São Paulo, Sexta-feira, 12 de Março de 1999
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Miramax coloca premiação do Oscar 99 sob suspeita

Divulgação
Cena do italiano a "A Vida É Bela", principal concorrente de "Central do Brasil"



O estúdio de "A Vida É Bela" , principal concorrente de "Central do Brasil", estaria exercendo pressão política e financeira ilegais para conseguir mais estatuetas


MARCELO DIEGO
de Nova York

A disputa do Oscar está sob suspeita. Um artigo da revista "New York", publicado nesta semana, diz que os estúdios Miramax estão exercendo pressões políticas e financeiras ilegais para conseguir o maior número de estatuetas possíveis para seus filmes.
Entre outros, a Miramax cuida da campanha publicitária de "A Vida é Bela", principal concorrente do nacional "Central do Brasil".
O Oscar é o principal prêmio cinematográfico no mundo, concedido anualmente pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. O Brasil nunca venceu um Oscar e está concorrendo a dois neste ano, ambos com "Central do Brasil", de Walter Salles: filme estrangeiro e atriz (Fernanda Montenegro).
A entrega dos prêmios será no dia 21 de março, em Los Angeles. Os dois principais concorrentes são "Shakespeare Apaixonado", com 13 indicações e campanha publicitária a cargo da Miramax, e "O Resgate do Soldado Ryan", 11 indicações e publicidade feita pela Dreamworks.
Segundo o artigo da "New York", assinado por Nikki Finke (prestigiada repórter nos EUA), a campanha da Miramax para convencer os 5.557 a darem prêmios para "Shakespeare" teria ultrapassado o limite da ética.
Segundo o artigo, a Miramax (que é um braço dos estúdios Disney) manteria em sua folha de pagamento alguns críticos de cinema com direito a voto na Academia. A revista dá os nomes: Warren Cowan, Dick Guttman, Gerry Pam e Murray Weissman.
A empresa teria pago uma festa no mês passado no clube Elaine's, em Nova York, em homenagem ao diretor de "Shakespeare", John Madden. Três membros da Academia teriam participado da cerimônia, o que não é permitido. Outros estúdios fizeram reclamações formais sobre o fato à Academia.
O lobby (pressão exercida) não é proibido, mas regulamentado (veja texto nesta página).
Sempre de acordo com as informações obtidas pela "New York", a Miramax estaria pagando um grupo de divulgadores para tentar convencer jornalistas dos EUA não somente a falar bem de "Shakespeare Apaixonado", como para rebaixar e criticar "O Resgate do Soldado Ryan", de Steven Spielberg.
Janet Maslim, colunista do tablóide "New York Post" e amiga de Spielberg, declarou que algumas de suas notas no jornal haviam sido oferecidas pela Miramax. O estúdio teria lhe assediado para que escrevesse contra Spielberg, o que ela não aceitou.
Um outro jornalista, pedindo anonimato, disse que foi procurado por Tony Angelloti, um agente da Miramax, que pediu a ele para escrever um artigo contra filmes de guerra, especialmente o de Spielberg. O jornalista não aceitou, e Angelloti desmente categoricamente a informação.
Segundo agências de notícias nos EUA, a Miramax teria tentado impedir a publicação do artigo da "New York", mandando cartas à redação.
"Nós não estamos, de nenhuma maneira, no negócio de compra de votos. Mas nós estamos determinados a promover nossos filmes da maneira mais competente", disse o presidente da Miramax, Mark Gill. O co-fundador da Miramax e um dos principais nomes da estratégia de marketing da empresa, Harvey Weinstein, negou uso de práticas ilegais para promover seus filmes.
"Eu nunca desceria tão baixo", afirmou, referindo-se ao suposto pedido para mancharem o nome de "Ryan". "Eu estaria escondendo meus próprios sentimentos quanto ao filme, que eu adorei." Weinsten diz que vai processar a revista "New York" e chamou a matéria de caluniosa e difamatória.
Na terça-feira, durante almoço de certificação aos concorrentes ao Oscar, em Los Angeles, Steven Spielberg afirmou que vai se manter "acima dos boatos".


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