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POLÊMICA
História vai render livro
Criação de galerista vira caso policial
PATRICIA DECIA
da Reportagem Local
A criação de um personagem fictício que se correspondeu, durante
nove semanas, com 163 homens,
transformou-se num caso de polícia, rendeu ao galerista paulista Fábio Cimino a acusação de "perturbação do sossego" e movimentou o
mercado de artes plásticas em São
Paulo neste mês.
Dois banqueiros (que não querem se identificar) estavam entre
os destinatários das cartas de Pedro Pedra, alter ego de Cimino que
se identificava como um antigo
amigo tentando reatar a amizade.
No entanto, os banqueiros enxergaram nos textos "insinuações
homossexuais e ameaçadoras" e
deram queixa no 34º DP, no bairro
do Morumbi (zona oeste de SP).
Cópias de nove cartas foram enviadas entre setembro e novembro
deste ano aos 163 amigos e conhecidos de Cimino. Escritas em tom
de intimidade, elas tratavam de
problemas de prisão de ventre, terapia, viagens, dúvidas existenciais
e continham, por exemplo, o relato
de quando Pedro encontrou seu filho transando com a empregada.
Outros destinatários das cartas
eram o titã Nando Reis, Tomás Larente, da agência de propaganda
DM-9, o artista plástico Ivald Granato, o colecionador Fábio Faissal,
o editor Charles Cosac e Wagner
Gataz, presidente da Associação
dos Psiquiatras do Brasil.
As cartas, enviadas sempre em
envelopes azuis, continham no remetente o número de uma caixa
postal na agência dos Correios em
Pinheiros (zona oeste de SP). A
idéia de Cimino era receber respostas a Pedro Pedra, e, após enviar dez cartas, publicar um livro
epistolar contando a história.
Depois de investigar por cerca de
um mês, segundo o delegado Edivaldo Faria, a polícia descobriu
que a caixa postal de Pedro Pedra
pertencia a Cimino. No dia 6 de novembro, quatro policiais civis foram à galeria Brito Cimino, no
Itaim, e intimaram o galerista a
prestar depoimento.
"O meu intuito era conversar
com as pessoas, visava a interação
com o incógnito. Tive as mais diferentes reações. Gente que recebia
as cartas, xerocava e mandava para
mais pessoas. Outros discutiam
com amigos, que também recebiam as cartas, quem seria o Pedro
Pedra", conta Cimino.
Porém uma outra visão está no
boletim de ocorrência, segundo o
qual as cartas possuíam "textos
ambíguos contendo conotações
sexuais e referências à morte".
Como exemplo são citadas as frases "Espero te encontrar com o Todo Poderoso" e "O que é a morte?
O que é a vida?", ambas retiradas
da carta de "dúvidas existenciais"
de Pedro Pedra.
Dois outros pontos também pesaram. Numa carta, Pedra afirma
ter pescado "um robalo de 43 quilos". Esse seria exatamente o peso
do filho de um dos banqueiros. Em
outra carta, Pedra afirma que está
tirando férias e irá visitar o destinatário da carta, frase tida como a
prova de que ele estaria se aproximando da família.
O temor provocado pelas cartas
provocou a vinda da mãe de um
dos banqueiros do Rio de Janeiro
para São Paulo. De acordo com o
boletim de ocorrência, ela ficou
um dia inteiro vigiando a caixa
postal de Pedra.
"Isso é muito triste. O Pedro Pedra acabou invadindo a casa dessas pessoas que nunca são invadidas, que têm grade na porta e carro
blindado. Peço desculpas para
quem se sentiu ameaçado ou incomodado, mas o Pedro Pedra foi
criado para o bem", afirmou.
A advogada de Cimino, Sônia
Rao, acredita que ele não será processado. "Não houve intenção de
perturbar o sossego, foi apenas um
mal-entendido", afirmou.
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