São Paulo, sábado, 11 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

CRÍTICA MÚSICA ERUDITA

Concerto mostra plasticidade de Brahms

Sentido de "economia e riqueza" dominou execução do "Concerto nº 2 para Piano" pela Osesp e Nelson Freire

SIDNEY MOLINA
CRÍTICO DA FOLHA

Foi Arnold Schoenberg (1874-1951) quem afirmou que aprendeu de Brahms (1833-1897) "a levar cada figura às últimas consequências". Esse sentido plástico de "economia e, no entanto, riqueza" emergiu na apresentação do "Concerto nº 2 para Piano" da Osesp, anteontem, na Sala São Paulo.
A orquestra foi dirigida pelo titular Yan Pascal Tortelier e recebeu como solista convidado o mineiro Nelson Freire, um dos mais destacados pianistas em atividade.
Brahms demorou mais de 20 anos para voltar ao gênero após o primeiro concerto.
Concluído em 1881, o "nº 2" é uma síntese da "variação em desenvolvimento" e mostra um controle na extensão e condensação das frases.
No primeiro movimento, piano e orquestra se equivalem, como se tudo pudesse ser trocado entre eles. Freire agregou força e densidade sem perder a naturalidade quase clássica do discurso. O ponto culminante da trama dá-se no segundo movimento, na seção central em mi maior, executada com coesão e senso de globalidade.
Mas foi no movimento lento que Freire assumiu o controle: comprimiu o espaço, inventou matizes, arredondou afetos e dialogou com um notável solo de violoncelo de Johannes Gramsch.
E, no "Allegretto Grazioso" final, o mineiro parecia antecipar a orquestração, já que os timbres do piano sugeriam as cores instrumentais das respostas na orquestra.
Uma turnê importante como a que a Osesp acaba de fazer pela Europa faz bem ao desenvolvimento musical.
Isso certamente pesou a favor na interpretação da difícil "Sinfonia nº 4" do inglês Ralph Vaughan Williams (1872-1958), que abriu o programa.
Tortelier mostrou conhecimento da partitura, cheia de fugatos, orquestrações inusitadas e contratempos. A convivência mais prolongada do maestro com a orquestra também parece ter sido musicalmente positiva.
É pena que a próxima temporada traga número menor de concertos regidos por ele.

OSESP E NELSON FREIRE

AVALIAÇÃO ótimo


Texto Anterior: Não Ficção
Próximo Texto: Karabtchevsky quer "repertório diferenciado" para Heliópolis
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.