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ANÁLISE
Iniciativa é operação oportuna de marketing
INÁCIO ARAUJO
Crítico de Cinema
O Grande Prêmio Cinema Brasil é uma iniciativa de marketing
oportuna. Os EUA têm o Oscar, a
França tem o César, a Espanha
tem o Goya etc., e o Brasil não tinha um prêmio nacional desde,
salvo erro, os anos 70.
Esse é o tipo de operação que
ajuda a fazer barulho, rende manchetes (positivas), dá um ar glamouroso e aproxima o cinema de
outros meios de comunicação.
Por incrível que pareça, o nome
pode ser um trunfo do evento.
Apesar de um tanto turfístico, ele
evita comparações constrangedoras com o Oscar, por exemplo.
O primeiro problema imediato
do GPCB é saber quem premia
quem. Pode parecer um detalhe.
Não é. Nos festivais, a responsabilidade é do júri e da organização.
O GPB optou por uma fórmula
híbrida e tortuosa. Uma comissão
escolhe os finalistas. Depois, um
colégio de 287 membros elege o
ganhador das categorias (filme,
filme estrangeiro, direção, ator,
atriz e série de TV). Nas demais, a
comissão é quem elege.
O que é essa comissão? Quem
faz parte do colégio eleitoral?
Quem indica? Por quê? Por que o
colégio escolhe melhor ator, por
exemplo, mas não fotografia?
Em resumo: o público não saberá quem premia quem e, segundo,
sob qual ponto de vista. Mas saberá que toda a história tem a ver
com o governo. Isso é o pior que
pode lhe acontecer: a suspeita de
ser um prêmio chapa-branca.
Só para não deixar de lado as
questões subjetivas, parece ridículo que a comissão tenha indicado "Por Trás do Pano", "Amor e
Cia." e "Um Copo de Cólera" para
concorrer a melhor filme, num
ano em que houve trabalhos de
originalidade e audácia. Exemplos: "São Jerônimo", "Santo Forte", "O Viajante", "Dois Córregos", "Coração Iluminado".
Esquecimentos e discordâncias
fazem parte do jogo. O que seria
desejável é que para o próximo
ano se buscassem soluções mais
claras para chegar a finalistas.
O maior achado é o prêmio Mário Peixoto, destinado à maior
contribuição ao pensamento cinematográfico. Ali, concorrem de
Jean-Claude Bernardet, da USP, a
Vampeta, do Corinthians.
O prêmio especial é uma maneira esperta de dizer que o cinema
não é uma atividade à parte no
país e que só pode existir sadiamente na medida em que camadas sempre maiores e distintas da
população participem de seu destino. Com todo respeito a Jean-Claude, eu sou mais Vampeta.
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