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TEATRO
Montagem de Tonio Carvalho confronta beleza e atos inescrupulosos no papel interpretado por Eduardo Moscovis
Versão de "Tartufo" cutuca fanatismo e moral de aparências
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A moral das aparências, das varas curtas com as quais o dramaturgo francês Jean-Baptiste Poquelin, o Molière (1622-73), cutuca o fanatismo religioso e a burguesia em "Tartufo" ("Le Tartuffe", 1664) ganha contornos mais
visíveis na montagem protagonizada por Eduardo Moscovis, que
estréia hoje temporada paulistana
no Cultura Artística.
O diretor Tonio Carvalho acha
oportuno ter um galã das novelas
interpretando um personagem
repugnante, amoral. Ao encantamento pela beleza física, diz ele,
segue-se a decepção pelo caráter.
"A repugnância física é aparente, enquanto a moral é interior.
Com o Eduardo em cena, o público está diante do belo, mas tem
que assimilar com ele a prática do
mal", diz Carvalho, que comandou a escola de atores da Globo,
onde conheceu Moscovis.
"Muitas pessoas mais preparadas para agir na sociedade são
preteridas por aquelas menos
qualificadas, mas que têm uma
bela aparência e são tratadas como celebridades", diz o diretor.
"Tartufo" é uma das comédias
satíricas de Molière, uma crítica
aos vícios da vida política, social e
religiosa. No século 17, o texto foi
censurado pela igreja e liberado
quase uma década depois com
modificações. Conta-se as artimanhas de um falso devoto, o personagem-título, acolhido na casa do
rico Orgonte (Ernani Moraes),
que se deixa fascinar para, quem
sabe, salvar sua alma.
Disposto a tirar partido de tudo,
Tartufo mobiliza a todos na família. Orgonte lhe oferece a filha Mariana (Leandra Leal) em casamento, mas ele vai se apaixonar
pela mulher do burguês, Elmira
(Vanessa Gerbelli). O sentimento
amoroso é uma fresta que permite notar as contradições humanas
do protagonista, aquém da explícita superfície do mau-caráter.
"É instigante como o riso em
Molière vem como conseqüência
do que a dramaturgia propõe, e
não como preparação do ator",
diz Moscovis, 35.
Cabe à empregada Dorina (Ana
Lúcia Torre) a comicidade mais
aberta, popular. Não menos inescrupulosa que os patrões, ela comete interferências decisivas no
rumo na história e também o faz
"em nome de Deus".
Carvalho e Moscovis (que trabalharam com Ana Lúcia em
"Norma", em 2002) atentam para
o discurso do fanatismo que também pretendem relevar no espetáculo, a espelhar conflitos do
mundo contemporâneo.
Um fanatismo que a encenadora Ariane Mnouchkine e a companhia Théâtre du Soleil fizeram
questão de enfatizar no "Tartufo"
que montaram em 1995, justamente no país de Molière, seis
anos antes dos ataques em 11 de
setembro nos EUA.
No Brasil, o personagem já foi
representado por Gianfrancesco
Guarnieri (1964), Jardel Filho
(1966) e Sérgio Mamberti (1985).
TARTUFO. Direção: Tonio Carvalho.
Cenário e figurinos: José de Anchieta.
Iluminação: Paulo César Medeiros. Com:
Vanessa Gerbelli, Sergio Módena,
Oberdan Júnior e outros. Onde: teatro
Cultura Artística - sala Rubens Sverner (r.
Nestor Pestana, 196, Consolação, tel. 0/
xx/11/3256-0223). Quando: estréia hoje,
para convidados, e a partir de amanhã
para o público (sex. e sáb., às 21h; dom.,
às 18h). Até 2/5. Quanto: R$ 40 e R$ 50
(sáb.). Patrocinador: BrasilTelecom.
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