai], aponta Dunckel.
Tristes trópicos
Apesar de dizer que gosta de
Os Mutantes ("ouvi pela primeira vez quando tinha uns 20
anos e me pareceu algo incrivelmente novo, psicodélico"),
Dunckel diz que a música "Tropical Disease" não tem nada a
ver com o Brasil nem com a tropicália. "É para falar de quando
você viaja para o exterior, conhece uma mulher, se apaixona
e volta para casa. É como uma
doença tropical."
Dunckel diz que o grupo pode vir ao Brasil em outubro, já
que a agenda do Air está livre,
mas não se empolga muito com
a ideia. "Para falar a verdade,
não me vejo no "mood" [clima]
de ir ao Brasil. Minha cultura é
diferente, não me vejo dançando nas ruas", diz, em tom de
brincadeira. "Gostaria de me
tornar um ser humano mais
aberto para todas as coisas."
LOVE 2
Artista: Air
Gravadora: EMI (R$ 30, em média)
Avaliação: bom
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