São Paulo, terça-feira, 12 de janeiro de 2010

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Morre Rohmer, pioneiro da nouvelle vague

Cineasta que esteve entre os criadores do movimento francês ficou conhecido por seu estilo filosófico e intimista

Eric Rohmer morreu ontem, aos 89, em Paris; diretor, que venceu o Leão de Ouro pelo conjunto da obra, tem três filmes inéditos no país


DA REPORTAGEM LOCAL

Morreu ontem em Paris, aos 89 anos, o cineasta francês Eric Rohmer. Ele estava internado há uma semana, mas não foi divulgada a causa da morte até o fechamento desta edição.
Nascido Jean-Marie Maurice Schérer em 21 de março de 1920, em Tulle (França), Rohmer foi um dos maiores nomes do cinema e figura central do movimento que ficou conhecido como nouvelle vague, ao lado dos diretores Jean-Luc Godard, Claude Chabrol e François Truffaut (1932-1984).
Rohmer era conhecido por seu estilo intimista, filmes sobre desencontros amorosos que colocavam a palavra no centro da ação cinematográfica. Seus diálogos tomavam a forma de divagações filosóficas. Em artigo publicado ontem em sua edição eletrônica, o jornal "Le Monde" classificou a obra de Rohmer como uma "concepção muito francesa da arte".
"Clássico e romântico, inteligente e iconoclasta, leve e sério, sentimental e moralista, ele criou o "estilo Rohmer", que sobreviverá a ele", disse ontem o presidente francês, Nicolas Sarkozy, em nota oficial, acrescentando que Rohmer foi um "grande autor, que continuará dialogando conosco e nos inspirando por anos e anos".
"Cada um de seus filmes era um jogo compartilhado, com regras próprias, em que cada ator fazia sua parte", disse ontem Serge Toubiana, diretor da Cinemateca Francesa.
Rohmer venceu o Leão de Ouro pelo conjunto de sua obra no Festival de Veneza, em 2001, e foi indicado ao mesmo prêmio pelo filme "Os Amores de Astrée e Céladon" em 2007, ainda inédito no Brasil. Foi indicado uma vez ao Oscar, por melhor roteiro, em 1971, por "Minha Noite com Ela". Venceu também o Urso de Prata, no Festival de Berlim, pelo filme "A Colecionadora", em 1967.
Em seu texto publicado ontem, o "Le Monde" lembra ainda a "sutileza espiritual [de Rohmer], seu gosto pela impertinência e pela liberdade", classificando o diretor como "representante do cânone do cinema francês" e, ao mesmo tempo, um "clássico contrariado".
De fato, Rohmer era considerado o mais conservador entre os protagonistas da nouvelle vague. Nas críticas que escreveu, defendia convenções do cinema clássico de Hollywood. Também esteve entre os primeiros a reconhecer o impacto da obra do britânico Alfred Hitchcock no cinema mundial.
"Há em todos os meus filmes algo que não é leve", afirmou Rohmer em entrevista de 2007. Cita entre suas maiores influências diretores como o norte-americano Howard Hawks, o francês Jean Renoir e o italiano Roberto Rossellini. Na literatura, enumera entre seus autores preferidos o escocês Robert Louis Stevenson e o norte-americano Herman Melville.
Lembra-se também de "O Estrangeiro", de Albert Camus, livro que inspirou sua ideia de um "presente no passado". "É um pretérito simples, só que no presente", disse Rohmer. "Não marca a continuidade da ação, mas o momento da ação." Antes de se dedicar às filmagens, Rohmer foi crítico de cinema e dirigiu a revista "Cahiers du Cinéma" de 1957 a 1963.
Sua obra cinematográfica se divide em três fases: os "contos morais", com seis filmes; "provérbios e comédias", com outros seis títulos; e "contos das quatro estações". As obras desse último ciclo estão agora em cartaz num festival do HSBC Belas Artes, em São Paulo.
São inéditos no Brasil seus três últimos filmes: "Triple Agent" (agente tripla, 2004), "Le Canapé Rouge" (o sofá vermelho, 2005) e "Os Amores de Astrée e Céladon" (2007).


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