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Crítica/erudito
Quarteto Brasileiro de Violões faz gravação histórica de Albéniz
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
O disco é tão bom que até
dá receio de fazer um
elogio, para não prejudicar. Mas o mínimo que se deve dizer é que essa gravação da
"Suíte Ibéria", de Albéniz
(1860-1909), pelo Quarteto
Brasileiro de Violões, recém-lançada pelo selo americano
Delos, passa a ser uma das gravações de referência da obra-prima do compositor catalão.
Para ser bem claro: um registro
de interesse geral, não só para
os amantes do violão.
Há nisso uma justiça mais
que poética. Composta para
piano, "Ibéria" tem por dentro
uma espécie de violão ideal, sonhado, uma espantosa guitarra
espanhola que vai se dividindo
em outras à medida que a música progride, com suas mil fantasias timbrísticas e contrapuntísticas. E é justamente esse violão que se escuta agora,
na transcrição do Quarteto, como se fosse a tradução da tradução, reconduzindo a música
à sua origem.
A gravação coroa a trajetória
do grupo, mais conhecido hoje
como Brazilian Guitar Quartet.
De 2000 para cá, eles fizeram
mais de 200 concertos mundo
afora: EUA, Europa, Japão,
Hong Kong, Porto Rico. Onde
menos tocaram foi no Brasil
-só quatro ou cinco vezes-, o
que precisa ser reparado.
Da formação original participavam Everton Gloeden (do
Centro Tom Jobim) e Tadeu do
Amaral (principal responsável
pelas transcrições), mais Edelton Gloeden (USP) e Paul Galbraith (hoje em carreira solo).
Os dois últimos seriam substituídos por Edson Lopes (Conservatório de Tatuí) e Luiz
Mantovani (Universidade Estadual de Santa Catarina).
Foi Galbraith, inspirado no
arcaico "orpharium", quem desenvolveu um novo violão de
oito cordas, uma mais aguda
que a primeira corda do violão
clássico, outra mais grave que a
mais grave. Tocado em pé, como um violoncelo, esse violão,
ou melhor, um par desses violões, foi crucial para a elaboração do repertório do Quarteto.
Sonoramente, os violões juntos
se aproximam, assim, da gama
de um quarteto de cordas, só
faltando as notas mais agudas
do violino (acima do dó 5).
Resolvida a tessitura, faltava
criar o repertório. Nos três discos anteriores, o Quarteto gravou desde transcrições inéditas
de compositores brasileiros (o
"Quarteto de Cordas nš 2" de
Camargo Guarnieri, por exemplo) até as "Suítes Orquestrais"
de Bach. A experiência acumulada converge para essas transcrições de Albéniz, numa interpretação de tirar o fôlego, não
só pelo virtuosismo mais exuberante, em passagens rápidas
e ritmos sincopados, mas também pelo virtuosismo de outra
ordem, no controle muito fino
dos tempos e na qualidade especial dos timbres, em planos
sobrepostos.
Em 2000, o pianista Daniel
Barenboim tocou memoravelmente dois cadernos de "Ibéria" na Sala São Paulo. Seu Albéniz parecia um precursor genial dos modernistas Ravel e
Messiaen; e mais até do que Alicia de Larrocha, reverenciada
pelo Quarteto, é em Barenboim
que esse disco faz pensar. Eles
ficam, agora, nessa companhia,
sob o sol ideal de "Ibéria", e à
sombra de ninguém.
IBÉRIA
Artista: Brazilian Guitar Quartet
Lançamento: Delos
Quanto: US$ 13,29 (R$ 28,64, sem taxas), no www.cduniverse.com
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