São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2010

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"A doença fazia parte do projeto de Deus para mim"

Para Raimundo Carrero, AVC após apogeu literário veio para ensiná-lo que é "apenas mais um escritor"

"A Minha Alma É Irmã de Deus", que ganhou o Prêmio SP de Literatura, trouxe reconhecimento inédito para o escritor

DO ENVIADO A RECIFE (PE)

Dois mil e dez será sempre um ano inesquecível para Raimundo Carrero.
Em 2 de agosto, "A Minha Alma É Irmã de Deus", o mais recente romance que publicou, venceu o Prêmio São Paulo de Literatura.
Carrero embolsou na ocasião R$ 200 mil. Ganhou ainda um destaque até então inédito numa carreira iniciada em 1975, com "A História de Bernarda Soledade".
"A Minha Alma...", que também ganhou o Machado de Assis, da Biblioteca Nacional, será lançado em breve na Romênia, Itália e Turquia.
"O prêmio teve uma repercussão enorme, o país inteiro comentou. Dei várias entrevistas depois, fiquei impressionado. Com certeza, é meu trabalho mais famoso."
Ao auge de sua carreira de escritor seguiu-se, quatro meses depois, o AVC.
Esta virada céu/inferno, tão típica nos inquietantes enredos de Carrero, é encarada por ele com humildade.
Trata-se, ele tem a certeza, de um projeto divino. É nisso que baseia a recuperação.
"Deus quis que eu passasse por isso. Talvez para que eu não me ache um grande artista, para que eu compreenda que sou apenas mais um escritor, finito, como tantos outros."
O embate entre os prazeres mundanos e o sagrado é um dilema antigo em Carrero, que se define como um "católico anarquista".
Muito antes das páginas recém-iniciadas de "Às Vésperas do Sol", já foi a inspiração de livros como "As Sementes do Sol" (1981) e "As Sombrias Ruínas da Alma" (1999), vencedor do Jabuti na categoria contos.
"Hoje em dia parece que ter religião é coisa de retardado mental. Na verdade, a fé em Deus é uma das mais belas manifestações da vida."
Carrero completa 63 anos no dia 20. A proximidade do Natal não passaria despercebida para ele.
A data o emociona muito. Neste ano, para evitar sobressaltos, fará uma celebração discreta com a família.
Só lamenta que a ceia deste ano não terá cerveja e uísque, proibidos agora.
Ao resmungo, como já esperamos, segue logo a piada.
"Dizem que o João Ubaldo e o Mario Prata também não bebem mais. É mesmo o fim dos tempos."
(MARCO RODRIGO ALMEIDA)


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