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O abraço mortal
HELOÍSA SEIXAS
E agora? De onde brotará
a seiva capaz de fecundar
este coração marcado, esta
alma vazia? Nada há em
volta. Nada, senão o açoite
do vento e do sol na pele, o
torpor que paralisa o corpo, tornando a mente oca e
estéril. Para que, então, seguir em frente, passo após
passo, e atravessar as imensas areias da ampulheta que
se derramaram, criando o
deserto? Para quê?
Sabe que não conseguirá
- que já não adianta tentar. O melhor é ficar aqui,
não resistir mais. O melhor
é entregar-se ao solo quente
e receber, silente, o abraço
mortal das areias eternas.
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