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ILUSTRADA
José Murilo de Carvalho vence eleição na ABL
HENRI CARRIÈRES
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Depois de uma acirrada disputa
com o poeta e publicitário Mauro
Salles, 71, o historiador José Murilo de Carvalho, 64, conquistou
ontem a cadeira 5 da Academia
Brasileira de Letras, preenchendo
uma lacuna nos quadros da instituição carioca, que há 17 anos não
contava com um historiador profissional.
O mineiro obteve 19 votos -o
mínimo necessário-, contra 14
do pernambucano Salles e 4 do
jurista cearense Paulo Bonavides.
"Já há alguns anos que se fala
que nesta casa havia a necessidade de eleger um historiador. Desde a época em que nos deixou o
José Honório Rodrigues, esta casa
não tem o que se chama de historiador "tout court'", disse Ivan
Junqueira, presidente da ABL.
O historiador José Honório Rodrigues, que ocupou a cadeira 35,
morreu em 1987. Hoje, a ABL tem
membros que assinam livros de
história, notadamente o africanista Alberto da Costa e Silva e o especialista em Brasil Sérgio Corrêa
da Costa. Mas, do ponto de vista
institucional, são diplomatas.
Carvalho, que é professor da
Universidade Federal do Rio de
Janeiro, comemorou o resultado
na casa do amigo e acadêmico Cícero Sandroni, no Cosme Velho,
com outros imortais.
"Eu tenho agora três academias", disse Carvalho, referindo-se à universidade, à Academia
Brasileira de Ciências, da qual é
membro, e à ABL.
Para ele, a imortalidade é "sobretudo um desafio". Entre seus
planos para o futuro, está o resgate do passado da ABL. "A Academia está organizando um Centro
de Memória, e documentos são a
minha praia", brincou.
Formado em sociologia e política pela Universidade Federal de
Minas Gerais, com pós-graduação nos EUA e na Inglaterra, Carvalho é autor de pelo menos dois
clássicos sobre a história do Brasil
imperial: "A Construção da Ordem" (1980) e "Teatro de Sombras" (1988). Também escreveu
sobre a República ("Os Bestializados") e, mais recentemente, publicou "Cidadania no Brasil"
(2001), que lhe valeu, no começo
deste ano, o Prêmio Casa de las
Americas, do governo de Cuba.
"O meu aceno à Academia foi
atendido de modo explícito", disse o candidato derrotado à cadeira de Rachel de Queiroz, Mauro
Salles. É a segunda vez que ele
concorre a uma cadeira na ABL.
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