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BEBIDA
Vinho dos sonhos
Com grandes vinhos já degustados, quatro sommeliers de São Paulo contam quais são os goles desejados, de cifras estratosféricas, e compartilham experiências marcantes e frustrações
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Sommelier do Fasano há 17
anos, Manoel Beato, 44, orgulha-se de ter tomado "quase tudo de bom que existe no mundo". Cheval Blanc 1947? Três
vezes. Mouton-Rothschild
1945? Cinco vezes. Château
Margaux 1900? Três vezes.
Agradece "aos céus" e "aos
padrinhos do vinho", como ele
chama os clientes que se tornaram amigos e o convidam para
compartilhar os "momentos
mais incríveis", quando decidem abrir grandes vinhos.
Ter acesso a "adegas fabulosas" e contar com a generosidade dos clientes ajuda, e como,
mas não esvazia o baú de desejos. O repertório de Beato também tem lacunas. E quais são
esses vinhos dos sonhos?
A Folha fez esta pergunta ao
sommelier do Fasano e a outros três profissionais de São
Paulo: Alexandra Corvo, que
trabalhou no D.O.M. e hoje é
proprietária da escola de vinhos Ciclo das Vinhas; Tiago
Locatelli, do Varanda Grill; e
Carina Cooper, da Salton.
Os vinhos apontados são, em
sua maioria, raros e caros, com
valores difíceis de mensurar
(leia abaixo as escolhas).
"Às vezes, você até vê na internet um Cheval Blanc 1947,
um dos mais prestigiados, por
uns US$ 6.000 [mais de R$ 13
mil]. Só que, quando vai comprar, não tem. Só encontra, e
bem mais caro, em cavistas,
aqueles caras que, quando alguém solicita, pedem uns dias e
vão atrás, provavelmente em
adegas particulares", diz Beato.
Com menos tempo de estrada, mas grandes vinhos na bagagem, Tiago Locatelli, 28, prova que é possível sonhar com os
pés mais próximos ao chão.
Elegeu um vinho alemão, produzido num vinhedo muito pequeno e íngreme. Comparado a
um de seus preferidos -o caro
Château Palmer 1945-, fica
"barato" -cerca de US$ 400
(R$ 900). "Não vem para cá
porque é produzido em pequenas quantidades", diz Locatelli,
na profissão há cinco anos.
Sorte
Sommelière da Salton, Carina Cooper, 45, hesitou para escolher "só um". Acha que a sorte fala mais alto. "Tem tanta
coisa que a gente não imagina e
cai na mão. Estar aberto para
isso é mais divertido do que
querer um só", diz.
A sorte parece conspirar a favor dela. No ano passado, esteve em Jerez, na Espanha, para
participar da feira Vinoble. Foi
surpreendida com um convite
para uma degustação de várias
safras de Château d'Yquem.
"Nem dormi direito naquele
dia. Esse vinho me emocionou
inexplicavelmente."
Mas nem tudo é emoção. Até
os grandes vinhos têm seu dia
de vinagre. Quando ainda era
sommelière do D.O.M., Alexandra Corvo, 33, atendeu certa
vez "12 clientes super-ricos" de
uma confraria. "Cada um levou
uma garrafa. Abri o primeiro,
um Château Beychevelle 1961,
e estava morto! Sabe redução
de vinagre balsâmico no nariz?
Mas eles provaram e nem ficaram tristes. Tinham outros 11."
O primeiro contato de Beato
com um Pétrus 1961, estimado
em US$ 8.000 (cerca de R$ 18
mil), foi um desastre. "Estava
bouchenée [com aroma de rolha]. Ficou aquela frustração."
Nada que uma degustação,
anos depois, de três safras de
Pétrus (1982, 1970 e 1961) não
tenha compensado a espera.
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