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Morre Rohmer, pioneiro da nouvelle vague
Cineasta que esteve entre os criadores do movimento francês ficou conhecido por seu estilo filosófico e intimista
Eric Rohmer morreu ontem, aos 89, em Paris; diretor, que venceu o Leão de Ouro pelo conjunto da obra, tem três filmes inéditos no país
DA REPORTAGEM LOCAL
Morreu ontem em Paris, aos
89 anos, o cineasta francês Eric
Rohmer. Ele estava internado
há uma semana, mas não foi divulgada a causa da morte até o
fechamento desta edição.
Nascido Jean-Marie Maurice
Schérer em 21 de março de
1920, em Tulle (França), Rohmer foi um dos maiores nomes
do cinema e figura central do
movimento que ficou conhecido como nouvelle vague, ao lado dos diretores Jean-Luc Godard, Claude Chabrol e François Truffaut (1932-1984).
Rohmer era conhecido por
seu estilo intimista, filmes sobre desencontros amorosos
que colocavam a palavra no
centro da ação cinematográfica. Seus diálogos tomavam a
forma de divagações filosóficas.
Em artigo publicado ontem em
sua edição eletrônica, o jornal
"Le Monde" classificou a obra
de Rohmer como uma "concepção muito francesa da arte".
"Clássico e romântico, inteligente e iconoclasta, leve e sério,
sentimental e moralista, ele
criou o "estilo Rohmer", que sobreviverá a ele", disse ontem o
presidente francês, Nicolas
Sarkozy, em nota oficial, acrescentando que Rohmer foi um
"grande autor, que continuará
dialogando conosco e nos inspirando por anos e anos".
"Cada um de seus filmes era
um jogo compartilhado, com
regras próprias, em que cada
ator fazia sua parte", disse ontem Serge Toubiana, diretor da
Cinemateca Francesa.
Rohmer venceu o Leão de
Ouro pelo conjunto de sua obra
no Festival de Veneza, em
2001, e foi indicado ao mesmo
prêmio pelo filme "Os Amores
de Astrée e Céladon" em 2007,
ainda inédito no Brasil. Foi indicado uma vez ao Oscar, por
melhor roteiro, em 1971, por
"Minha Noite com Ela". Venceu também o Urso de Prata, no
Festival de Berlim, pelo filme
"A Colecionadora", em 1967.
Em seu texto publicado ontem, o "Le Monde" lembra ainda a "sutileza espiritual [de
Rohmer], seu gosto pela impertinência e pela liberdade", classificando o diretor como "representante do cânone do cinema francês" e, ao mesmo tempo, um "clássico contrariado".
De fato, Rohmer era considerado o mais conservador entre
os protagonistas da nouvelle
vague. Nas críticas que escreveu, defendia convenções do cinema clássico de Hollywood.
Também esteve entre os primeiros a reconhecer o impacto
da obra do britânico Alfred
Hitchcock no cinema mundial.
"Há em todos os meus filmes
algo que não é leve", afirmou
Rohmer em entrevista de 2007.
Cita entre suas maiores influências diretores como o norte-americano Howard Hawks,
o francês Jean Renoir e o italiano Roberto Rossellini. Na literatura, enumera entre seus autores preferidos o escocês Robert Louis Stevenson e o norte-americano Herman Melville.
Lembra-se também de "O
Estrangeiro", de Albert Camus,
livro que inspirou sua ideia de
um "presente no passado". "É
um pretérito simples, só que no
presente", disse Rohmer. "Não
marca a continuidade da ação,
mas o momento da ação." Antes de se dedicar às filmagens,
Rohmer foi crítico de cinema e
dirigiu a revista "Cahiers du Cinéma" de 1957 a 1963.
Sua obra cinematográfica se
divide em três fases: os "contos
morais", com seis filmes; "provérbios e comédias", com outros seis títulos; e "contos das
quatro estações". As obras desse último ciclo estão agora em
cartaz num festival do HSBC
Belas Artes, em São Paulo.
São inéditos no Brasil seus
três últimos filmes: "Triple
Agent" (agente tripla, 2004),
"Le Canapé Rouge" (o sofá vermelho, 2005) e "Os Amores de
Astrée e Céladon" (2007).
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