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OSCAR NACIONAL
Francisco Weffort, ministro da Cultura, diz que a produção brasileira sempre precisará do Estado
"Cinema depende de leis de incentivo"
Lula Marques - 5.set.99/Folha Imagem
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O ministro da Cultura, Francisco Weffort, canta hino durante cerimônia em Brasília, em setembro |
da Reportagem Local
O ministro da Cultura, Francisco Weffort, não consegue vislumbrar um dia em que o cinema nacional andará com as próprias
pernas, sem leis de incentivo e
verbas estatais. "Acho que as leis
de incentivo podem até ser modificadas, mas terão de existir", diz.
A seguir, entrevista concedida
por Weffort à Folha, por telefone.
(DANIEL CASTRO)
Folha - O que o Grande Prêmio
Cinema Brasil significa neste
momento?
Francisco Weffort - Vejo dois
pontos importantes. O prêmio
cobre um conjunto de atividades
audiovisuais e joga luz em cima
do que o cinema tem feito nesses
anos todos. Não seria possível organizar um prêmio como esse se
tivéssemos só cinco filmes. A outra coisa é que entendo que o prêmio também é um espaço de legitimação do próprio cinema.
Folha - O premiação será
transmitida só pelas TVs públicas. O ministério negociou com
as grandes redes, com a Globo?
Weffort - Conversamos.
Folha - Houve interesse?
Weffort - Não. Isso pode vir
com o tempo. Esta primeira edição é uma experiência que pode
criar um mecanismo mais sólido.
Folha - A entrega do prêmio
ocorre em um momento em que
só se fala nos casos Guilherme
Fontes e Norma Bengell. Isso
não tira um pouco do brilho?
Weffort - Acho que não. Primeiro porque esses casos são apenas dois em mais de cem filmes.
Folha - Existem outros casos,
um deles de uma produtora
paulista, a ADL, que está no Tribunal de Contas da União.
Weffort - Esse caso já está encerrado. Devolveram o dinheiro
em 98 (cerca de R$ 50 mil). Estão
pensando que não há controle?
Tem controle, sim. Mijou fora do
penico, sai da sala. Se recebeu dinheiro público e não fez o filme,
sai fora do jogo.
Tivemos, de 95 pra cá, 114 longas-metragens e 80 curtas e médias. Somados, são quase 200. São
três casos (de irregularidades) em
quase 200. Acho que isso não empana o brilho da festa. Pelo contrário, a festa mostra que a área do
cinema está aí, que o pessoal está
produzindo. Quem não se enquadrar nas exigências da lei vai para
o Tribunal de Contas.
Folha - O produtor Luiz Carlos
Barreto disse que até o início de
99 havia algumas brechas na Lei
do Audiovisual. Uma delas permitia a venda de certificados do
audiovisual antes de o filme começar a ser rodado. A empresa
comprava R$ 500 mil em certificados e imediatamente revendia no mercado secundário por
R$ 200 mil, por exemplo.
Weffort - Mas todos os títulos
são negociados no mercado secundário. Nós é que estamos controlando nossos próprios títulos.
Desde março de 99, os títulos só
podem ser negociados após o filme estar pronto.
Folha - O ministério chegou a
receber informações de que intermediários ofereciam às empresas títulos de R$ 500 mil, por
exemplo, e a imediata recompra
por R$ 300 mil? Ou de que intermediários oferecem verba para
cineastas em troca de uma pesada comissão, que terá de ser
coberta com notas frias?
Weffort - Existem pessoas que
dizem coisas desse tipo. Mas ninguém me diz caso nenhum, porque, se dissesse, eu iria à polícia. É
preciso dar nomes, endereços.
Folha - Um dos grandes problemas do cinema nacional é a
comercialização, a exibição. O
cineasta faz o filme, mas não
tem dinheiro para divulgá-lo,
nem lugar para exibi-lo.
Weffort - Isso é realmente um
problema. Mas o outro lado do
problema é que está aumentando
o número de salas multiplex, de
uma maneira surpreendente.
A maior parte dessas salas novas são multiplex, que envolvem
um tipo de investimento ao qual o
investidor nacional não está habituado; ele tem a tradição da sala
de rua. Está havendo uma redefinição do mercado na área de exibição. Mas ainda faltam salas.
Folha - Mas não é apenas a falta de sala. Faltam mecanismos
que garantam recursos para comercialização e marketing. O cineasta faz o filme, mas não tem
dinheiro nem para fazer cópias.
Weffort - Como o cinema brasileiro parou no governo do Collor,
com a quebra da Embrafilme,
abriu-se um buraco. O cinema só
começou a se recuperar em 1994.
Então a grande ansiedade da área
era de produzir mais e mais, o que
acho correto, ainda hoje. Porém
era tal a ansiedade que o pessoal
não percebia a necessidade de
planejar a distribuição. Em regra,
o pessoal trabalhava pesado na
produção e na hora do lançamento não tinha mais dinheiro. O que
estamos fazendo é exigir que, na
apresentação do projeto, 20% do
orçamento se dedique ao lançamento do filme.
Folha - Existem hoje 80 projetos parados?
Weffort - Não. Existem cerca de
80 projetos em fase de finalização.
Abrimos uma linha de crédito no
BNDES, o Mais Cinema. São empréstimos com juros mais suaves.
Folha - O programa Mais Cinema prevê recursos para a construção e recuperação de salas.
Exige-se, como contrapartida,
uma reserva dessas salas para o
cinema nacional?
Weffort - Não. O que existe é lei
da cota de tela (que obriga cinemas a exibirem filmes nacionais
durante 49 dias por ano).
Folha - A lei é cumprida?
Weffort - É. As informações que
temos é que o cinema brasileiro
ocupa mais dias na sala de exibição do que a lei exige.
Folha - Existe a possibilidade
de se vincular a televisão à produção cinematográfica, a exemplo do que ocorre na Europa?
Na França, parte do faturamento das TVs vai para o cinema.
Weffort - Isso é uma fórmula
que se adotou na Europa. Acho
que aqui teríamos que fazer um
esquema de cooperação entre cinema e TV. Não seria o único caminho, mas é preciso quebrar o
isolamento entre essas duas áreas.
Começa a haver cooperação. A
Globo e as TVs públicas já fazem
alguma coisa.
Mas a Lei do Audiovisual cria
algumas dificuldades para que as
TVs produzam filmes. Isso nasceu de um temor de diretores de
cinema de que as televisões viessem a monopolizar o mercado. A
lei não abre facilidades para a TV.
A Lei do Audiovisual é dirigida ao
produtor independente. O benefício fiscal é dirigido ao produtor
independente, não às TVs. Estamos tentando resolver isso.
Folha - A lei não favorece a
produção de filmes caros?
Weffort - Não. Na média, os filmes nacionais custam R$ 2 milhões. Acho que deveríamos insistir mais nos filmes baratos. O que
cria uma indústria não é filme de
exceção, mas o filme de custo relativamente baixo, que com um
público relativamente pequeno se
paga e dá lucro.
Folha - Só se faz filme caro
porque o dinheiro não sai do
bolso do produtor ou diretor?
Weffort - Mas nem o barato ele
faria (se tivesse que colocar dinheiro do próprio bolso). Nas
condições de uma indústria que
não existe, e que tem que competir com a indústria americana, das
duas uma: ou você tem subsídios
do Estado ou não vai ter cinema.
Folha - E tem de ter cinema?
Weffort - Tem. Sabe por quê?
Porque o povo quer ver sua cara
na tela. Tem de ter cinema pela
mesma razão que tem de ter televisão, novela, porque o folhetim,
o romance e o cinema são narrativas típicas da construção da sociedade moderna.
Folha - Um dia o cinema nacional caminhará sozinho?
Weffort - Acho que leis de incentivo podem até ser modificadas, mas terão de existir.
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