São Paulo, quarta-feira, 12 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Crítica/música

Após 11 anos, Portishead volta adaptado aos novos tempos

Banda inglesa retorna com "Third"; faixa de abertura tem fala em português

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1997, Tony Blair chegava ao poder no Reino Unido, após quase duas décadas de governo conservador. A internet apenas engatinhava, MP3 era uma sigla que não queria dizer nada e, meu Deus, "Big Brother" não passava de um conceito literário. Em 1997, o Portishead era uma banda bem diferente da que se apresenta agora.
Após 11 anos, o Portishead, cultuado grupo inglês de trip hop, volta a lançar disco de estúdio. "Third" chega às lojas no final de abril, mas, no último final de semana, apareceu na net. À época dos discos "Dummy" (1994) e "Portishead" (97), a música pop vivia um momento de divisões bem definidas: de um lado, a celebração roqueira do britpop; do outro, a explosão hedonista da dance music.
Num canto para lá, o Radiohead lançava "OK Computer". Ao lado do Massive Attack, o Portishead desacelerava as batidas eletrônicas da dance music, criava climas sombrios, escuros, e dava forma ao trip hop.
Enquanto acompanhamos, de lá para cá, o desenvolvimento do Massive Attack, o Portishead sumiu. Para voltar agora -e adaptado aos novos tempos.
Ao ouvir "Third", percebe-se que a banda avançou, não ficou parada nos anos 90. Se antes as músicas do Portishead espelhavam as certezas ao redor, o novo disco traz uma saudável indefinição rítmica e temática -é o Portishead em época de rock-eletrônica; da discussão "quanto vale a música"...
Sabemos que vamos entrar num universo estranho logo no início. Uma voz falada, em português, inicia a primeira faixa, "Silence": "Esteja alerta para a regra dos três. O que você dá retornará para você. Essa lição você tem que aprender. Você só ganha o que você merece". (As frases remetem à Wicca, religião celta ligada à bruxaria.) "Silence" é lastreada por percussão e guitarra. Após dois minutos, aparece a voz de Beth Gibbons, doce e calma, um contraponto à paranóia instrumental; um ponto de foco em meio ao caos barulhento.
"Não sei o que fiz para te merecer/ Não sei o que farei sem você", ela sussurra em "Nylon Smile". "The Rip" é talvez o momento maior do álbum: a voz de Gibbons é reforçada num crescendo arrebatador.
O disco é tomado por melodias quebradas, que remetem ao dubstep de artistas como o inglês Burial (de "Untrue", o mais original disco de eletrônica lançado em anos).
A atmosfera de "Third" é quase esquizóide; são poucas as faixas, como "Deep Water", em que o Portishead tenta colocar alguma ordem no mundo. Eles sabem que, hoje, é impossível.


THIRD
Artista:
Portishead
Lançamento: em 28 de abril
Quanto: a definir
Avaliação: ótimo


Texto Anterior: "Watchmen" nas telas promete ser decalque do gibi
Próximo Texto: Banda se prepara para iniciar turnê
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.