São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2004

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ILUSTRADA

José Murilo de Carvalho vence eleição na ABL

HENRI CARRIÈRES
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de uma acirrada disputa com o poeta e publicitário Mauro Salles, 71, o historiador José Murilo de Carvalho, 64, conquistou ontem a cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras, preenchendo uma lacuna nos quadros da instituição carioca, que há 17 anos não contava com um historiador profissional.
O mineiro obteve 19 votos -o mínimo necessário-, contra 14 do pernambucano Salles e 4 do jurista cearense Paulo Bonavides.
"Já há alguns anos que se fala que nesta casa havia a necessidade de eleger um historiador. Desde a época em que nos deixou o José Honório Rodrigues, esta casa não tem o que se chama de historiador "tout court'", disse Ivan Junqueira, presidente da ABL.
O historiador José Honório Rodrigues, que ocupou a cadeira 35, morreu em 1987. Hoje, a ABL tem membros que assinam livros de história, notadamente o africanista Alberto da Costa e Silva e o especialista em Brasil Sérgio Corrêa da Costa. Mas, do ponto de vista institucional, são diplomatas.
Carvalho, que é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, comemorou o resultado na casa do amigo e acadêmico Cícero Sandroni, no Cosme Velho, com outros imortais.
"Eu tenho agora três academias", disse Carvalho, referindo-se à universidade, à Academia Brasileira de Ciências, da qual é membro, e à ABL.
Para ele, a imortalidade é "sobretudo um desafio". Entre seus planos para o futuro, está o resgate do passado da ABL. "A Academia está organizando um Centro de Memória, e documentos são a minha praia", brincou.
Formado em sociologia e política pela Universidade Federal de Minas Gerais, com pós-graduação nos EUA e na Inglaterra, Carvalho é autor de pelo menos dois clássicos sobre a história do Brasil imperial: "A Construção da Ordem" (1980) e "Teatro de Sombras" (1988). Também escreveu sobre a República ("Os Bestializados") e, mais recentemente, publicou "Cidadania no Brasil" (2001), que lhe valeu, no começo deste ano, o Prêmio Casa de las Americas, do governo de Cuba.
"O meu aceno à Academia foi atendido de modo explícito", disse o candidato derrotado à cadeira de Rachel de Queiroz, Mauro Salles. É a segunda vez que ele concorre a uma cadeira na ABL.


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