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O vingador do passado
Philip K. Dick, autor de "Blade Runner", retorna do limbo com onda de adaptações de sua ficção paranóica para o cinema
ALEXANDRE MATIAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Onde você está enquanto lê estas palavras? Fisicamente, você
não saiu do lugar, mas a simples
leitura destas letras em seqüência
o levam para um ambiente mental indefinível -consciência, alma, ou simples efeitos de reações
químicas em nosso cérebro.
Esse terreno de sombras indefinidas é o território de preferência
do escritor norte-americano Philip K. Dick (1928-1982) -cuja
obra finalmente é vingada graças
à onda de adaptações para o cinema, como é o caso da mais recente
"O Pagamento", de John Woo,
que estréia hoje em todo o Brasil.
Desde as primeiras adaptações
de suas histórias para a telona
-"Blade Runner" (82), baseado
em "Andróides Sonham com
Ovelhas Elétricas?", e "O Vingador do Futuro" (90), inspirado em
"We Can Remember It for You
Wholesale"-, K. Dick, considerado um dos grandes autores de
ficção científica do século passado, vem sendo redescoberto.
Uma parte porque sua obra utiliza clichês como o futuro, robôs,
naves especiais e viagens no tempo para discutir conceitos filosóficos, existenciais e éticos, antecipando em 20 anos discussões que
hoje acompanham áreas tão diferentes quanto genética, propriedade intelectual, segurança, biotecnologia e comunicações.
Outra parte por causa do apoio
dos herdeiros do autor, que tornaram públicas suas intenções ao
assumirem, no final de 2003, o site
Philipkdick.com, antes editado
por fãs. Laura Leslie, uma das filhas do escritor, explicou à Folha,
por e-mail, que não houve nenhum atrito com os fãs que criaram o primeiro site.
"Queremos transformar a página tal como está hoje em um repositório único e extenso do legado do trabalho do nosso pai. Planejamos, entre outros, publicar
cartas que não foram incluídas
nos livros "Selected Letters", entrevistas tanto impressas quanto
em áudio e a maior parte de "Exegesis", um trabalho de 8.000 páginas", conta Leslie.
Além do site, 2004 ainda vê a republicação da versão oficial do livro "The Unteleported Man",
com o título de "Lies Inc.". Escrito
em 64 e 65, o livro só foi publicado
integralmente após a morte do escritor, mas sem incluir alterações
feitas por Philip em 1979. Além
disso, será reeditado nos EUA o livro "In the Pursuit of Valis, Selections from Exegesis", compilado e
editado pelo biógrafo do autor,
Lawrence Sutin. Nele, Dick tenta
desvendar o surto de esquizofrenia que o fez acreditar viver em
duas épocas, simultaneamente,
em março de 1974.
Mas é no cinema que o nome do
autor está fervendo. Segundo
Laura, entre os próximos livros e
contos a caminho de ser transformados em filmes estão "A Scanner Darkly" (que deve ser dirigido
por Richard Linklater), "Time
Out of Joint" (nas mãos do produtor Joel Silver), "Valis", "Radio
Free Albemuth", "Flow My Tears
the Policeman Said", "Ubik" e
"The King of Elves".
Mas a filha prefere se abster
quando questionada sobre o que
acha das adaptações para o cinema: "Entendemos que muitos dos
filmes não sigam a história original e incluam apenas idéias ou
conceitos dos livros, mas hoje vemos os filmes como uma forma
de introduzir K. Dick a um novo
público, que lerá seus livros e contos". Voltando para aquela área
específica entre o olho e a letra,
que você está prestes a sair.
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