São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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ANÁLISE
Iniciativa é operação oportuna de marketing

INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema

O Grande Prêmio Cinema Brasil é uma iniciativa de marketing oportuna. Os EUA têm o Oscar, a França tem o César, a Espanha tem o Goya etc., e o Brasil não tinha um prêmio nacional desde, salvo erro, os anos 70.
Esse é o tipo de operação que ajuda a fazer barulho, rende manchetes (positivas), dá um ar glamouroso e aproxima o cinema de outros meios de comunicação.
Por incrível que pareça, o nome pode ser um trunfo do evento. Apesar de um tanto turfístico, ele evita comparações constrangedoras com o Oscar, por exemplo.
O primeiro problema imediato do GPCB é saber quem premia quem. Pode parecer um detalhe. Não é. Nos festivais, a responsabilidade é do júri e da organização. O GPB optou por uma fórmula híbrida e tortuosa. Uma comissão escolhe os finalistas. Depois, um colégio de 287 membros elege o ganhador das categorias (filme, filme estrangeiro, direção, ator, atriz e série de TV). Nas demais, a comissão é quem elege.
O que é essa comissão? Quem faz parte do colégio eleitoral? Quem indica? Por quê? Por que o colégio escolhe melhor ator, por exemplo, mas não fotografia?
Em resumo: o público não saberá quem premia quem e, segundo, sob qual ponto de vista. Mas saberá que toda a história tem a ver com o governo. Isso é o pior que pode lhe acontecer: a suspeita de ser um prêmio chapa-branca.
Só para não deixar de lado as questões subjetivas, parece ridículo que a comissão tenha indicado "Por Trás do Pano", "Amor e Cia." e "Um Copo de Cólera" para concorrer a melhor filme, num ano em que houve trabalhos de originalidade e audácia. Exemplos: "São Jerônimo", "Santo Forte", "O Viajante", "Dois Córregos", "Coração Iluminado".
Esquecimentos e discordâncias fazem parte do jogo. O que seria desejável é que para o próximo ano se buscassem soluções mais claras para chegar a finalistas.
O maior achado é o prêmio Mário Peixoto, destinado à maior contribuição ao pensamento cinematográfico. Ali, concorrem de Jean-Claude Bernardet, da USP, a Vampeta, do Corinthians.
O prêmio especial é uma maneira esperta de dizer que o cinema não é uma atividade à parte no país e que só pode existir sadiamente na medida em que camadas sempre maiores e distintas da população participem de seu destino. Com todo respeito a Jean-Claude, eu sou mais Vampeta.


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