São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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FILMES

TV PAGA

Douglas Sirk ensina as virtudes da observação

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Às vezes , filmes de impacto não deixam grande coisa em nossa lembrança. Isso é até certo ponto pessoal, e não se pode dar um valor absoluto ao efeito que os filmes provocam em nós.
Mas, substitua-se a palavra lembrança por história, e temos aí algo mais conseqüente. Escrevendo sobre sua participação em "Palavras ao Vento", Lauren Bacall refere-se ao filme quase como um melodrama algo desprezível. É possível que ela tenha mesmo tratado "Palavras" como um trabalho de ocasião; em todo caso, Lauren é a menos interessante dos quatro protagonistas da história.
O fato é que o filme de Douglas Sirk não precisou esperar pelas belas críticas de R.W. Fassbinder para se tornar um dos grandes mestres do cinema dos anos 50, quase do lado oposto ao de um Samuel Fuller.
Fuller é impulsivo, direto, grosseiro, se necessário. Sirk é, ao contrário, refinado, delicado, calculista. Fuller é um cineasta do corpo, enquanto Sirk parece endereçar-se à alma dos personagens.
É o que busca captar em "Palavras ao Vento", quando aborda o autodestrutivo Kyle Hadley ou a alienada Marylee Hadley, os dois rebentos de um milionário texano (setor petróleo). Esqueçamos que filhos autodestrutivos de famílias milionárias texanas dão em presidentes de qualidade duvidosa.
Não é esse o ponto, e sim: como a cada enquadramento Sirk estala suas cores quase cafonas (mas nunca cafonas -e entre uma coisa e outra vai uma distância de léguas: a que separa a cafonice representada de um ex-aluno de Panovski, como Sirk), seus espelhos delirantes a duplicar os seres e a contemplá-los cruelmente, seus vidros separando os seres do mundo. É toda uma sutil maquinação que transforma por vezes histórias horríveis em obras-primas. Não é o caso aqui. Aqui temos uma boa história que se transforma em obra-prima.


PALAVRAS AO VENTO. Quando: hoje, às 21h, no Telecine Classic.

TV ABERTA

Clint Eastwood triunfa em "Meia-Noite no Jardim..."

Lua-de-Mel no Havaí
SBT, 14h.
(Parent Trap 3). EUA, 1989, 89 min. Direção: Mollie Miller. Com Hayley Mills. Terceiro filme da série (o primeiro é de 1961, o segundo, de 1986), com Mills sempre fazendo as duas gêmeas. Agora, como governanta de trigêmeas cujo pai está noivo de uma mulher muito chata. Já programado pela emissora com o título de "Operação Cupido 3".

Tempo de Ser Livre
SBT, 16h.
(Love Song). EUA, 2000, 88 min. Direção: Julie Dash. Com Monica Arnold. Garota negra se apaixona por rapaz branco e músico, que a incentiva a descobrir que tem uma bela voz. Inédito.

Waterworld - O Segredo das Águas
Globo, 16h05.
(Waterworld). EUA, 1995, 135 min. Direção: Kevin Reynolds. Com Kevin Costner, Dennis Hopper, Jeanne Tripplehorn. Num mundo tomado pelas águas, o mutante Costner busca o lugar onde ainda existe terra firme. Um grupo de seres terríveis tenta impedi-lo. Dito assim, parece que vai acontecer alguma coisa. Na verdade, a quantidade de água é inversamente proporcional à de ação. O filme foi um dispendioso, porém compreensível, naufrágio.

Comando de Elite
Record, 22h.
(The Lost Patrol). EUA,1999, 93 min. Direção: Joseph Zito. Com Gary Daniels. Oficial é convocado a encontrar grupo de soldados desaparecido numa fronteira dos países árabes, onde os EUA estão metendo o bedelho, como de costume.

O Vingador da Noite
Globo, 23h25.
(Midnight Man). EUA, 1994, 90 min. Direção: John Weidner. Com Lorenzo Lamas, James Lew, James Shigeta. Investigador de origem cambojana e homem de artes (marciais), Lamas investiga o massacre de gangue de cambojanos por membros da ramificação da Yakuza no Camboja. A luta não será suave, pois a Yakuza corta os dedos de seus próprios membros, mas tem métodos mais radicais ainda com os adversários.

Não Somos Anjos
SBT, 23h45.
(We're No Angels). EUA, 1989, 106 min. Direção: Neil Jordan. Com Robert De Niro, Sean Penn. Dois presidiários escapam e se refugiam num mosteiro. Embora um tanto esnobado, esse exercício de humor de Jordan é sempre original e explora bem o talento de seus atores.

Ligados pelo Perigo
SBT, 1h45.
(Do Me a Favor). EUA, 1996, 105 min. Direção: Sondra Locke. Com Rosanna Arquette, Devon Gummersall, George Dzundza. Estudante aplicado pede a uma desconhecida que lhe compre a bebida que um balconista está negando. Ela topa. A vida dele nunca mais será a mesma.

Criaturas
Globo, 3h10.
(Critters). EUA, 1986, 86 min. Direção: Stephen Herek. Com Dee Wallace Stone, Scott Grimes, M. Emmet Walsh. Aliens da pesada escapam de prisão intergaláctica e caem na Terra, em uma pequena cidade do Kansas, dispostos a transformá-la em um inferno.

Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal
SBT, 3h45.
(Midnight in the Garden). EUA, 1997, 155 min. Direção: Clint Eastwood. Com Kevin Spacey, John Cusack, Lady Chablis. Jornalista de Nova York (Cusack) vai a Savannah, Georgia, cobrir uma festa de fim de ano do milionário Spacey. As coisas mudam: como o milionário mata seu amante, o jornalista permanece na cidade para cobrir os acontecimentos. Envolve-se com eles e, sobretudo, com a estranha, mística, fantástica realidade local. Outro triunfo de Clint, que só não foi absoluto por não ter feito sucesso de bilheteria. Mas é uma beleza. (IA)

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