São Paulo, sexta-feira, 12 de abril de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVRO/LANÇAMENTO

Viagem entre o céu e o inferno


Jornalista narra suas aventuras e tragédias pelo universo das drogas e da contracultura


DIEGO ASSIS
DA REDAÇÃO

"Se não pode viver como um astro de rock, pelo menos tente e viva como um roadie." Com essa frase, o jornalista Chris Simunek, 33, encerra o seu "Paraíso na Fumaça", viagem -nos dois sentidos- que realizou pelo submundo das drogas a mando da "High Times", tradicional revista maconheira dos EUA.
No roteiro de sua prosa, que segue a estrada de Jack Kerouac e Hunter Thompson, há paradas aparentemente tão díspares quanto um encontro de motoqueiros no meio-oeste americano, uma reunião anual da Rainbow Family ou uma excursão de garotos de colégio a Cancún.
Em entrevista por telefone, de Nova York, Simunek falou à Folha sobre suas experiências. Umas literárias, outras nem tanto.

Folha - O que exatamente você faz na "High Times"?
Chris Simunek -
Sou o editor de cultivo da revista. Temos uma sessão grande que ensina as pessoas a plantar maconha. Mas não escrevo os artigos, apenas contato os produtores e edito.

Folha - O que fez com que resolvesse trabalhar para a revista?
Simunek -
Quando consegui esse emprego eu já escrevia ficção. Achei que escrever sobre as drogas, nos EUA, não seria nada mau. De um lado você tem muitas pessoas que sofrem de problemas com o vício. De outro você tem a polícia tomando o caminho errado para resolver essa questão.

Folha - Países europeus vêm optando pela descriminalização de algumas drogas...
Simunek -
Não somos um país progressista. Nossos políticos têm medo de se aproximar muito do assunto. Se disserem qualquer coisa remotamente positiva em relação à maconha ou à legalização das drogas, outros pulariam nas suas costas e os acusariam de viciados ou coisa que o valha. Nós já vimos isso. A famosa frase do Bill Clinton: "Eu não traguei".

Folha - Você defende a legalização das drogas no seu livro?
Simunek -
Não quis escrever um manifesto pela maconha. Já existem muitos desses por aí. Acho que o espírito é mais o de um Kerouac, John Rechy ou Hunter Thompson. Você tem uma experiência e tenta explicá-la de modo a entreter o leitor e quem sabe até instruí-lo com alguma coisa.

Folha - Você também usou drogas enquanto escrevia?
Simunek -
Em algumas partes sim, mas não diria que estava chapado durante todo o processo. Não existe nenhuma poção mágica que nos transforme em um Kerouac. Maconha ou anfetaminas podem levá-lo a um outro estado de consciência, mas ao mesmo tempo podem arruinar tudo e fazer com que você só tenha vontade de assistir à TV ou algo do tipo.

Folha - Das histórias que conta, de qual delas você gostou mais?
Simunek -
Ter conhecido a Jamaica. Você sente um espectro tão amplo de vida. Há pobreza e criminalidade, mas, por outro lado, há essa iluminação quase religiosa dos rastafaris. A filosofia rastafari de certo modo beneficia a todos. Ame seu vizinho, viva e deixe viver... Isso apesar de eu quase ter sido assassinado lá!

Folha - Você nunca teve medo de ir parar na cadeia?
Simunek -
Sempre penso nisso. Na melhor das chances, seria um extremo inconveniente estar numa plantação de maconha e os policiais chegarem. Eu provavelmente conseguiria sair dizendo que sou jornalista, que não faço parte daquilo, mas não seria nem um pouco divertido.

Folha - Pretende continuar escrevendo sobre drogas?
Simunek -
Definitivamente não. Meu próximo livro, "No Easter", é uma história hilária sobre um rapaz de 22 anos que só vê significado em sua vida quando Nova York é atacada por um monstro parecido com o Godzilla!


PARAÍSO NA FUMAÇA: VIAGENS DE UM JORNALISTA DA HIGH TIMES. De: Chris Simunek. Editora: Conrad. Quanto: R$ 33 (192 págs.)



Texto Anterior: Festa: Lov.e resgata Carola e o leva para o parque
Próximo Texto: Trechos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.